sexta-feira, 23 de julho de 2010

QUESTÕES DE CONSCIÊNCIA


FERNANDO SILVA

"Era muito bom que os políticos cristãos dissessem 'eu cedo do meu ordenado 20 por cento para um fundo social'. Isso era um testemunho concreto. É preciso decisões novas, alguma coisa que digam às pessoas que é possível", afirmou o bispo auxiliar de Lisboa, em entrevista à Sic Notícias. A resposta é NÃO.

Os políticos procuram todos os subterfúgios para segurar as suas mordomias, os seus escandalosos ordenados, as suas excessivas despesas, a sua determinação de esgotar os bens públicos em prol de seus gostos, suas vantagens e benefícios. Deles, das famílias, dos amigos, dos que os servem. Das matilhas impunes que devoram quotidianamente aos portugueses os seus parcos recursos numa mostra de falta de escrúpulos perante o país depauperado. Por isso mesmo é que está depauperado.

Ao desafio do bispo auxiliar de Lisboa respondeu desta vez o ministro da economia, Vieira da Silva. Disse ele que “cada um contribui conforme a sua consciência e possibilidades”. A sapiência de ocasião destes políticos é conhecida. Não será por isso que deixará de continuar a ser escandalosa.

Vieira da Silva disse mais ainda: “Eu tenho a minha consciência tranquila”. Se for verdade que cada um sabe de si e Deus Nosso Senhor sabe de todos, ficamos quase com a certeza de que este ministro português é um forte candidato a ir parar ao inferno. Outros ainda mais. Segundo os do cristianismo o inferno existe mesmo e Deus saberá quanto os políticos portugueses, quanto os ministros deste e de outros governos têm sido sorvedores dos recursos nacionais em beneficio próprio e das pandilhas económico-politico-partidárias que os têm mantido no poder.

Poucos dias após Passos Coelho ter assumido a direção do PSD também surgiu com a sugestão de que os políticos deveriam concordar em abdicar de cinco por cento dos seus ordenados. Afinal uma mais que módica quantia, um faz de conta que Passos Coelho avançou e de que não mais falou, quando podia sugerir aos deputados do PSD, aos gestores e outros tacho-dependentes do seu partido que tomassem essa decisão em uníssono para ver quem o seguia… Mas Passos Coelho disse o que disse, sugeriu o que sugeriu, só para ficar bem na fotografia e nas colunas de imprensa. Se nem no seu partido ia colher assentimento como podia ele generalizar a todos os políticos? Ele sabia-o. Não foi uma proposta a sério. Serviu para percebermos quem é e o que esperar de Passos Coelho. Mais um desonesto da política.

Nem Coelho, nem Sócrates, nem político algum de Portugal pode afirmar ter a consciência tranquila, como o fez Vieira da Silva. Aliás, pode fazê-lo mas o mais certo será concluirmos que na realidade não tem consciência. Ora se estamos perante políticos sem consciência, cheios de gula por sorver o mais possível para eles enquanto for permitido, como pode este ministro ou outros falarem-nos de consciência? De consciências tranquilas? Mas que falta de consciência em relação aos seus péssimos desempenhos. Em relação ao país real. Em relação à penúria para onde há décadas nos vêm conduzindo sem que não se aumentem, nem que não garantam mais e maiores benefícios para eles próprios.

Acresce que os vinte por cento sugeridos pelo bispo auxiliar de Lisboa são muito pouco significativos se tomarmos em consideração quanto nos custa cada deputado por mês. Boa vontade do bispo, é facto, mas uma gota de água nos oceanos dos escandalosos saques com que os deputados e praticamente todos os políticos se têm locupletado em prejuízo dos interesses nacionais.

A proposta do bispo não é bastante. Medidas sérias de crise deveriam reduzir em cerca de 40 por cento o número de deputados, reduzir igualmente em 30 por cento as remunerações e mordomias, aumentar-lhes o período de prestação de serviço para obtenção da reforma igualando-o ao regime geral, reduzir em 40 por cento as despesas da Assembleia da República, e…

Isso é que seria moralização e reposição da credibilização e decência dos políticos nacionais. Não só na AR mas em tudo e todos pertencentes às famílias politico-partidárias que se têm alternado no poder. Que se têm governado. E bem, demais. Sabendo, como é notório, que eles não aceitariam tais cortes orçamentais como podemos ter-lhes respeito ou dar-lhes crédito?

Por uma questão de consciência da realidade nacional é que não existe modo de acreditar em Vieira da Silva e muito menos em outros da sua estirpe. Salvo raras e honrosas excepções (ainda há?), são todos farinha do mesmo saco. Desde a presidência da república aos governos, aos deputados, aos gestores, aos boys e girls… É sacar vilanagem.

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