IVAN LESSA - Colunista da BBC Brasil
Há mais de três décadas que monótona e pouco imaginativamente venho passando 3 ou 4 semanas de férias de verão em Portugal, na para mim encantadora cidade balneária de Cascais.
Injustiça minha. Não há monotonia, nem falta de imaginação. Eu gosto mesmo da cidade. A cada ano mais bem cuidada (e mais carinha, bem mais carinha também), mais pra frentex, conforme já se disse.
Sim, o progresso, juntamente com a ordem, tem suas vantagens. Chato para os saudosistas, mas verdade.
Me entendam bem, já bati um pouco de perna por este mundo de Deus, o Diabo e Terras de Sóis.
Conheço um pouco mais que de vista aquilo que, nos circuitos diplomáticos, já foi chamado de Elizabeth Arden (Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido), mas não sou homem de muitas novidades.
Dado o adiantado da hora, Ulan Bator terá de ficar para uma próxima encarnação, se eu tiver o azar de 1) existi-las e 2) pegar uma pela popa e proa. Enquanto isso, bate julho e agosto, e eu sigo para Portugal, nosso avozinho, como já o chamamos.
Lá, mais uma vez confesso, até às paredes, ao contrário do fado famoso, continuo insistindo em minha lassidão, preguiça ou dêem-lhe lá o nome que quiserem.
Lá, solfejava eu, fico pela piscina mesmo, pegando sol, lendo Saramago (que deixou muito para eu ler, que Deus o tenha), um pouquinho de policial sueco e o jornal do dia. Por volta de 1 ou 2 faço umas sandes (podem chamar de sanduíches) e volto aos carinhos tórridos do astro-rei e às águas azuis e cloradas da mãe-piscina.
É o que me basta. É o que sobrou. Depois, é claro, às sardinhas. E constatar o espantoso fenômeno da proliferação de meus compatriotas vivendo e, possivelmente, espero, trabalhando, em Cascais.
Estão sempre aconchegando-se em brados retumbantes a um telemóvel (mas podem chamar de celular) e, ao cabo de algum tempo, não conseguem, mas não conseguem mesmo, atingir a invisibilidade dos, para dar dois exemplos, ucranianos ou polacos (mas podem chamar de poloneses).
Informam-me que a Costa da Caparica é o lugar preferido pelos brasileiros ilegais. Não a conheci quando habitada por legais, não será agora que até lá farei uma excursão.
Isto é o que me contou um jornal. Jornal vive com história. Todas desinteressantes para mim, que não me chamo Manuel, Nuno, Miguel e, acho, nunca morei em Niterói, para adaptar uma piada mais velha do que eu.
Os dramas políticos, eu os desprezo em qualquer língua ou sotaque. Sobram os assuntos de todos os anos: florestas queimadas e desastres rodoviários. Triste, muito triste. Passo, pois, direto, para os editoriais, que, como é do feitio do gênero, não querem dizer rigorosamente nada. E o nada sempre me divertiu um pouco.
Vez por outra, uma notícia me chama a atenção. Este ano o fato (vamos chamar de facto) que mais me despertou o interesse foi o de que Portugal passou a ser a primeira potência no mundo ocidental a adotar uma lei que impõe limites ao teor de sal no pão.
Produzir e vender pão com mais de 1,4 gramas de sal (por produto final ou 0,55 gramas de sódio) pode agora ser punido com coimas (vá lá que seja: com multas) de até 5 mil euros, estipula a legislação do dia 12 de agosto, talvez até justamente na hora em que eu preparava um sanduichinho de queijo flamengo com fiambre e pão carcaça para poder depois retornar aos banhos.
Os senhores panificadores garantiram que já estavam a cumprir, na maior parte dos casos, a saudável (dizem) iniciativa.
De fora ficaram nomes protegidos, feito certos vinhos raros, como a broa de Avintes e o pão de Favaios, que passaram de imediato a fazer parte de minha agenda cultural gastronômica lusa.
Os Estados Unidos de Obama podem não saber direito o que fazer no e do Iraque ou Afeganistão, mas, garante-me a fidedigna publicação onde colhi estes dados, que as devidas autoridades americanas já estão a debater (quase que eu digito “debatendo”) a possibilidade de introduzir, mediante legislação, limites a seu consumo diário de sal.
De resto, em matéria de Portugal, é o que, este ano, escolhi para reter na memória. O resto pode não ter sido silêncio (ah, brasileiros a celularizar em público!), mas, para quem foi em busca de algum descanso, basta. Bastou.
