domingo, 31 de outubro de 2010

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, VOTA BRASIL!

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HELDER SEMEDO

Estamos a poucas horas de sabermos dar ao Brasil o que achamos que merece. E o Brasil somos nós: brasileiros no interior ou no exterior. Porque mesmo no exterior nunca deixamos o coração ficar longe do Brasil.

Dentro de poucas horas iremos votar. Não importa ficar aqui apontando quem parece ou será melhor Presidente para o nosso país. Importa que saibamos e votemos em conformidade com o que sabemos. Com o que vimos e sentimos no último mandato presidencial de Lula da Silva. Muito melhorou.

Sabemos que não queremos voltar a ser uma coutada dos militares nem de grupos económicos ou outros que nos limitam e servem pobreza, nem dos EUA que estão com todos os sentidos e atenções sobre nós e outras nações da América Latina. Queremos ser donos do nosso petróleo, dos bens do nosso subsolo, do nosso mar e plataforma marítima, do nosso espaço aéreo, da nossa Amazónia, do nosso país. Queremos ver que os mais carenciados continuam arrumando empregos e continuam a ter mais poder de compra e assim contribuir para o nosso crescimento a todos os níveis.

Queremos mais educação e mais saúde. Queremos melhores polícias e menos violência. Queremos mais justiça e democracia. E isso, tudo isso, temos visto crescer durante os últimos anos. Queremos mais. Queremos continuar. Assim, quem não quer continuar?

Haverá os que não vão querer continuar, mas esses são minotários e pertencem aos que toda a vida nos exploraram e oprimiram, por isso são ricos.

É o Brasil que deve vencer. Esperemos que assim seja expresso na votação deste domingo.

Vota Brasil!
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sábado, 30 de outubro de 2010

O SIPAIO DO MPLA VISITOU A COLÓNIA ANGOLANA DE CABINDA

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ORLANDO CASTRO, jornalista – NOTÍCIAS LUSÓFONAS

O actual secretário de Estado para os Direitos Humanos em Angola, ex-ministro e futuro coisa nenhuma (quando deixar de ser útil ao regime do MPLA vai borda fora), Bento Bembe, esteve três dias na colónia de Cabinda para fazer um balanço que já levava escrito de Luanda, tal como manda a cartilha do regime e do seu presidente, não eleito, e que ocupa o lugar há 31 anos.

Dizer que Cabinda não tem na área dos Direitos Humanos “situações gritantes”, é o mesmo que dizer que o riacho que passa na Chitatamera (Huambo) é semelhante ao rio Kwanza, ou que Agostinho Neto é um dos maiores poetas da Lusofonia.

António Bento Bembe esteve em Cabinda e, tal como referiam as instruções “made in MPLA”, a única situação que lhe mereceu reparo (mal fora se o regime não lhe tivesse dito que concinha falar de algum problema) foi – atente-se - o “muito elevado custo de vida”.

É obra. Quando falou, no dia 3 de Abril, a propósito do oitavo aniversário da assinatura do Memorando de Entendimento do Luena, o homem que José Eduardo dos Santos traz com trela curta, explicou que durante o conflito armado era impossível falar-se em direitos humanos.

Segundo Bento Bembe, verificaram-se, contudo, nos últimos oito anos avanços significativos nesta matéria em todos os domínios, com destaque para a aprovação da nova Constituição da República de Angola, que – diz ele citando a cartilha do regime - prima pelo respeito pela vida.

A ser verdade o que diz Bento Bembe, fica provado que Cabinda não é Angola. Isto porque o secretário de Estado de Angola para os Direitos Humanos fala de avanços significativos e respeito pela vida humana em Angola. Ora, como o que acontece na colónia angolana de Cabinda (protectorado português até 11 de Novembro de 1975) é exactamente o oposto... é legítimo concluir que Cabinda não é Angola.

"Podemos afirmar que, desde 2002, Angola registou avanços significativos no respeito dos direitos culturais, políticos, económicos, tradicionais, entre outros relacionados com os direitos humanos", salientou Bento Bembe, passando de facto (e, quem sabe?, de jure) ao lado das graves e aviltantes violações dos direitos humanos na colónia de Cabinda.

De acordo com o secretário de Estado, a melhoria das infraestruturas, a construção de escolas e estabelecimentos hospitalares e a livre circulação de pessoas e bens têm contribuído para o surgimento de uma nova cultura relacionada com o respeito pelos direitos humanos.

E se isto que Bento Bembe diz é apenas meia verdade no que a Angola respeita, em relação a Cabinda é totalmente mentira, muito embora o regime angolano, apoiado pelos seus vassalos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, continue a dizer o contrário.

Bento Bembe, atento ao seu papel de súbdito de sua majestade o rei Eduardo dos Santos, ressalvou contudo que "não se pode exigir que Angola respeite na sua totalidade todos os direitos humanos, uma vez que neste país se registou um conflito armado que durou mais de três décadas, e em oito anos é impossível mudar a mentalidade de um povo".

E se é impossível mudar a mentalidade de um povo, ainda mais impossível é mudar a mentalidade de ditadores, de partidos que estão no poder desde a independência, e dos sipaios que chegaram a chefes de posto e depois a ministros e presidentes pelas mãos de alguns lacaios das potências coloniais, como foi o caso de Portugal.

Diz Bento Bembe que é necessário que a população comece a cultivar uma cultura de respeito dos direitos humanos, que se consubstancia na dignificação de todos, combatendo o crime e outros males que afectam o desenvolvimento do país.

Mas como é que isso é possível num país corrupto, num país que tem um presidente não eleito, num país que continua a explorar de forma execrável os habitantes da sua colónia de Cabinda?

Ainda segundo Bento Bembe – importa não esquecer -, os cidadãos angolanos que se encontram detidos na colónia angolana de Cabinda, depois do ataque em Janeiro passado contra os militares angolanos que faziam seguranla à selecção do Togo, têm os seus processos criminais a serem tratados pela justiça angolana.

Bento Bembe não diz que essa justiça funciona na colónia de Cabinda, tal como em Angola, segundo a regra de ouro do regime do MPLA em que todos são culpados até prova em contrário. Em qualquer estado de direito, todos são inocentes até prova em contrário. Mas em Angola é o oposto. E assim é desde 11 de Novembro de 1975. Assim continuará a ser enquanto Angola não for um Estado de Direito.

O governante angolano reconheceu, em Março deste ano, a existência de violação de direitos humanos no país, mas pediu que seja também lembrado que Angola está em paz há apenas oito anos, depois de décadas de guerra.

É o que eu sempre disse. Oito anos é muito pouco. O MPLA precisa de, pelo menos, mais 30 anos para acabar com as injustiças. Até agora esses oito anos apenas serviram para que os poucos que têm milhões tivessem mais uns milhões, enquanto os milhões que têm pouco ou nada passassem a ter ainda menos.

Bento Bembe quer que seja dada a Angola o benefício da dúvida até que os opositores, tanto os de Angola como os de Cabinda, entendem quem são os seus donos.

E a tese de Luanda está a colher frutos na União Europeia, a ponto de Bruxelas ir financiar acções que ingenuamente presume que possam ajudar a resolver a questão dos direitos humanos. Ou seja, vai beneficiar o infractor e, dessa forma, lavar a sua consciência que, desde há muito, fede tal é a sua putrefacção.

Não nos esqueçamos, por exemplo, que no início deste ano, Bento Bembe disse que Luanda estava a desencadear esforços para que a FLEC fosse integrada na lista das organizações terroristas pela comunidade internacional.

Numa coisa Bento Bembe tem razão. Ninguém compreende o MPLA. E por isso é falso que a taxa estimada de analfabetismo seja de 58%, enquanto a média africana é de 38%. É falso que a malária continue a ser a causa de morte número um, seguida da tuberculose, da desnutrição, da tripanossomíase e a hipertensão.

É falso que a política habitacional seja um desastre, que a justiça esteja subserviente ao poder executivo e a corrupção esteja institucionalizada. Também é falso que ao invés de um Estado de Direito, Angola seja um Estado patrimonialista, mal governado, com um baixo índice de desenvolvimento humano, onde os jornalistas (apenas os que não escrevem a verdade oficial) ainda são presos.

É falso que mais de 80% do Produto Interno Bruto seja produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada tenha sido subtraída do erário público e esteja concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

É falso que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos Bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos Blocos petrolíferos, esteja limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

É falso que ao invés de promover a unidade nacional, o Governo aumenta o fosso entre ricos e pobres, promova as desigualdades e institucionalize a exclusão social.

“Quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade no seu agir, torna-se um eterno ditador”, afirmou (recordam-se?) o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, falecido em 2008, numa carta dirigida a António Bento Bembe e intitulada «A crise actual no enclave de Cabinda».

Pena foi, pena é, que Bento Bembe como exemplar sipaio saiba executar bem as ordens recebidas do chefe do posto, mas, é claro, não saiba ler... embora saiba contar, e bem, os... dólares.

29.10.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
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CAVACO, SÓCRATES E PASSOS CHEGARAM A ACORDO SOBRE OE *

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Foto Nuno Fox/Global Imagens

Acordo entre PSD e Governo obrigará a medidas adicionais

JORNAL DE NOTÍCIAS – 30 outubro 2010

O ministro das finanças, Teixeira dos Santos, afirmou que o acordo com o PSD vai custar 500 milhões de euros, que serão compensados com medidas adicionais, que o Governo vai apresentar durante a discussão na especialidade.

Na declaração que substituiu a anunciada assinatura conjunta do acordo entre Governo e PSD, Teixeira dos Santos acusou os social-democratas de tentar "dourar a pílula" de que os esforços poderia ser evitados, e acusou o partido de não ter a coragem de apresentar propostas no sentido de neutralizar as suas exigências.

"Este acordo tem um custo e esse custo representa cerca de 500 milhões de euros", afirmou Teixeira dos Santos.

