quinta-feira, 26 de agosto de 2010

GOVERNAR NÃO SE APRENDE NA ESCOLA


LEILA CORDEIRO – DIRETO DA REDAÇÃO

Nos anos 60, o brasileiro foi às ruas para protestar contra a ditadura. Nos anos 70, para pedir a anistia dos presos políticos exilados no exterior. Nos anos 80, multidões pediram as eleições diretas. Nos anos 90, o impeachment de Collor. Mas a partir da virada do século e também do milênio, em 2000, parece que o povo brasileiro se aquietou, os ânimos se acalmaram e nunca mais se viu manifestações populares nas ruas.

Mas foi com a eleição de Lula em 2002, quando pela primeira vez em Brasília um presidente foi praticamente carregado nos braços do povo, que o brasileiro passou a respirar um ar mais puro de democracia, fazendo-o confiar mais em seu próprio país. Lula chegou ao poder depois de três tentativas, e quando assumiu o cargo foi como se ele já tivesse sido presidente antes, tamanha a certeza e auto-confiança com que governou nesses oito anos.

Lula enfrentou os mais raivosos adversários e as denúncias de todo o tipo de corrupção; teve que fazer alianças nunca antes imaginadas por ele, nem por ninguém, para poder governar com tranquilidade; desafiou todas as oligarquias ao dizer claramente que não tinha conseguido estudar nos bancos de uma escola, só nos da vida. O que causou revolta e desprezo naqueles que nunca deixaram de ofendê-lo publicamente. Fizeram da Internet palco para gozações e humilhações ao presidente, que deve e tem que ser respeitado acima de todas as diferenças e preconceitos sociais.

Não pretendo tomar partido de Lula, até porque minhas palavras não teriam sentido nem credibilidade. Apenas consigo ver sem os olhos das paixões partidárias o valor de um homem que conseguiu chegar tão longe, apesar de ter tudo para não dar certo na vida. Estudo, educação esmerada, dinheiro, berço, etc. Ele simplesmente foi à luta. Cresceu pobre e sem muitas perspectivas de sucesso, já que não conseguira seguir nenhuma carreira daquelas tradicionais que sempre abrem portas no mercado de trabalho.

Na juventude, o operário de fábrica descobriu em seu ambiente de trabalho que queria mais para a sua categoria, vendo operários passarem dificuldades com salários injustos. Passou a lutar pelos seus direitos e de seus colegas, priorizando a solidariedade através do discurso que aprendeu com a sua própria experiência de vida. A conhecida facilidade de comunicação de Lula não foi cultivada nos bancos escolares, vem da época dos discursos na porta das fábricas.

Agora Lula está chegando ao fim da sua trajetória com tantas vitórias que é difícil enumerá-las. A mais evidente e importante, sem dúvida, foi a de ter alçado o Brasil a nível de superpotência com a outrora “impagável” dívida externa paga e um PIB de fazer inveja a qualquer país desenvolvido e poderoso. Além de ter melhorado a vida de milhões de brasileiros que hoje estão devolvendo a ele o que ganharam durante todos esse anos: os 18 pontos a mais de Dilma sobre Serra, nas últimas pesquisas.

Evidentemente, nada é suficiente para que seus raivosos rivais passem a ter mais respeito pelo que Lula representa e representou durante esses oito anos, um estadista. Vão pintá-lo sempre como mais um populista de esquerda como outros governantes da América Latina, mas não adianta. Para desespero dos que sempre o humilharam e o diminuíram por sua pouca educação e erros de gramática, resta apenas a lição de que governar com carisma, competência, inteligência, perspicácia e credibilidade não se aprende na escola!

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