Há mais de três décadas que monótona e pouco imaginativamente venho passando 3 ou 4 semanas de férias de verão em Portugal, na para mim encantadora cidade balneária de Cascais.
Injustiça minha. Não há monotonia, nem falta de imaginação. Eu gosto mesmo da cidade. A cada ano mais bem cuidada (e mais carinha, bem mais carinha também), mais pra frentex, conforme já se disse.
Sim, o progresso, juntamente com a ordem, tem suas vantagens. Chato para os saudosistas, mas verdade.
Me entendam bem, já bati um pouco de perna por este mundo de Deus, o Diabo e Terras de Sóis.
Conheço um pouco mais que de vista aquilo que, nos circuitos diplomáticos, já foi chamado de Elizabeth Arden (Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido), mas não sou homem de muitas novidades.
Dado o adiantado da hora, Ulan Bator terá de ficar para uma próxima encarnação, se eu tiver o azar de 1) existi-las e 2) pegar uma pela popa e proa. Enquanto isso, bate julho e agosto, e eu sigo para Portugal, nosso avozinho, como já o chamamos.
Lá, mais uma vez confesso, até às paredes, ao contrário do fado famoso, continuo insistindo em minha lassidão, preguiça ou dêem-lhe lá o nome que quiserem.
Lá, solfejava eu, fico pela piscina mesmo, pegando sol, lendo Saramago (que deixou muito para eu ler, que Deus o tenha), um pouquinho de policial sueco e o jornal do dia. Por volta de 1 ou 2 faço umas sandes (podem chamar de sanduíches) e volto aos carinhos tórridos do astro-rei e às águas azuis e cloradas da mãe-piscina.
É o que me basta. É o que sobrou. Depois, é claro, às sardinhas. E constatar o espantoso fenômeno da proliferação de meus compatriotas vivendo e, possivelmente, espero, trabalhando, em Cascais.
Estão sempre aconchegando-se em brados retumbantes a um telemóvel (mas podem chamar de celular) e, ao cabo de algum tempo, não conseguem, mas não conseguem mesmo, atingir a invisibilidade dos, para dar dois exemplos, ucranianos ou polacos (mas podem chamar de poloneses).
Informam-me que a Costa da Caparica é o lugar preferido pelos brasileiros ilegais. Não a conheci quando habitada por legais, não será agora que até lá farei uma excursão.
Isto é o que me contou um jornal. Jornal vive com história. Todas desinteressantes para mim, que não me chamo Manuel, Nuno, Miguel e, acho, nunca morei em Niterói, para adaptar uma piada mais velha do que eu.
Os dramas políticos, eu os desprezo em qualquer língua ou sotaque. Sobram os assuntos de todos os anos: florestas queimadas e desastres rodoviários. Triste, muito triste. Passo, pois, direto, para os editoriais, que, como é do feitio do gênero, não querem dizer rigorosamente nada. E o nada sempre me divertiu um pouco.
Vez por outra, uma notícia me chama a atenção. Este ano o fato (vamos chamar de facto) que mais me despertou o interesse foi o de que Portugal passou a ser a primeira potência no mundo ocidental a adotar uma lei que impõe limites ao teor de sal no pão.
Produzir e vender pão com mais de 1,4 gramas de sal (por produto final ou 0,55 gramas de sódio) pode agora ser punido com coimas (vá lá que seja: com multas) de até 5 mil euros, estipula a legislação do dia 12 de agosto, talvez até justamente na hora em que eu preparava um sanduichinho de queijo flamengo com fiambre e pão carcaça para poder depois retornar aos banhos.
Os senhores panificadores garantiram que já estavam a cumprir, na maior parte dos casos, a saudável (dizem) iniciativa.
De fora ficaram nomes protegidos, feito certos vinhos raros, como a broa de Avintes e o pão de Favaios, que passaram de imediato a fazer parte de minha agenda cultural gastronômica lusa.
Os Estados Unidos de Obama podem não saber direito o que fazer no e do Iraque ou Afeganistão, mas, garante-me a fidedigna publicação onde colhi estes dados, que as devidas autoridades americanas já estão a debater (quase que eu digito “debatendo”) a possibilidade de introduzir, mediante legislação, limites a seu consumo diário de sal.
De resto, em matéria de Portugal, é o que, este ano, escolhi para reter na memória. O resto pode não ter sido silêncio (ah, brasileiros a celularizar em público!), mas, para quem foi em busca de algum descanso, basta. Bastou.
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