O governante reafirmou a meta de 4,6% de défice em 2011 é primordial e que para isso "vai ser necessário adoptar medidas adicionais para neutralizar estes 500 milhões de euros que este acordo custa", não adiantando quais serão as medidas, e apenas que estas serão apresentadas durante a discussão na especialidade.

Apesar de defender o acordo, Teixeira dos Santos disse que o PSD "não teve a coragem de dar a cara", apresentando proposta para neutralizar o efeito das medidas e assumi-las.

"O Governo manifestou um sentido de responsabilidade e a sua coragem" disse, considerando que com este acordo se evita uma crise orçamental e um crise política.

* Título FB
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UMA VARA DE CRÁPULAS

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JORGE MONTEIRO ALVES – NOTÍCIAS LUSÓFONAS

Confesso que, não obstante as minhas mais de duas dezenas de anos de Jornalismo, houve um defeito que nunca perdi – começar um texto pelo título. Enfim, cada um é como é e a cão velho não se ensinam truques novos. No caso deste textículo, estarão vocês a perguntar: e por que não uma vara de porcos? Ora, porque uma vara já é de porcos e eu até simpatizo com os bichos, especialmente quando os vejo na grelha. Bom, já chega de trocadilhos de varas, porcos e grelhas. Fiquemo-nos pelos crápulas. Na terça-feira os crápulas voltaram a atacar.

Com Portugal numa situação miserável, com dois milhões de pobres e outros tantos a caminho, os barões do PS e do PSD não chegaram a entendimento sobre o Orçamento por uns miseráveis 230 milhões de euros, 46 milhões de contos em moeda antiga.

Em virtude dessa posição, como consequência imediata, as empresas portuguesas perderam, em Bolsa, qualquer coisa como 800 milhões. Mas há pior: a taxa da dívida disparou, o que acarretará prejuízos colossais.

Quer dizer, não chegaram a acordo por 230 milhões, mas obrigaram-nos a perder milhares de milhões, que vão ser pagos por todos. Os barões socialistas e social-democratas não sabiam que a sua recusa, a sua teimosia, os seus joguinhos politiqueiros, a sua estupidez, teria consequências muito graves para o País? Claro que sabiam. Mas também sabem que são impunes, que podem fazer o que lhes der na veneta porque Portugal, infelizmente, vive num regime completamente mexicanizado, de alternância de Poder entre PS e PSD.

Na terça-feira, socialistas e social-democratas cometeram um erro crasso. Estavam seguros da sua impunidade e enganaram-se. Ou ainda não perceberam que o simpático povinho Português afinal nãoé assim tão bonzinho? Não viram, ou não quiseram ver, os chefes da Armada, da Força Aérea e do Exército a assistirem fardados, no Parlamento, ao debate sobre o Orçamento? Devem andar mesmo muito distraídos. Se um dia destes derem por eles no Campo Pequeno não se admirem que eu também não.

Podem agitar o que quiserem o fantasma da União Europeia, dizer que se sairmos é o caos, mas o Povo já percebeu que estão a brincar. Mas qual caos? Pior do que estamos? E antigamente não vivíamos? Vivíamos, sim senhor. E já agora bem melhor. Se quiserem continuar assim, se quiserem dar cabo da democracia, que estejam à vontade que eu também estou. E se estão a contar com a Polícia, desiludam-se. Que eles estão tão fartos de os ver engordar como eu.
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'Face Oculta' - Mário Lino investigado por suspeitas de corrupção

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CARLOS RODRIGUES LIMA - DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 30 outubro 2010

Ministério Público de Aveiro utilizou declarações de Ana Paula Vitorino para abrir uma investigação. Crime de abuso de poder também pode estar em causa.

Corrupção ou abuso de poder. São estes os dois crimes que o Ministério Público de Aveiro pretende apurar se foram ou não cometidos por Mário Lino, ex-ministro das Obras Públicas. A investigação foi aberta na sequência das declarações prestadas por Ana Paula Vitorino, secretária de Estado de Mário Lino, no processo "Face Oculta", nas quais revelou ter sido alvo de recados por parte do antigo governante.

A informação da abertura de um inquérito contra o antigo ministro - que durante o dia de ontem nunca esteve acessível para atender o DN - foi divulgada, ontem, pelo jornal Sol, cujo subdirector Vítor Rainho é assistente no processo. Também Ana Paula Vitorino, actualmente deputada do PS, não respondeu às chamadas do DN.

Segundo o despacho do procurador de Aveiro, João Marques Vidal, "importa apurar se o então ministro Mário Lino teve uma interferência no processo de reestruturação da Refer ou outro tratamento de favor, factos susceptíveis de integrar, em abstracto, os crimes de corrupção ou abuso de poder".

Segundo Ana Paula Vitorino, o antigo ministro das Obras Públicas transmitiu-lhe recados cuja origem estava em dois "indivíduos" que o próprio Mário Lino qualificou de "muito importantes para o PS": Armando Vara e Lopes Barreira. Ambos, segundo as declarações prestadas por Ana Paula Vitorino estavam "muito preocupados com o comportamento inflexível do presidente do Conselho de Administração da Refer Luís Pardal para com a O2", a empresa de Manuel Godinho.

A antiga secretária de Estado revelou ainda que Mário Lino lhe disse que Manuel Godinho era "amigo do PS" e que ela, como elemento do secretariado nacional socialista (órgão executivo do partido), não poderia ficar indiferente a esse facto. Por outro lado, o Ministério Público afirma que Manuel Godinho prometeu a Armando Vara e a Lopes Barreira contrapartidas financeiras pelos contactos efectuados, assim como "donativos para o PS".

Todo este encadeamento de acontecimentos surgiu - tendo em conta o despacho de acusação - na sequência de queixas feitas por Manuel Godinho a Armando Vara e Lopes Barreira acerca do comportamento de Luís Pardal, enquanto presidente da Refer, no sentido de fechar a porta às empresas do empresário de Ovar.

Como Ana Paula Vitorino se recusou a demitir o presidente da Refer, acabou por ser o próprio Mário Lino a falar com Luís Pardal. Desta diligência foi dado conhecimento a Manuel Godinho que, dias depois, conseguiu uma reunião com o presidente da Refer, segundo consta do despacho de acusação.

Tendo em conta um dos crimes em causa, o de corrupção, fica a dúvida: se, em tese, Mário Lino na qualidade de ministro é suspeito de corrupção passiva, quem é o corruptor activo? Manuel Godinho? Ou o próprio PS, uma vez que seria, nesta versão, o beneficiário das actos de Mário Lino?

A ligação de Mário Lino ao processo (o ex-ministro foi ouvido como testemunha logo no início da investigação) abunda nos autos. Sobretudo nas escutas telefónicas realizadas a Armando Vara e Lopes Barreira, ambos acusados de três crimes de tráfico de influências. O nome do antigo ministro foi sempre invocado como a pessoa que poderia resolver os problemas de Manuel Godinho. Lopes Barreira, por exemplo, chegou a dizer ao telefone que iria encontrar-se com Mário Lino para tratar dos negócios do empresário de Ovar.

As conversas telefónicas interceptadas pela Polícia Judiciária de Aveiro revelam ainda suspeitas de que estariam a ser desenvolvidos mais contactos junto do poder político para obter vantagens para Manuel Godinho. Lopes Barreira, por exemplo, foi escutado a prometer ao empresário de Ovar negócios com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, dizendo-se "amigo pessoal" do secretário de Estado que tinha a respectiva tutela. À altura dos factos era João Mira Godinho, secretário de Estado da Defesa e dos Assuntos do Mar.

Entretanto, Rui Patrício, advogado que representa José Penedos, ex- -presidente da REN acusado de quatro crimes, declarou, ontem, que a acusação deduzida contra José Penedos no caso "não retira um milímetro à convicção e ao caminho" seguido para provar a sua inocência. "A acusação agora feita, que deixa alguma sensação de déjà vu, não retira um milímetro à convicção e ao caminho da defesa de José Penedos", disse à Lusa Rui Patrício. Ao todo, o MP acusou 36 arguidos - 34 pessoas e duas empresas - por associação criminosa, corrupção, participação económica em negócio e tráfico de influências, entre outros.
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HORA DE INVERNO - Relógios atrasam uma hora na madrugada de domingo

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DESTAK – LUSA

Os portugueses vão poder dormir mais uma hora na madrugada de domingo, devido aos relógios atrasarem uma hora quando forem 02:00 em Portugal Continental e na Região Autónoma da Madeira, dando início à hora de inverno.

Na Região Autónoma dos Açores, a mudança será feita à 01:00 da madrugada de domingo, passando para a meia noite, segundo o Observatório Astronómico de Lisboa.

“Toda a atividade anda à volta das horas de sol, sendo por isso que existem os ajustes horários”, explicou o professor Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa, adiantando que “Portugal não pode ter a mesma hora que a Rússia ou os restantes países da Europa central”.

Só da “longitude da Covilhã para o interior” é que Portugal tem uma aproximação da hora zero, em relação ao meridiano de Greenwich, “o resto do território continental já está no fuso horário menos um”, precisou à agência Lusa o professor.

No caso da Madeira “já está no limite do fuso menos um”, e as “ilhas dos Açores estão no fuso menos dois”, daí a diferença horária existente para o arquipélago mais distante do continente, acrescentou.

“Para termos uma hora de relógio o mais próximo possível da hora de sol, Portugal devia ter a hora menos um, em relação ao meridiano de Greenwich”, no caso do continente, reforçou o investigador.

No entanto, por “questões políticas, desde o início do século XX e devido às ligações comerciais e culturais com a Europa, Portugal adotou aproximar a sua hora à hora zero de Greenwich”, adiantou o professor.

O investigador explicou que a “Europa central adotou a hora de mais um, em relação a Greenwich”, e que seria “mais incomodativo para Portugal se tivesse a mesma hora que o resto da Europa”, porque “as pessoas andariam desreguladas em relação ao sol”.

