João Manuel Rocha – Público – 06 março 2011
Reacção a convocatória anónima de protesto contra regime. Informações não confirmadas de incidente na Lunda Norte dão conta de 28 feridos.
Muitos milhares de pessoas, mas longe dos dois milhões que o MPLA (Movimento para a Libertação de Angola) se propôs mobilizar, reuniram-se ontem em Luanda, na "marcha patriótica pela paz", uma iniciativa destinada a demonstrar apoio ao Presidente José Eduardo dos Santos, em antecipação a um alegado protesto convocado anonimamente pela Internet para amanhã.
Uma multidão de angolanos envergando T-shirts e bonés brancos distribuídos gratuitamente, estimada em meio milhão de pessoas pela Rádio Nacional de Angola, integrou uma marcha que terminou junto ao Marco Histórico 4 de Fevereiro, no bairro de Cazenga, onde falaram dirigentes do MPLA, antes de, segundo a agência AFP, a tribuna ter sido deixada livre para cantores populares.
O número de dois milhões de manifestantes tinha sido fixado pelo secretário provincial de Luanda do partido, Bento Bento, na convocatória "a favor das políticas de paz e desenvolvimento do Presidente". "Nem de perto nem de longe se atingiu essa cifra", disse ao PÚBLICO um crítico do Governo angolano.
Manifestações a favor do regime foram também organizadas noutras cidades do país. Em Dundo, na Lunda Norte, segundo informação do site Club-K, Club dos Angolanos no Exterior, ocorreram confrontos que provocaram ferimentos em, pelo menos, 28 jovens, cinco dos quais terão ficado em estado grave. O governador provincial teria presenciado a situação.
Na marcha de Luanda, o vice-presidente do MPLA, Roberto Victor de Almeida, denunciou a existência de forças que procuram travar o desenvolvimento do país e o bem-estar dos cidadãos. "Muita gente quer interromper a nossa caminhada. Querem que paremos o nosso trabalho, o que é inaceitável", declarou, citado pela agência Angop.
As acções ontem organizadas pelo partido que dirige Angola desde a independência, em 1975, foram uma reacção ao apelo anónimo, convocado via Internet, à imagem das revoltas no Norte de África.
A marcação do protesto contra o regime e o Presidente, que deveria iniciar-se às 00h00 de amanhã, provocou reacções de nervosismo na esfera do poder.
A convocatória foi assinada por um desconhecido Movimento Revolucionário do Povo Lutador de Angola (MRPLA) e assinado por Agostinho Jonas Roberto dos Santos, designação que recupera os nomes dos líderes dos três movimentos que lutaram pelo independência de Angola. Os principais partidos da oposição, designadamente a UNITA, negaram a paternidade e demarcaram-se da acção.
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