domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mutilação genital feminina não está no Corão, lembra imã de Bissau

.

JORNAL DE NOTÍCIAS

O imã Nfali Cote, da mesquita de Bissau, afirmou hoje, domingo, no Parlamento da Guiné-Bissau que a mutilação genital feminina não está prevista no Corão e, por isso, é errado associar o fenómeno à religião islâmica.

O imã Coté falou na sessão solene das comemorações do Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina (MGF) que na Guiné-Bissau atinge cerca de 49%.

"É falso que o Corão tenha previsto que se faça o 'fanado' às mulheres. Eu não vi isso em parte alguma", disse o imã Nfali Coté, falando em nome dos líderes religiosos convidados por um grupo de organizações não-governamentais que lutam contra a excisão na Guiné-Bissau.

O "fanado" é o nome pelo qual a excisão é mais conhecida entre a população guineense.

Também expressando repúdio contra o acto, Nhima Corobó, uma ex-praticante do 'fanado', disse que "é chegada a hora" de as 'fanatecas' deixarem essa prática que "tantos males tem causado à vida das mulheres" guineenses.

"Há dez anos que deixei de praticar o 'fanado', mas muitas das 'fanatecas' ainda fazem essa prática. O Estado devia impor leis para proibir, de facto, essa prática", defendeu Nhima Corobó.

O Parlamento guineense foi hoje, domingo, palco de uma cerimónia oficial que marca a luta de várias organizações contra a excisão, com destaque para o Comité Nacional de Luta Contra as Práticas Nefastas, liderado por Fatumata Djau Baldé.

Segundo esta antiga ministra dos Negócios Estrangeiros, também ela submetida à excisão em criança, o trabalho que tem sido feito pelas organizações não governamentais (ONG), com o apoio de algumas entidades internacionais, vai no sentido de levar o Governo, através do Parlamento, a adoptar leis que punam a prática ainda este ano.

"Pensamos que temos dados nesse sentido, agora já estão reunidas as condições para que se adopte, finalmente, uma lei que puna essa prática", declarou Fatumata Baldé.

"O Governo está sensibilizado. O Governo tem a maioria no Parlamento e só por isso podemos acreditar que vai fazer aprovar uma lei ainda este ano", disse Djau Baldé.
.