O Governo adotou para Portugal continental e Madeira, nos anos 90, a mesma hora que a Europa central, igual a Bruxelas, mas o “impacto sobre a vida pública era terrível”, com o aumento de acidentes de viação e de trabalho, as crianças a renderem menos nas escolas e tudo porque as pessoas estavam com problemas de despertar, contou o professor.
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Dilma e Serra enfrentam os indecisos sem se enfrentarem um ao outro

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Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro – PÚBLICO – 30 outubro 2010

Não houve troca de acusações. Não houve sequer diálogo. O último debate entre os candidatos à presidência do Brasil foi diferente de todos os outros. De pé, num palco redondo, Dilma Rousseff e José Serra enfrentaram as perguntas de 12 indecisos, sentados em estúdio e vindos de todo o Brasil.

As últimas sondagens dão razões a Serra para estar preocupado e a Dilma para estar tranquila. Na pesquisa do Ibope, Dilma ganha por 14 pontos, na da DataFolha por 12.

Mas no debate de ontem à noite, Serra mostrou-se ágil e fluente e Dilma cansada e tensa. Os derradeiros aplausos reflectiram claramente estas prestações. Depois de Dilma completar os seus dois minutos de considerações finais, houve um aplauso morno. Serra teve a vantagem de fechar, e o aplauso foi entusiástico.

Dos 80 indecisos presentes, o Ibope — instituto de pesquisas — selecionou perguntas de 12. Dilma e Serra iam teclando num ecrã para os chamar ao acaso. Depois, o indeciso nomeado levantava-se, lia a pergunta no cartão e ficava de pé enquando o candidato, à beira do palco, lhe respondia. Seguia-se a réplica do candidato rival, e a tréplica do primeiro candidato.

Os dois concorrentes cumpriram o modelo sem nunca se interpelarem, circulando pelo palco de mãos atrás das costas enquanto o outro falava.

Os 12 temas das perguntas seleccionadas foram: funcionalismo e cidadãos, agricultura, corrupção, segurança, saneamento, educação, legislação trabalhista, saúde, meio ambiente, política social, impostos e previdência.

Corrupção de fora

Nem a pergunta sobre corrupção levou um candidato a referir-se directamente a outro. Serra fez uma série de menções indirectas ao “exemplo que tem de vir de cima”. Por exemplo: “Quando o chefe de governo passa a mão na cabeça é terrível porque as pessoas [acusadas de corrupção] vão achar que estão protegidas.”

A pergunta formulada de forma mais brutal foi sobre saúde. A indecisa queria saber se os pobres que procuram os serviços públicos vão continuar a ser tratados “como animais”. Serra, a quem cabia a resposta, fez um sorriso amarelo. E depois, como ex-ministro da saúde de Fernando Henrique Cardoso tratou de dizer que o problema é que nos últimos anos (do governo Lula) tinha acontecido “um recuo”.

Dilma prometeu “zerar” (levar a zero) problemas tão diferentes como saneamento e desmatação da Amazónia. Durante a resposta sobre políticas sociais, um problema momentâneo no cronómetro fê-la hesitar, e depois impacientar-se: “Essa daí…” Nas considerações finais começou por um desabafo: “Foi uma campanha dura. Em alguns momentos fiquei triste por um conjunto de calúnias veiculadas através da Internet.” Ataques que a acusavam de ser “abortista”. Mas fez questão de dizer: “Não guardo mágoa. Peço humildemente o voto.”

Serra, como em todos debates, terminou a oferecer a sua biografia de homem que combateu a ditadura e depois foi eleito várias vezes para cargos públicos.

O debate terminou em cima da meia-noite, hora limite segundo a lei eleitoral.
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UM ALERTA

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MARILENA CHAUI – DIRETO DA REDAÇÃO

O dia 29 passou, mas Marilena Chauí mantém o alerta: "Todos se lembram do que aconteceu na manhã das eleições Lula versus Collor: a montagem do seqüestro de Abílio Dinis por um grupo de supostos petistas e terroristas latino-americanos. Como era dia da eleição, ninguém podia ir aos meios de comunicação para refutar e esclarecer a opinião pública. Rádios, televisões e jornais noticiavam sem cessar, durante o dia inteiro, o seqüestro, exibindo camisetas e bandeiras do PT. Coisa desse tipo pode acontecer agora". Considerando o histórico da direita brasileira, o alerta permanece.

Todos se lembram do que aconteceu na manhã das eleições Lula versus Collor: a montagem do seqüestro de Abílio Dinis por um grupo de supostos petistas e terroristas latino-americanos. Como era dia da eleição, ninguém podia ir aos meios de comunicação para refutar e esclarecer a opinião pública. Rádios, televisões e jornais noticiavam sem cessar, durante o dia inteiro, o seqüestro, exibindo camisetas e bandeiras do PT.

Coisa desse tipo pode acontecer agora.

Chegou a meu conhecimento a seguinte notícia: uma pessoa teria ouvido num bar de São Paulo, na semana passada, uma conversa na qual alguém teria feito a seguinte declaração:

- Não se preocupe. Está tudo pronto para o dia 29. Vamos botar gente com camisetas e bandeiras do PT no comício do Serra e o pessoal tem ordem para atacar e tirar sangue.

E, novamente, se isso acontecer, não poderemos fazer coisa alguma no próprio dia 29, pois tudo o que dissermos será considerado propaganda eleitoral ilegal.

É fundamental que todos estejam alertas quanto a esse risco, divulguem essa notícia por todos os meios disponíveis e preparem a opinião pública para a possibilidade de um golpe desse tipo.

Certamente os organizadores da campanha de Dilma estão atentos e acompanharão os fatos do dia 29 e tomarão providências necessárias, caso a declaração ouvida em São Paulo se concretize em fatos. Isso pode até ter passado. Fiquemos alertas. A oportunidade não passou.

Agora é Dilma! Até a vitória!
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

NÃO HÁ BEM QUE SEMPRE DURE, NEM MAL QUE NÃO ACABE

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PORTUGAL DIRETO

UM DIA… OU MAIS

Presumamos que já aconteceu a todos, exceto àqueles que nunca andaram à chuva em dia de muito vento, com fortes ventos cruzados: esses dias de chuva em que de nada serve o chapéu de chuva e para além disso nem sabemos de que lado ela vem de encontro a nós. A maioria, porque pobretanas ou "remediados", que anda à chuva, decerto sabe do que aqui se fala. Nem sabemos de onde ela vem, a chuva, porque ora vem de uma direção, ora vem de outra, ao saber e ao sabor do vento.

Ver e ouvir falar os políticos de Portugal, os da Europa, os banqueiros, os gigantescos empresários, os que põem e dispõe e nos dominam, é o mesmo que aquela chuva: nem sabemos de que lado vêm contra nós. Ora dizem uma coisa, ora dizem outra, uns assim, outros nem por isso. Mudam de opinião e depois dizem que não, fazem de valores comezinhos valores importantes e os importantes decidem e opinam não valerem tanto quanto isso.

Esses mesmos são os que muitas vezes nos tratam como atrasados mentais e como a chuva que nos ensopa, de onde nem sabemos que vem, dizem os maiores disparates só para não ficarem calados revelando-se umas bestas que afinal conseguiram sem mérito chegar aos topos dos poderes de decisão. Neste caso está Durão Barroso, agora presidente da União Europeia. Esse mesmo, o tal que foi nomeado após ter sujado as mãos no Iraque e abandonado Portugal quando era primeiro ministro, traindo a palavra e os compromissos a que se comprometera com uns milhões de portugueses.

Foi esse que não há muitos dias se pronunciava sobre Portugal e a situação difícil que atravessa. Dizia sobre o descalabro em que o país caiu, também por sua responsabilidade enquanto governante que optou pelo abandono, que havíamos de vencer a crise e estes péssimos momentos. Declarou com ar vitorioso, optimista, que tudo acabaria em bem e que deviamos estar felizes, contentes, que afinal Portugal “pertencia ao Conselho de Segurança” da Onu e que “ganhámos no futebol”, referindo-se à vitória da seleção nacional já com novo treinador.

De concreto nada disse, a não ser estas bacoradas. A distância que vai entre a realidade miserável vivida dos portugueses e parasitas troca-tintas como Barroso é abismal. Enquanto portugueses passam por enormes dificuldades e carências, até alimentares, o marmanjo lá do topo, cai-nos em cima, tocado a vento, e encharca-nos com futilidades deste tipo, talvez pretendendo parecer optimista. Não. Decerto procurando assobiar para o lado e enganar-nos, como sempre o tem feito durante a vigência dos seus tempos no poder em Portugal e agora na Europa. São medíocres destes que fazem parte da elite política nacional e europeia. Aliás, globalmente é o que está a acontecer por imensos países. Oportunistas, medíocres, sanguinários, assassinos, ladrões, corruptos, falsários… Um exército lamentável que constitui uma elite representativa das piores espécies e índoles humanas, uns incapacitados, vigaristas, com falsos canudos ou de universidades onde já nem aprendem a falar muito bem, quanto mais serem pessoas de palavra e honestas. Nem precisam, queiramos ou não, os poderes estão tomados por eles e aplicam as sucessões uns dos outros, negoceiam eleições de cargos em danças de cadeiras onde sentam as suas incompetências, falsos sorrisos e hipocrisias. E mamam desenfreadamente os orçamentos nacionais e europeus. Tudo em prol do “mercado” e do capital a quem servem e lhes destina aqueles excepcionais cargos e reluzentes mordomias que todos nós acabamos por pagar com sangue, suor, lágrimas, e língua de palmo e meio. Por vezes com a nossa própria vida nas guerras que "inventam" por ordens e conveniênciaas dos carteis do armamento e tudo que lhe está associado.

