… contra os angolanos!
ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Portugal vai liderar o comité de sanções da ONU para a Líbia, mau grado, segundo as palavras do primeiro-ministro português, Muammar Kadafi ter sido (ou será que ainda é?) um “líder carismático”. Quem será que, um dias destes, irá liderar um análogo comité em relação a Angola?
Cá para mim, com ou sem José Sócrates no comando do Governo, com ou sem Cavaco Silva na Presidência, ainda vamos ver Portugal dizer de José Eduardo dos Santos o mesmo que agora diz de Muammar Kadhafi.
Mas enquanto isso não acontece, o mundo lá vai continuar a assistir ao atávico lambe-botas dos actuais governantes portugueses perante o dono e senhor de Angola e, é claro, quase dono – mas já senhor – de Portugal.
Creio que, já hoje, os governantes portugueses das ocidentais praias lusitanas devem ter felicitado o chefe do Governo angolano (José Eduardo dos Santos), o presidente do MPLA (José Eduardo dos Santos) e o presidente da República de Angola (José Eduardo dos Santos) pelo êxito que conseguiram ao neutralizar os que se atrevem a pensar de forma diferente.
Recordo-me de num dos aniversários da independência de Angola, Cavaco Silva explicar na mensagem enviada ao seu homólogo angolano (não eleito e há 32 anos no poder) que Portugal e Angola «souberam construir uma relação de sólida amizade e cooperação que, com a conquista da paz, se tem vindo a fortalecer e a expandir a novos domínios de interesse comum, com resultados expressivos e mutuamente vantajosos, tanto no quadro bilateral, como no da coordenação de esforços e posições na cena internacional».
Se calhar, nestas coisas da política “made in Portugal”, também Muammar Kadafi deve ter recebido (obviamente antes de passar de bestial a besta) uma mensagem similar, ou não fosse ele, tal como Eduardo dos Santos, um “líder carismático”.
«A solidez dos laços que nos unem e a convergência de posições em relação a muitos dos desafios centrais do nosso tempo, permitem-nos encarar o futuro com redobrada confiança e ambição», escreveu em 2009, Aníbal Cavaco Silva, numa mensagem enviada ao democrata dono de Angola e que certamente é repetida pelo menos uma vez por ano.
Quanto aos angolanos... nada. Pois. Quem tem de se preocupar com eles não é Cavaco. Para preocupações (se é que elas existem) já bastam a Portugal os perto de 40% em risco de pobreza, os 700 mil desempregados, a queda no ranking da liberdade de imprensa, os casos de corrupção, a oculta face da promiscuidade entre política e economia etc. etc. etc.
Também não é a Portugal que cabe preocupar-se com os 68% (68 em cada 100) dos angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome, ou com os 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, ou com o facto de uma em cada quatro crianças (25%) morrer antes de atingir os cinco anos.
Também não é a Portugal que cabe preocupar-se com o facto de, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, ser o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, ou o facto de o silêncio de muitos, ou omissão, ser dever à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.
A Lisboa apenas interessa, reconheça-se que com toda a legitimidade, que Angola olhe para a mão estendida de Portugal e lá vá colocando os dólares que José Sócrates & Campanhia precisam, mesmo que sejam conseguidos à custa da morte, da fome e da miséria de um povo de que é dono José Eduardo dos Santos.
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Portugal vai liderar o comité de sanções da ONU para a Líbia, mau grado, segundo as palavras do primeiro-ministro português, Muammar Kadafi ter sido (ou será que ainda é?) um “líder carismático”. Quem será que, um dias destes, irá liderar um análogo comité em relação a Angola?
Cá para mim, com ou sem José Sócrates no comando do Governo, com ou sem Cavaco Silva na Presidência, ainda vamos ver Portugal dizer de José Eduardo dos Santos o mesmo que agora diz de Muammar Kadhafi.
Mas enquanto isso não acontece, o mundo lá vai continuar a assistir ao atávico lambe-botas dos actuais governantes portugueses perante o dono e senhor de Angola e, é claro, quase dono – mas já senhor – de Portugal.
Creio que, já hoje, os governantes portugueses das ocidentais praias lusitanas devem ter felicitado o chefe do Governo angolano (José Eduardo dos Santos), o presidente do MPLA (José Eduardo dos Santos) e o presidente da República de Angola (José Eduardo dos Santos) pelo êxito que conseguiram ao neutralizar os que se atrevem a pensar de forma diferente.
Recordo-me de num dos aniversários da independência de Angola, Cavaco Silva explicar na mensagem enviada ao seu homólogo angolano (não eleito e há 32 anos no poder) que Portugal e Angola «souberam construir uma relação de sólida amizade e cooperação que, com a conquista da paz, se tem vindo a fortalecer e a expandir a novos domínios de interesse comum, com resultados expressivos e mutuamente vantajosos, tanto no quadro bilateral, como no da coordenação de esforços e posições na cena internacional».
Se calhar, nestas coisas da política “made in Portugal”, também Muammar Kadafi deve ter recebido (obviamente antes de passar de bestial a besta) uma mensagem similar, ou não fosse ele, tal como Eduardo dos Santos, um “líder carismático”.
«A solidez dos laços que nos unem e a convergência de posições em relação a muitos dos desafios centrais do nosso tempo, permitem-nos encarar o futuro com redobrada confiança e ambição», escreveu em 2009, Aníbal Cavaco Silva, numa mensagem enviada ao democrata dono de Angola e que certamente é repetida pelo menos uma vez por ano.
Quanto aos angolanos... nada. Pois. Quem tem de se preocupar com eles não é Cavaco. Para preocupações (se é que elas existem) já bastam a Portugal os perto de 40% em risco de pobreza, os 700 mil desempregados, a queda no ranking da liberdade de imprensa, os casos de corrupção, a oculta face da promiscuidade entre política e economia etc. etc. etc.
Também não é a Portugal que cabe preocupar-se com os 68% (68 em cada 100) dos angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome, ou com os 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, ou com o facto de uma em cada quatro crianças (25%) morrer antes de atingir os cinco anos.
Também não é a Portugal que cabe preocupar-se com o facto de, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, ser o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, ou o facto de o silêncio de muitos, ou omissão, ser dever à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.
A Lisboa apenas interessa, reconheça-se que com toda a legitimidade, que Angola olhe para a mão estendida de Portugal e lá vá colocando os dólares que José Sócrates & Campanhia precisam, mesmo que sejam conseguidos à custa da morte, da fome e da miséria de um povo de que é dono José Eduardo dos Santos.
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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