Contestação prolonga-se desde as controversas eleições em Novembro de 2010 (Thierry Gouegnon/Reuters)
Luísa Teixeira da Mota – Público - 29 março 2011
França insiste na intervenção da comunidade internacional
Quatro meses depois do início de uma crise eleitoral que fez da Costa do Marfim palco de uma guerra civil entre forças ligadas a Alassane Ouattara – o Presidente reconhecido pela comunidade internacional – e as forças leais a Laurent Gbagbo – que recusa ceder o poder - os combatentes pró-Ouattara iniciaram uma nova ofensiva militar, abrindo duas novas frentes.
No leste, os combatentes atacaram as cidades de Laodiba, perto de Bondouku, e avançaram para Daloa, no Sul. A Ocidente, os rebeldes afirmam ter tomado a cidade de Duékoué, uma cidade estratégica e porto de entrada da principal zona de produção de cacau, que estava nas mãos dos apoiantes de Gbagbo desde 2003, ano em que terminou a última guerra civil.
Os combates entre as forças fiéis a Gbagbo e os apoiantes de Ouattara duraram várias horas, mas no final da tarde os apoiantes do Presidente reconhecido já declaravam controlar “inteiramente” a cidade.
Os novos confrontos acontecem numa altura em que a violência no país, segundo a ONU, já fez 462 mortos, número que é elevado para quase o dobro pelo campo Ouattara. E enquanto a situação humanitária no país não pára de se degradar, perto de um milhão de pessoas viram-se obrigadas a abandonar as suas casas e mais de 20 mil abrigaram-se, nesta terça-feira, numa igreja em Duékoué, para fugir aos confrontos.
Atenta ao desenrolar dos acontecimentos, a ONU já condenou vários ataques das forças de Gbagbo considerando que podem constituir “crimes contra a humanidade” e, nesta terça-feira, a ONUCI, missão da ONU na Costa do Marfim, acusou as forças leais a Gbagbo de terem, na segunda-feira, “atirado contra civis inocentes”, em Abidjan, “fazendo uma dezena de mortos”.
Também a França se exprimiu sobre a escalada de violência sublinhando que deseja “a adopção rápida” de uma resolução da ONU que proíba a utilização de armas pesadas na Costa do Marfim. O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês sublinhou a importância de a ONUCI exercer o seu mandato com “toda a firmeza necessária”. Bernard Valero, porta-voz do Ministério, declarou que “a comunidade internacional deve agir” e pediu a Gbagbo que se conformasse com a “vontade popular”, abdicando do cargo imediatamente.
A chegada a uma solução para o conflito afigura-se cada vez mais longe com o Presidente Ouattara a recusar o enviado pela União Africana para dirimir o conflito. José Brito, ministro dos Negócios Estrangeiro de Cabo Verde, foi uma escolha rejeitada por Ouattara que declarou que o ministro era uma “escolha inapropriada” devido às relações pessoais que mantinha com Gbagbo.
Em Paris, os advogados de Ouattara lamentaram a existência de “dois pesos e duas medidas na mobilização internacional”, pedindo “o uso da força legítima” na Costa do Marfim, como acontece na Líbia.
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