Estes apátridas são imensos e assolam-nos por todos os lados. Nem sabemos de onde vêm. São como a chuva tocada a vento forte. Ensopam-nos cada vez mais na miséria e fazem-se optimistas com mensagens de engano, que nada valem: “Estamos no Conselho de Segurança”, “ganhámos no futebol”, como se isso enchesse a barriga, desse casa aos sem abrigo que se multiplicam, significasse emprego para os milhares de desempregados, como se não tivéssemos de viver e perspetivar uma sobrevivência cada vez mais difícil e inumana, como se não tivéssemos de assistir aos saques imorais, desavergonhados, dos da estirpe de Barroso, de Alegre, de Cavaco, de milhentos políticos que fizeram das suas vidas um maná de reformas imerecidas que vão acumulando com a legalidade que eles próprios aprovaram, legislando para as suas conveniências e abarrotar de grandes vivências e fortunas. Roubos que tornaram legais. E são estes os que têm os poderes em Portugal e na Europa. No mundo. São imensos e, como a chuva, nem sabemos de que lado vêm.

Só nos resta afastá-los desta “dolce vita”, demonstrando-lhes que não há bem que sempre dure, nem mal que não acabe.

Um dia…

“É IMPERDOÁVEL A FOME QUE AINDA AFLIGE OS ANGOLANOS”

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ORLANDO CASTRONOTÍCIAS LUSÓFONAS

O alerta é dos bispos católicos a propósito de mais um aniversário da (in)dependência. Desde 1975 quem manda é o MPLA e o presidente não eleito está no cargo há 31 anos

Os bispos católicos de Angola resolveram mais uma vez, embora nem sempre o tenham feito de forma clara e assumida, lamentaram a existência de insegurança e fome no país, numa nota pastoral emitida em Luanda para assinalar o 35º aniversário da independência, a 11 de Novembro, data desde a qual o MPLA se mantém no poder, tendo ainda como presidente da República, não eleito, José Eduardo dos Santos, há 31 anos no cargo.

Segundo a agência Ecclesia, os bispos, reunidos em assembleia plenária da Conferencia Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que decorreu de 20 a 27 deste mês, lamentaram a “insegurança que ameaça a vida humana”, dando como exemplo a fome, a violência e os acidentes rodoviários.

“Num país como Angola, riquíssimo em recursos alimentares, é imperdoável a fome que ainda aflige irmãos nossos nalgumas regiões. É urgente tomar as necessárias medidas para modificar tão dolorosa situação”, pode ler-se no documento.

Registe-se que no país que actualmente preside à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e que mereceu rasgados elogios da anterior presidência portuguesa, cerca de 70 por cento da população vive abaixo dos limites da pobreza.

Na nota, os bispos congratulam-se com o facto de as "muitas feridas" abertas no "coração dos angolanos" durante a guerra terem vindo a cicatrizar e faz votos de que o aniversário da independência "seja um jubiloso ponto de chegada e um auspicioso ponto de partida para mais e melhor na nossa vida nacional”.

Os bispos decidiram ainda que o “Dia da Reconciliação Nacional” passa a ser celebrado no dia 4 de Abril, precedido “por uma jornada de reflexão”.

A assembleia plenária da Conferencia Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) aprovou ainda uma Mensagem Pastoral referente ao primeiro ano do triénio pastoral 2011-2013, com o tema “Família e Matrimónio”.

Os bispos católicos esqueceram-se também de falar, por exemplo, no perfil do cliente angolano em Portugal, um dado objectivo que mostra uma outra face de Angola, a face dos poucos que têm milhões e se esquecem dos milhões que por terem tão pouco são obrigados a tentar encontrar comida nos caixotes do lixo.

E são esses angolanos de primeira que representam 30% do mercado de luxo português. São sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

Já o perfil do povo angolano, que representa 70% da população, é pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.

De acordo com as várias marcas contactadas pelo jornal Expresso em Novembro do ano passado, esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.

Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

Na joalharia de luxo, os angolanos também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Na altura, o representante em Portugal da Chaumet, Dior e H. Stern, falou do caso de "uma senhora angolana que comprou uma pulseira por 120 mil euros, e pagou com cartão de crédito, sendo o pagamento imediatamente autorizado pelo banco".

Pois é. Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Pois é. Entre milhões que nada têm, o importante são aqueles que vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna, compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex, ou que dão 120 mil euros por uma pulseira.

Isto para além da boa alimentação: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
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CONGO – ACABAR COM A CHAGA IMENSA QUE AFECTA TODA A HUMANIDADE

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MARTINHO JÚNIOR

No momento em que no Brasil ocorrem eleições, que trazem não só expectativas optimistas, mas também esperanças renovadas para os caminhos alternativos que a humanidade precisa urgente e “emergentemente” de trilhar, os relatórios mais pessimistas (e também mais precisos) vão fazendo luz cada vez mais intensa sobre a chaga aberta do Congo, a mais decisiva região de todo o continente Africano e uma das mais decisivas para a “Mãe Terra”.

As alternativas que se poderão arquitectar a partir da emergência dos BRIC, mas sobretudo dum Brasil integrado no imenso espaço Americano – Africano – Latino são extremamente sensíveis também para a RDC, o Congo, o Uganda, o Ruanda e o Burundi, enquanto alguns dos estados mais fragilizados e mais manipulados da Mundo e desde logo para a sorte deste pulmão tropical da margem leste do Atlântico, que com o Amazonas é fundamental para o equilíbrio ambiental do planeta.

O leste da RDC e a região dos Grandes Lagos de há décadas, (desde praticamente a independência do Congo há 50 anos) que em função de suas incomensuráveis riquezas, em função das tensões que se repercutem em todas as suas fragilizadas comunidades humanas, tem sido alvo da rapina das potências e das multinacionais, com ou sem o concurso dos estados da região, com ou sem o concurso das mais alucinadas quão doentias organizações rebeldes e numa barbárie constante que radia numa espiral sangrenta para as vastas regiões circunvizinhas, Angola incluída. (1)

Nesse espaço, querem fazer crer que as guerras são civis, mas as guerras têm-se interligado e as componentes externas têm a maior fatia das responsabilidades históricas. (2)

Poderiam ser muitos os exemplos de quanto toda essa imensa região tem sido vítima de manipulações ao sabor dos interesses e conveniências de outros, quer quando existem confrontações armadas, quer quando se respira um ambiente de ausência de tiros, (normalmente um intervalo entre os combates): mas para ser sintético e breve, basta recordar que nenhum país da região Central de África é produtor de armamento!

O poder daqueles que a partir do exterior do continente instigam às rebeliões contra natura e às guerras injustas em África, joga com a fragilidade dos Estados e das instituições políticas Africanas, pondo à prova os regimes, inclusive aqueles que à risca procuram empenhar-se em acordo com os cânones das “democracias representativas”, conforme se está a tentar na RDC.

O traficante de armas russo Vítor Bout teve ligações para fornecimento de armamento em toda a região e, em suporte das iniciativas de Savimbi, os seus meios correram aeroportos e pistas de Angola, particularmente nos vales do Cuango (por exemplo Cafunfo) e do Cuanza (Andulo). (3)

Victor Bout foi um dos “jogadores” importantes no âmbito do “tráfico dos diamantes de sangue de Savimbi”, assim como um dos homens das conexões de tráfico de riquezas naturais com base no Ruanda, onde possuía a “Compagnie Aérienne des Grands Lacs” e a “Great Lakes Business Company”.

Enquanto ele apenas se cingiu ao comércio de sangue e da barbárie em África, poucos se importaram que ele fizesse parte das grandes manipulações: os poderes que actuam à escala global, entre eles os poderes concentrados nos Estados Unidos e em França, não se envergonharam sequer que as aeronaves de Victor Bout circulassem impunes em todos os espaços aéreos, desde França à África do Sul, a distância que colocava bem no seu centro geográfico toda a região afectada pela “Primeira Guerra Mundial Africana”!...

Homens como Kwame N’Krumah, Patrice Lumumba, Che Guevara, Thomas Sankara, Laurent Kabila, foram em África dos primeiros a perceberem o que tinha origem na lógica capitalista que se impunha pela via da colonização, ou sob as bandeiras das deliberadamente mascaradas independências e por isso arriscaram tudo para através da luta procurar alterar o curso dessa tendência apontada para um abismo irreversível, que parece não ter fim.

Eles pagaram, duma maneira ou de outra, bem caro a ousadia de terem constituído a vanguarda da consciência crítica e rebelde em nome da humanidade e no sentido da vida.

Eles sabiam, conforme um dia sintetizou Agostinho Neto, que a “África é um corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço”, à custa do sangue, do suor e das lágrimas de milhões de Africanos apanhados pelo sorvedouro que tem sido sistematicamente instrumentalizado a partir sobretudo das potências ocidentais e das multinacionais que compõem a imensa colmeia que dá substância ao poderoso “lobby dos minerais”, em África tão estrategicamente elitista e estruturado a partir do pensamento e da obra de Cecil John Rhodes. (4)

Outros fora do Continente Africano têm também a mesma percepção que esses maiores e entre eles destaco Fidel de Castro, enquanto dirigente, estadista e filósofo incontornável e com ele o Povo Cubano, pelo seu exemplo sem paralelo, enfrentando com dignidade e perseverança tantos infortúnios, na expectativa de que a humanidade seja mais sadia e coerente.

Eles estão sempre com África no resgate da dignidade perdida…

A muito Britânica Universidade de Oxford tem sido uma das escolas obrigatórias para a formação das elites do Império Anglo Saxónico e também de algumas elites Africanas de feição.

Foi lá onde Cecil John Rhodes projectou a sua filosofia eminentemente imperialista e neo colonial e para que essa filosofia se perpetuasse no seu essencial muito para além de sua própria existência, formou a “Rhodes Scholarship”, apta à entrega de bolsas de estudos para eleitos que dessem continuidade à sua “engenharia e arte”, aglutinando o aprofundamento do conhecimento científico e tecnológico que cresceu a partir do início da Revolução Industrial. (5)

É com os olhos em Oxford que, a partir da “nação arco íris”, uma figura com tantas responsabilidades históricas como Nelson Mandela fomentou a “Mandela Rhodes Scholarship”, talvez por que se tornou necessário que às elites brancas e de olhos azuis, para se “perpetuar” a lógica que vem do berço, se acrescentassem outras elites de tez mais escura… (6)

Não é por acaso que quer o “lobby dos minerais”, quer os Bancos de família nele implicados (como os interesses dos Rockefeller, ou dos Rothschield, ou dos Morgan), quer homens da envergadura do clã Oppenheimer, ou de Maurice Tempelsman, ou de Étienne D’Avignon, suportam uma parte da vértebra humana fundamental através da qual se norteia tanto o Partido Democrata nos Estados Unidos, quanto o cartel dos diamantes à escala global, quanto algumas das implicações estratégicas que se vão reflectindo também na África Austral e Central, a começar na África do Sul…

Não é por acaso que o Democrata Bill Clinton é um “Rhodes Scholarship”, como não é por acaso que Thomas A. Shannon, que cursou em Oxford, é o Embaixador-delfim da Administração Democrata de Barack Hussein Obama para o Brasil! (7)

No momento em que fervem as eleições no decisivo colosso que constitui, do outro lado do Atlântico, o Brasil, dois contenciosos (para além de muitos outros que poderíamos enumerar) se esbatem especialmente sobre a RDC e os Grandes Lagos:

- Todos os relatórios sobre a fome no Mundo apontam que é nessa região onde subsistem dramaticamente os índices mais elevados de miséria humana, num pântano misto de terror, de guerra, de doença, de migração forçada e de morte. (8)

- É sobre essa região que se está a chegar à conclusão de se tornar “impraticável” apesar dos milhões de mortos e “deserdados da Terra”, até levar ao Tribunal Penal Internacional os crimes de toda a natureza praticados pelos contendores nos Kivus e nos países dos Grandes Lagos. (9)

De certo modo está-se já na decisiva batalha pelo acesso à água do interior do continente Africano e de todos os interessados e presentes, estão a ser os Africanos os que mais estão a perder, pelos impactos directos que sofrem, mas com eles, está também a perder toda a humanidade e também as próprias elites que se tornaram rapaces forjadas na lógica capitalista que tem estigmatizado a cultura humana após o início da Revolução Industrial, ao ponto de pôr em risco a vida tal qual a conhecemos sobre a Terra, senão o próprio planeta.

Se a França, no quadro das políticas neo coloniais do “pré carré” havia instrumentalizado o regime hutu de Juvenal Habiarinama, foi particularmente a Administração Democrata de Bill Clinton que jogou a cartada contraditória tutsi a partir do empenhamento Yoweri Museveni – Paul Kagame e é com base nessas tensões, desse artifício, que uma parte importante da desestabilização e manipulação de África se tem expandido: quanto mais poder elitista, quanto mais miséria, quanto mais morte, quanto mais guerra, quanto mais sangue, mais fácil e instrumentalizada é feita a rapina, numa escala sem precedentes e com lucros incomensuráveis!

É legítimo a África procurar na emergência dos BRIC os socorros institucionais, políticos, económicos, financeiros e humanos de que tanto precisa, pois o que a “civilização ocidental” tem historicamente trazido é por si um beco sem saída, a acrescentar ao beco sem saída da lógica capitalista que advém do que tem sido feito particularmente a partir do início da Revolução Industrial.

Fidel de Castro e Michel Chossudovski, diretor do Centro de Pesquisas sobre Globalização e editor em chefe do site Global Research, reuniram-se agora em Havana de forma a encontrar fórmulas de maior activismo em prol da legítima paz mundial, por mais utópica que ela se desenhe nos horizontes contemporâneos; Fidel, com a autoridade que lhe assiste produziu a “Mensagem Contra a Guerra Nuclear e Convencional” e decerto foi com o seu profundo conhecimento sobre a história de África que ele foi para além do manifesto contra a guerra nuclear.

Enviei justamente o seguinte em substantivo apoio à Mensagem de Fidel: (10)

ÁFRICA SEMPRE COM FIDEL!

África berço do homem e continente que se declarou livre de armas nucleares, sabe avaliar como continente mártir da escravatura, do colonialismo, do “apartheid e da “moderna” barbárie de sangue produzida pelo capitalismo, quanto acabar com todo o tipo de guerras é o único caminho a seguir para benefício da humanidade e do planeta!

Em África, só a África do Sul é produtor de armas e no entanto, com as armas vindas de outros continentes, genocídios não cessam de ocorrer e largos milhões continuam a morrer em consequência directa e indirecta das guerras encadeadas pela posse da riqueza, que parecem não ter fim!

É pois também legítimo a África estruturar desde já os imensos espaços vazios, polvilhá-los de estradas, de pontes, de ferrovias, de cidades modernas, de indústria respeitadora das condições do planeta, para que as comunidades humanas tenham outra esperança de vida, resgatem conhecimento e saúde, capacidades que nunca tiveram.

É legítimo a África cuidar da vida e do ambiente, respeitar a “Mãe Terra” e muito em especial quando a “civilização ocidental”, apesar dos contributos ao conhecimento científico e tecnológico (ou também por causa disso), se tornou tão depredadora.

Os relacionamentos de África com os BRIC abre expectativas fundamentadas de alguns dos colossos Africanos se tornarem também emergentes, entre eles Angola e os dois Congo, assim como regiões inteiras onde tanta precariedade tem subsistido, como a dos Grandes Lagos.

Dos 4 BRIC, 3 deles foram também colonizados e se levarmos em conta o peso histórico dessa situação reflectida neste início de século XXI em África, as pontes humanas que se têm de estabelecer em função desses relacionamentos, tenderão a encontrar outros condimentos e disponibilidades, outras formas comuns de pensar e de agir, outros processos e métodos de integração, de solidariedade e de respeito para com o próximo e para com a natureza.

O continente Africano é pujante de recursos e qualquer um dos BRIC, particularmente o Brasil que está mais próximo, é de expressão Latina e está preocupado com as duas Amazónias e a China por que sua emergência implica também impactos construtivos em todo o sul global em socorro das aspirações e sensibilidades do sul, tem outras possibilidades de relacionamento, o que as culturas Anglo Saxónicas têm desperdiçado.

África não precisa de esforços militares para combater os fantasmas do terrorismo, conforme a ementa que estão a tentar protagonizar AFRICOM e agentes-pares como Museveni ou Kagame!

África precisa de, ganhando consciência crítica sobre os traumas de quase todos os Povos do Continente, se construírem respostas que nunca antes foram encontradas, no âmbito dum amplo renascimento cultural, actuando sobre as causas profundas do entorpecimento típico do subdesenvolvimento em que, por imposição duma lógica tão perversa como a do capitalismo, tem sido obrigada a se arrastar!

As expectativas no que diz respeito aos relacionamentos com os BRIC, por parte dos Africanos, merecem um novo tipo de respostas; para além de Cuba com sua solidariedade humana excepcional, muito em particular o Brasil, a Venezuela e a China poderão ser intérpretes de filosofias distintas do passado, libertas do seu peso histórico e de suas heranças de rapina e sangue e isto apesar de, por exemplo, a China de Pequim não ser precisamente a mesma coisa do que a China de Hong Kong!

Sem deslocar um único homem com farda, a China encontrou fórmulas de relacionamento que se impõem aos Africanos pelo simples facto de nunca a “civilização ocidental” se ter preocupado em dinamizar! (11)

Construir a vida moderna no âmbito dos Programas de Reconstrução e Reconciliação Nacional para Angola é também beber dessa filosofia que agora está mais disponível que antes, inclusive nos processos de inteligência que se poderão projectar no que diz respeito a questões tão estratégicas como a água e a energia.

Angola não se pode deixar enredar nas manipulações que se desenham para que sua força militar se adeqúe aos interesses e conveniências de outros de fora do continente, quando suas estratégias se tornaram redutoras ao ponto de andarem obcecados atrás de fantasmas “terroristas” que parecem emergir das pedras e dos desertos e por osmose se expandem do Médio Oriente para dentro do Continente Africano.

Angola sabe avaliar que a luta contra colonialismo e “apartheid” foi para resgatar justiça histórica e para tal imensos sacrifícios se tiveram de fazer… e sabe avaliar também que as guerras por causa das disputas sobre as riquezas naturais, conforme por exemplo a “Primeira Guerra Mundial Africana”, são guerras que se voltarão sempre contra os interesses estratégicos dos Africanos, da humanidade e do planeta.

Angola deve potenciar uma contribuição saudável, construtiva e dinâmica, em prol do resgate e da emergência de valores que dêem continuidade ao sentido de vida que bebe do seu próprio movimento de libertação e lembrar isso é tanto mais importante quanto com o “mercado” se torna ainda mais perceptível o que se perdeu em termos de solidariedade, de procura de justiça social, de internacionalismo, de conceitos abrangentes que interessam para os benefícios que há que trazer para com o Povo Angolano, para com todos os Povos Africanos das regiões Austral e Central do Continente, para com todos os Povos do Mundo.

Cuidar da segurança de África e para África conforme ao interesse e conveniência dos Povos Africanos é imprescindível para, no meio de tantas manipulações, de tanta mentira, de tantas guerras, de tanta miséria, de tantos traumas e também de tanto elitismo alienado, se encontrar o caminho para o equilíbrio humano respeitador da natureza, uma caminho que conduza à justiça social, ao desenvolvimento sustentável, que resulte no aprofundamento da democracia, traga paz e saiba cuidar desse outro imenso pulmão tropical da Terra que constitui a bacia do grande Congo!

Notas e consultar:
- (1) – Kivu – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Kivu ; http://en.wikipedia.org/wiki/Nord-Kivu ; http://en.wikipedia.org/wiki/Sud-Kivu ; http://en.wikipedia.org/wiki/Kivu_conflict
- (2) – Primeira guerra mundial africana – Jornal de Angola – General José Maria –
http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/as_missoes_estrategicas_para_a_paz_no_continente ; O Congo é aqui? – http://www.baguete.com.br/colunistas/colunas/49/nelson-franco-jobim/10/07/2007/o-congo-e-aqui ; Maior floresta tropical africana perde 1,5 mil ha / ano – Vida Global – http://nelsonfrancojobim.blogspot.com/2008/08/maior-floresta-tropical-africana-perde.html ; Riquezas malditas - Davide Malacaria – http://www.30giorni.it/br/articolo_stampa.asp?id=20909 ; Ruanda crisis could expose US role in DRC genocide – Glen Ford – África Great Lakes Democracy Watch – http://greatlakesdemocracy.blogspot.com/2010/09/rwanda-crisis-could-expose-us-role-in.html
- (3) – Le flux d’armes à destination de l’est – Amnisty International –
http://www.amnesty.org/en/library/asset/AFR62/006/2005/en/26fba74b-d4d2-11dd-8a23-d58a49c0d652/afr620062005fr.pdf ; New names surface as linked to Victor Bout – http://www.ruudleeuw.com/vbout29.htm ; Victor Bout - Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Viktor_Bout ; Who is Victor Bout – Umoya – http://www.umoya.org/index.php?option=com_content&view=article&id=2913%3Awho-is-viktor-bout&catid=22%3Aactualidad-en-ingl&Itemid=42&lang=es
- (4) – O camaleão voraz que espreita todas as fragilizadas borboletas de África – Martinho Júnior – Página Um –
- (5) – The Rhodes Schollarships –
http://www.rhodesscholar.org/ ; Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Rhodes_Scholarship ; Lista dos Rhodeschollarships – http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Rhodes_Scholars
- (6) – The Mandela Rhodes Schollarships – Building exceptional leadership in Africa –
http://www.mandelarhodes.org/
- (7) – William Jeferson Clinton – Wikipedia –
http://en.wikipedia.org/wiki/Bill_Clinton ; Thomas A. Shannon – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_A._Shannon,_Jr.
- (8) – Fome toma proporções inquietantes em países africanos – Africanidade –
http://www.africanidade.com/articles/4233/1/Fome-toma-proporAAes-inquietantes-em-paAses-africanos/Paacutegina1.html ; World Hunger and Poverty Facts and Statistics 2010 – http://www.worldhunger.org/articles/Learn/world%20hunger%20facts%202002.htm ; World hunger – Stop the hunger – http://www.stopthehunger.com/
- (9) – UN report on rights violations in DR Congo to be released next month –
http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=35801&Cr=democrafic&Cr1=congo ; Who was behind the Rwandan genocide –Christopher Black – Global Research – http://www.globalresearch.ca/PrintArticle.php?articleId=21030 ; Ruanda ainda luta pela democracia? – Sarah Boseley – Mail & Guardian – http://www.correiointernacional.com/?p=2853 ; Quem são os criminosos de Guerra? – O PRAVDA ilhéu – http://pravdailheu.blogs.sapo.pt/278034.html
- (10) – Mensagem de Fidel: en una Guerra nuclear el dano collateral seria la vida de la humanidad – Cubadebate –
http://www.cubadebate.cu/fidel-castro-ruz/2010/10/21/mensaje-comandante-jefe-fidel-castro-contra-guerra-nuclear/comment-page-2/#comment-124998
- (11) – China’s roads in DRC: good, bad, or ugly? – China in Africa: the real story –
http://www.chinaafricarealstory.com/2010/07/chinas-roads-in-drc-good-bad-or-ugly.html ; China’s rising role in Africa – Princeton N. Lyman – CFR – http://www.cfr.org/publication/8436/chinas_rising_role_in_africa.html ; China and the Congo Wars: AFRICOM. America's New Military Command – F. William Engdahl – Global Research – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=11173
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AS INTENÇÕES DA FOLHA

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MAIR PENA NETO * – DIRETO DA REDAÇÃO

O que está por trás da insistência da Folha de S.Paulo em obter os autos do processo que levou Dilma Rousseff à prisão durante a ditadura militar no Brasil? O nobre propósito da informação como direito da sociedade ou a intenção espúria de interferir no processo eleitoral com algum dado suspeito que pudesse assustar a população?

Tomar conhecimento dos fatos que envolvem candidatos ao cargo máximo da República é um direito dos eleitores, e torná-los públicos, um dever da imprensa. Mas a ficha pregressa da Folha sinaliza que o segundo objetivo levantado na abertura deste artigo estaria mais próximo da verdade.

Desde a pré-campanha, a Folha se empenha em apresentar Dilma como uma temível guerrilheira. Para tanto, não hesitou publicar em abril desse ano uma ficha falsa do Dops, que a envolvia no planejamento de um suposto seqüestro do então ministro da Fazenda, Delfim Neto, em 1969, quando ela militava em um dos movimentos da luta armada contra a ditadura.

Contrariando as normas mais elementares de verificação dos fatos, a Folha publicou com destaque, incluindo chamada na primeira página, uma ficha recebida por e-mail e que já circulava há cinco meses na internet, em um site de ultradireita. Vinte dias depois da publicação, a Folha foi obrigada a reconhecer seu erro, mas o fez de forma envergonhada, sem destinar à correção o destaque que dera à notícia equivocada.

Outro elemento que reforça a possível intenção de incriminar de alguma forma a candidata petista é a proximidade que o Grupo Folha sempre teve com a ditadura. Seja promovendo a repressão política através das páginas da Folha da Tarde, um dos títulos que detinha à época do regime de exceção, ou emprestando seus carros de reportagem para perseguição e captura de adversários do regime, que muitas vezes foram torturados e mortos antes de desaparecerem por completo.

Em editorial de fevereiro desse ano, a Folha também considerou a ditadura brasileira uma “ditabranda” por não ter torturado e matado tanto quanto a argentina ou a chilena. A classificação, ofensiva sobretudo às famílias dos mortos e desaparecidos durante o regime militar, não surpreende diante da maneira como o jornal se comportou até em relação a profissionais seus que se envolveram na luta contra o regime. Em 1969, a Folha demitiu, por “abandono de emprego”, a jornalista Rose Nogueira, que estava presa em São Paulo, depois de apartada do filho recém-nascido, sob a guarda do terrível delegado Fleury.

A obstinação da Folha em obter o processo contra Dilma, que levou o jornal a impetrar mandado de segurança no Superior Tribunal Militar e a entrar com liminar no Supremo Tribunal Federal, jamais foi vista em relação a qualquer outro político que tenha participado da luta armada contra o regime militar. Parece estar em curso, por parte do jornal, uma tentativa de transformar essas pessoas em criminosos perigosos, ignorando que lutavam contra um regime que se impôs à força sobre o país, rompendo a ordem constitucional.

Os “crimes” cometidos pelos brasileiros que se envolveram na luta armada não podem ser retirados do seu contexto como se tivessem sido praticados por marginais e terroristas, expressão criada pela própria ditadura. Será que a Folha acusaria Fernando Gabeira, por exemplo, de crime hediondo pela participação no seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969, posteriormente trocado por presos políticos?

Os “terroristas” naquela época eram, em grande número, jovens idealistas, saídos das universidades, que lutaram contra um regime ilegítimo, que, este sim, praticava o terror como política de Estado. E o fizeram com coragem e generosidade, entregando suas vidas a uma causa. Pode-se questionar a opção tomada sob uma perspectiva histórica, mas jamais incriminar os que a seguiram.

Qualquer meio sério de imprensa também precisa considerar que os processos criminais militares à época da ditadura eram construídos a bel prazer dos acusadores, valendo-se muitas vezes de confissões obtidas sob tortura, e, portanto, sem valor jurídico. Reproduzir o que consta dos autos desses processos sem uma investigação rigorosa seria uma irresponsabilidade jornalística.

* Jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia.
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NÉSTOR KIRCHNER E O QUE VEM POR AÍ

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MEMPO GIARDINELLI – PÁGINA 12 – CARTA MAIOR

Nunca fui kirchnerista. Nunca vi Nestor pessoalmente, jamais estive em um mesmo lugar com ele. Nem sequer votei nele em 2003. Eu lhe disse isso na única vez que me telefonou para pedir-me que aceitasse ser o embaixador argentino em Cuba. Sempre disse e escrevi que não me agradava seu estilo meio descarado, essa informalidade provocadora que o caracterizava. Mas fui o respeitando na medida em que, com um poder que não tinha, tomava velozmente medidas que a Argentina precisava e que quase todos vínhamos pedindo aos gritos. E que enumero agora, porque no futuro imediato me parece que teremos que destacá-las para marcar diferenças. O artigo é de Mempo Giardinelli, escritor e jornalista argentino.

Escrevo esse texto em meio ao calor dos acontecimentos, na mesma manhã do anúncio da morte de Néstor Kirchner, e oxalá esteja errado. Mas sinto dor e medo e necessito expressá-lo.Penso que estes dias serão muito feios, com um carnaval de hipocrisia no Congresso. Os mortos políticos estarão ali com suas caras impávidas. Os ressuscitados de governos anteriores. Os bajuladores profissionais que agora se dizem “dissidentes”. Os frívolos e os garcas que diariamente desenham Rudi e Dany. Todos eles e elas. Caras de plástico, de ferro fundido, de caca endurecida. Aplaudidos secretamente por aqueles que já estão emitindo sorrisos de alegria feroz.

Os veremos na televisão, eu já os vejo neste meio dia ensolarado que, aqui no Chaco, ao menos, resplandece como que para uma causa melhor.

Nunca fui kirchnerista. Nunca vi Nestor pessoalmente, jamais estive em um mesmo lugar com ele. Nem sequer votei nele em 2003. Eu lhe disse isso na única vez que me telefonou para pedir-me que aceitasse ser o embaixador argentino em Cuba.

Sempre disse e escrevi que não me agradava seu estilo meio descarado, essa informalidade provocadora que o caracterizava. Sua maneira tão peronista de fazer política juntando água clara e azeite usado e viscoso.

Mas fui o respeitando na medida em que, com um poder que não tinha, tomava velozmente medidas que a Argentina precisava e que quase todos vínhamos pedindo aos gritos. E que enumero agora, porque no futuro imediato me parece que teremos que destacá-las para marcar diferenças.

Foi ele, ou seu governo, e agora o de Cristina:

- O que mudou a política de Direitos Humanos na Argentina. Nada menos do que isso. Agora alguns dizem que estão “fartos” do assunto, como outros criticaram sempre que era uma política mais declarativa que outra coisa. Mas Nestor o fez: iniciou a mudança e foi conseqüente. E assim se ganhou o respeito de milhões.

- O que mudou a Corte Suprema de Justiça, e não importa se, depois, a Corte não soube mudar a Justiça Argentina.

- O que abriu os arquivos dos serviços secretos e com isso reorientou o julgamento dos atentados sofridos pela comunidade judia nos anos 90.

- O que recuperou o controle público do Correio, das Águas, da Aerolíneas.

- O que impulsionou e conquistou a nulidade das leis que impediam de se conhecer a verdade e de castigar os culpáveis de genocídio.

- O que mudou nossa política externa terminando com as claudicantes relações carnais e outras palhaçadas.

- O que implementou uma consequente e progressista política educativa como não tivemos por décadas, e que mudou a infame Lei Federal de Educação menemista pela atual, que é democrática e inclusiva.

- O que começou a mudar a política para os professores e os aposentados, que por muitos anos foram os dois setores salarialmente mais atrasados do país.

- O que mudou radicalmente a política de Defesa, de modo que agora este país começa a ter umas Forças Armadas diferentes, democráticas e submetidas ao poder político pela primeira vez na história.

- O que iniciou uma gestão plural na Cultura, que agora atinge todo o país e não somente a cidade de Buenos Aires.

- O que começou a primeira reforma fiscal em décadas, que precisa avançar muito ainda,mas que hoje permite arrecadações recordes.

- O que renegociou a dívida externa e terminou com a estúpida ditadura do FMI. E, pela primeira vez, maneja o Banco Central com uma política nacional e com recorde de divisas.

- O que liquidou o infame negócio das AFJP e recuperou para o Estado a proteção social.

- O que, com a nova Lei de Meios, começou a limitar o poder absoluto da ditadura jornalística privada que provoca distorções na cabeça de milhões de compatriotas.

- O que impulsionou a Lei do matrimônio igualitário e mantém uma política antidiscriminatória como jamais tivemos.

- O que vem obtendo um crescimento econômico dos mais altos do mundo, com recuperação industrial evidente, estabilidade de quase uma década e diminuição do desemprego. Além disso, se aproxima a nova legislação das entidades bancárias, que terminará um dia destes com as heranças de Martinez de Hoz e de Cavallo.

Nestor fez isso. Junto com Cristina, que o segue fazendo. Com muitos erros, diga-se desde já. Com patadas, corruptelas e turvamentos vários e alguns muito irritantes, funcionários não apresentáveis, certa belicosidade inútil e o que se queira reprovar-lhes, tudo isso o que para muitos como eu nos dificulta nos declararmos kirchneristas, ou nos impede.

Mas só os miseráveis esquecem que a corrupção na Argentina é conatural desde que os malditos ditadores a reinventaram mil vezes. E o “riojano” (Menem) idem.

De maneira que, sem justificar o desvio de um centavo sequer, nesta hora é preciso lembrar a nação inteira que ninguém, mas ninguém, e nenhum presidente desde, pelo menos, Juan Perón, entre 46 e 55, produziu tantas e tão profundas mudanças positivas para a vida nacional.

A ver se alguém pode dizer o contrário.

De maneira que estes são os méritos deste zarolho fraco, descarado, contraditório e de andar lateral, como os pingüins.

Sim, escrevo isso dolorido e com medo, nesta fodida manhã de sol, e desolado também, como milhões de argentinos, um pouco por este homem que Estela de Carlotto acaba de definir como “indispensável” e outro poço por nós, por nosso amado e pobre país.

E redobro meu rogo para que Cristina se cuide, e para que cuidemos dela. Temos diante de nós um ano tremendo, com as matilhas sedentas e capazes de qualquer coisa para recuperar o miserável poder que tiveram e perderam graças a quem chamam de modo depreciativo “Os K” e nós, os argentinos comuns, os cidadãos e cidadãs que não comemos os alimentos envenenados pela imprensa e a televisão do sistema midiático privado, provavelmente nos recordaremos deles como “Néstor e Cristina, os que mudaram a Argentina”.

Descanse em paz, Néstor Kirchner, com todos os seus erros, defeitos e misérias, mas sobretudo com seus enormes acertos. E resista Cristina. Você não está sozinha.

E os demais, nós, a enfrentar os desafios. Ou, por acaso, temos feito outra coisa em nossas vidas e em nosso país?

(*) Escritor e jornalista argentino

Tradução: Katarina Peixoto
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SÓCRATES SÓ SABE QUE SABE TUDO

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ORLANDO CASTRO, jornalista – NOTÍCIAS LUSÓFONAS

Porreiro, pá! Afinal o sumo pontífice do PS e do governo do reino lusitano até nem é má pessoa (é um pouco pior). Não é – vejam lá – que o primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou hoje, em Bruxelas, que o Governo vai “fazer mais um esforço” para que o acordo para viabilizar o Orçamento de Estado seja possível, confiando na “boa vontade de todos”. Até as lágrimas me cairam no prato... obviamente vazio.

“O Governo vai fazer esse esforço e tenho a certeza que com a boa vontade de todos chegaremos a um acordo”, disse José Sócrates à entrada de uma reunião dos líderes da União Europeia. A Europa comoveu-se e Durão Barroso comentou: porreiro, pá!

O primeiro-ministro não explicou em que consiste o “esforço” que o Governo vai realizar. Mas também não é preciso. Todos sabem que o esforço passa por estar de acordo com todos aqueles que estão de acordo com ele. Simples, não é?

“É cedo para vos dar pormenores. O que vos digo é que o Governo não deixará de fazer aquilo que lhe compete também fazer: dar mais um passo, fazer mais um esforço para que esse acordo seja possível”, disse José Sócrates, tendo alguns dos presentes notado uma lágrima socialista no canto do olho.

O primeiro-ministro defendeu que “o que está em causa é muito importante” e disse “ter a certeza que todos compreenderão” que Portugal “precisa de ter este orçamento aprovado”. Todos não me parece. Desde logo porque quase todos sabem que Sócrates não é uma solução para o problema mas, isso sim, um problema para a solução.

“Isto é absolutamente determinante para a nossa credibilidade. Portugal não pode falhar neste momento, é o momento da verdade e temos de compreender que o que está em jogo são os superiores interesses” do país, insistiu.

Seria uma frase quase perfeita (como, aliás, tudo o que Sócrates faz), não fosse falar de superiores interesses do país quando, de facto, queria falar nos superiores interesses do seu grupo socialistas e acólitos.

José Sócrates lamentou que as negociações entre o Governo e o PSD não tenham sido bem sucedidas e reconheceu que “as posições se aproximaram”. E estão tão próximas que no fim das contas, por serem farinha do mesmo saco, ninguém vai saber quem é quem no tango que vai deixar ainda mais o país de tanga.

As medidas a tomar impõem que “todos os políticos não pensem na popularidade mas naquilo que são os interesses nacionais”, declarou José Sócrates citando, na circunstância, o mais conhecido vendedor de banha da cobra de, pelo menos, língua portuguesa: José Sócrates.

28.10.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Portugal – UMA LEGISLATURA LIGADA À MÁQUINA

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DIÁRIO DE NOTÍCIAS, editorial – 28 outubro 2010

Ontem ainda não ficámos a saber se vamos ter ou não um Orçamento do Estado para 2011, mas ficou claro para todos que a presente legislatura não tem mais caminho pela frente. Por variadíssimas razões, internas e externas, o Governo de José Sócrates deixou de ter interlocutores - também por culpas próprias - com quem negociar. E, por virtude das eleições legislativas de há um ano, sozinho nada conseguirá aprovar. Em suma, mesmo que tenhamos um Orçamento, esta legislatura sobreviverá apenas mais uns meses, mas ligada à máquina. Sem ela, morre instantaneamente.

O que aconteceu nas negociações entre Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga é o espelho desse impasse absoluto. Entre as posições do Governo e as do PSD havia um mundo de distância - politicamente falando. Mesmo assim, sob pressão generalizada, o PSD aceitou negociar, fixando as suas condições em mil milhões de euros (acrescentando algumas questões de principio, simbólicas, que faziam parte do seu guião de preocupações com o rumo das contas públicas). Ao longo dos dias, com encontros em equipas ou a sós, foi-se percebendo que os dois lados não se iam entendendo nas contas finais. E ontem chegou-se a uma ruptura que poucos anteciparam, mas que não pode surpreender ninguém. Nem Eduardo Catroga, inicialmente tão elogiado pelos socialistas e publicamente defensor da viabilização "sem olhar" do OE, foi suficiente para fazer o barco chegar a bom porto.

Se foi assim com este Orçamento - se é ainda, já que continua sem haver garantia alguma de que este passe - já é impossível acreditar que, no difícil ano de 2011, as conversas se tornem mais produtivas. Assim sendo, voltamos ao início: esta legislatura chegou ao fim. E o pior é que estamos longe de perceber se novas eleições vão, de alguma forma, ajudar a desbloquear o impasse.

...e um país sob pressão

A reacção dos mercados financeiros ao anúncio da ruptura das negociações orçamentais foi instantânea: a rendibilidade das obrigações a 10 anos do Estado português subiu 20 pontos-base, isto é, aumentou a desconfiança de que poderá mesmo não haver Orçamento do Estado para 2011 aprovado pelo Parlamento português. A bolsa de valores entrou em toada de vendas e o índice PSI20 caiu 1,25%.

Por aquilo que se vai sabendo de ambos os lados, ao fim dos quatro dias de negociações, as duas partes aproximaram posições, percorrendo três quintos da distância que os separava à partida. Cada um esticou ao máximo a margem de cedência que tinha à sua disposição. O PSD pretende alcançar a redução dos sacrifícios pedidos às famílias e às empresas. Considerou que a cedência do ministro das Finanças no 3.º escalão do IRS e no IVA dos produtos alimentares era insuficiente, já que o seu recuo com a taxa de 23% e a aceitação de corte nas deduções fiscais nos dois últimos escalões do IRS representavam uma transigência em mais do dobro do recuo do Governo. E isto é verdade.

Teixeira dos Santos rejeitou cortes adicionais de 450 milhões de euros na máquina do Estado com o argumento de haver já 4100 milhões de cortes na despesa no OE 2011. Estes são já um objectivo exigente e difícil de concretizar. Pretender cortar mais, segundo o ministro, seria enganar tudo e todos: ceder nesses 0,26% do PIB adicionais significava para o Governo na prática conformar-se com a ideia de ostentar um défice público de 4,9%, em fins de 2011. Ora, sejamos justos, nunca este ponto mereceu qualquer contestação do PSD.

Mas o que é absolutamente incompreensível é que, num Orçamento de quase 80 mil milhões de euros, Governo e PSD - e o PSD, neste caso, foi o que mais cedeu - sejam incapazes de se entender por causa de 450 milhões.
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VÁRIOS ACORDOS EM PERSPECTIVA -- Embaixador português em Pequim

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AC – LUSA

Pequim, 28 out (Lusa) -- A visita a Portugal do Presidente chinês, Hu Jintao, a 06 e 07 de novembro, deverá ficar marcada por vários "acordos" e "contratos de investimento", nomeadamente na área do turismo, disseram hoje à agência Lusa fontes diplomáticas.

"Vão ser assinados uma série de acordos da maior importância a nível oficial e de empresas (...) Esperam-se contratos de investimento de grande importância", disse à Agência Lusa o embaixador de Portugal na China, José Tadeu Soares.

O diplomata não revelou a natureza dos referidos acordos e contratos, indicando apenas que dizem respeito ao "turismo e facilitação das relações económicas".

A visita de Hu Jintao a Portugal, a primeira de um Presidente chinês em mais de uma década, ocorre num bom momento das exportações portuguesas para a China.

Pelas contas chinesas, nos primeiros oito meses de 2010, as exportações portuguesas cresceram 66 por cento em relação a igual período do ano passando, somando 483,5 milhões de dólares.

"Estamos a crescer a um ritmo extremamente rápido, mas podemos fazer mais", disse o embaixador português.

José Tadeu Soares defendeu também a abertura de um Centro Cultural Português em Pequim, "para responder ao elevado número de chineses que fala português", e "o reconhecimentos dos cursos universitários portugueses".

"Há várias universidades portuguesas que dão cursos e mestrados na China e um número crescente de estudantes chineses que procuram as universidades portuguesas", afirmou.

O último Presidente chinês recebido em Lisboa foi o antecessor de Hu Jintao, Jiang Zemin, em outubro de 1999.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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CHINA – UM GRANDE COFRE, RECHEADO DE DIVISAS

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AC – RBV – LUSA

Pequim, 28 out (Lusa) -- Pela primeira vez nos 65 anos de história do Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos principais lugares dentro da instituição, o de conselheiro especial do diretor, é hoje ocupado por um economista chinês, Zhu Min.

Antigo vice-governador do Banco Central da China, Zhu Min, de 58 anos, foi o segundo quadro chinês a assumir um posto de liderança numa instituição financeira internacional, depois de Justin Yifu Lin ter sido nomeado economista-chefe do Banco Mundial, há dois anos.

Zhu Min e Yifu Lin são ambos doutorados em universidades norte-americanas, mas o sucesso das suas carreiras é mais do que uma história individual.

Depois de três décadas com um crescimento médio de cerca de 10 por cento ao ano, a economia chinesa é hoje a segunda maior do mundo, a seguir aos Estado Unidos, e após a crise financeira de 2008 passou a ser considerada "um motor da recuperação global".

Pelas contas do FMI, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês crescerá 10,5 por cento em 2010.
Embora continue a assumir-se como "um país em vias de desenvolvimento", a China possui as maiores reservas em divisas do mundo: 2,65 biliões de dólares (1,92 biliões de euros), segundo os números de setembro passado.

Cerca de um terço está investido em títulos do tesouro norte-americano, mas sobra ainda muito dinheiro.

Um professor do Banco Central, Wang Yong, defendeu a compra da dívida pública de Portugal e de outros países europeus para ajudar a Europa a sair da crise e tentar limitar a três por cento a valorização da moeda chinesa reivindicada pela administração norte-americana.

Num artigo publicado a semana passada em Pequim, Wang Yong sustenta que a China deve formar alianças com outros países -- incluído Portugal, Grécia, Irlanda e Itália -- para evitar que os Estados Unidos consigam reunir uma coligação para obrigar o governo chinês a valorizar o yuan.

"Os chineses não gostam de falar nestas coisas em público", disse um diplomata europeu acerca da possibilidade de o assunto ser abordado durante a visita do Presidente Hu Jintao a Portugal e França, na primeira semana de novembro.

No início de outubro, em Atenas, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, limitou-se a reafirmar que "a China apoia a estabilidade do euro e não reduzirá a sua carteira de títulos europeus".

A China é também o quinto país que mais investe no estrangeiro, sobretudo na área da energia, e em 2007, para "diversificar" a aplicação das suas reservas, canalizou 200 000 milhões de dólares para um fundo soberano chamado CIC (China Investment Corporation).

Três anos depois, o património da CIC já vai em 298 000 milhões de dólares e a sua carteira de investimentos estende-se do Cazaquistão ao Canadá.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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SORRIA. ESTÁ A SER ROUBADO! (XV)

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ORLANDO CASTRO, jornalista – NOTÍCIAS LUSÓFONAS

Portugal e o seu governo socialista continuam a dar provas do que (nada) valem. Ana Paula Vitorino, ex-secretária de Estado dos Transportes, terá testemunhado em tribunal que Mário Lino, ex-ministro das Obras Públicas, a tentou sensibilizar (um eufemismo) para os problemas que existiam entre o empresário Manuel Godinho (o único arguido em prisão preventiva no processo Face Oculta) e a Rede Ferroviária Nacional (Refer), alegando que aquele empresário (tal como muitos outros) era “amigo do PS”.

E como todos sabem, ser amigo do PS é, foi e será (enquanto eles forem os donos do país) mais do que meio caminho andado para se conseguir tudo e mais alguma coisa. Enquanto Portugal não for um Estado de Direito, é mesmo assim que as coisas funcionam.

Este pedido de intervenção de Mário Lino, segundo o jornal Público, terá acontecido numa altura em que o sucateiro Manuel Godinho queria mais contratos com a empresa, mas o presidente da Refer, Luís Pardal, não queria a adjudicação de mais concursos a este empresário.

O processo Face Oculta investiga casos de corrupção relacionados com empresas privadas e do sector empresarial do Estado. Até ao momento, foram constituídos mais de 20 arguidos, incluindo Armando Vara, ex-ministro socialista e vice-presidente do BCP, que suspendeu as funções, José Penedos, presidente da REN, suspenso de funções pelo tribunal, e o seu filho Paulo Penedos, advogado da empresa SCI-Sociedade Comercial e Industrial de Metalomecânica SA. Esta é a empresa que está no centro da investigação e o seu proprietário.

Este é mais um caso que mostra que a Portugal já não há nada que lhe valha. É claro que, no meio desta enorme teia de corrupção, há lugares para todos, mas sobretudo para os invertebrados, quase todos amigos do José e do Joaquim. Do primeiro para agradar ao soba, do segundo para não perderem o emprego.

Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até vemos os josés e os joaquins do reino a recordar, comovidos, os milhões de portugueses que já estão quase diplomados (não ao domingo mas durante todos os dias da semana) a viver sem comer.

Na altuta do Orçamento de Estado socialista para 2009, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS, José Sócrates, disse que “neste momento todas as famílias portuguesas precisam da ajuda do Estado”, pelo que o Orçamento versa essencialmente medidas de apoio às empresas e famílias, que são as possíveis pois “ir mais além seria alimentar o défice excessivo”.

Isso foi em 2009. Hoje é diferente. As empresas e as famílias já não precisam de ajuda do Estado. O que o secretário-geral do PS queria, de facto, dizer em 2009 e continua a dizer hoje, é que “neste momento todas as famílias portuguesas precisam da ajuda do Partido Socialista” se, agora digo eu, quiserem sobreviver.

É que, nas ditas ocidentais praias lusitanas a norte de Marrocos, existem dois tipos de portugueses (isto para além das outras 150 nacionalidades): os de primeira (socialistas, de preferência com cartão de militância e sem coluna vertebral), e os de segunda (todos os outros).

Aliás, já prevendo que todos os não socialistas (os tais portugueses de segunda) iriam precisar da ajuda do PS, há muito que a solução é conhecida. E a solução foi, é e será a seguinte:

1. Fazer o download da ficha de militante do PS (em formato PDF) e imprimi-la;

2. Lê-la (se souber) e preencher (se souber, se não... alguém o fará por si) todos os campos;

3. Enviar a ficha devidamente preenchida e assinada (ou com impressão digital), por CTT, para:

Partido Socialista - Departamento Nacional de Dados, Largo do Rato, 21269-143 Lisboa.

Se preferir, poderá optar por entregar a ficha de militante na secção do PS da sua zona de residência. Se não existir nenhuma, o que será caso raro, avise que o secretário-geral manda logo arranjar uma.

Se tiver dúvidas relacionadas com o preenchimento, poderá ligar para a Linha Azul PS ­ (o azul é só para disfarçar!) 808 201 695 808 201 695.

27.10.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
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