PEDRO CORREIA – DELITO DE OPINIÃO
Sem réstia de pudor, Muammar Kadhafi comparou-se a Francisco Franco. Sem sombra de vergonha, comparou Bengazi de 2011 a Madrid de 1939. Não é preciso mais nada para definir o homem que asfixia a Líbia há 42 anos: para perpetuar o seu poder, não hesita em esmagar uma cidade que constitui o maior bastião rebelde invocando o modelo franquista.
Felizmente o direito de ingerência sobrepõe-se hoje ao conceito de soberania nacional, como Portugal reivindicou - e muito bem - em 1999 para defender o povo irmão de Timor-Leste contra as atrocidades cometidas pela tirania indonésia. Felizmente o Conselho de Segurança da ONU, a Liga Árabe e a União Africana não permitem que Kadhafi faça agora em Bengazi o que o caudillo fez em Madrid no termo da guerra civil espanhola.
Por cá, só o PCP prefere solidarizar-se com o ditador em vez de se mostrar solidário com o povo líbio. Os comunistas portugueses dizem-se internacionalistas, mas o único "internacionalismo" que aplaudiam era o das invasões soviéticas, obviamente à margem do direito internacional. Polónia, 1939. Finlândia, 1940. Letónia, 1940. Lituânia, 1940. Estónia, 1940. Hungria, 1956. Checoslováquia, 1968. Afeganistão, 1979. Em nenhum destes casos os povos invadidos contaram com os comunicados solidários do PCP exprimindo protesto pela «intervenção directa nos assuntos internos de um Estado soberano». Um privilégio reservado ao Franco do Magrebe, o que constitui um verdadeiro insulto a todos os comunistas que combateram o franquismo pagando com isso, tantas vezes, o preço da liberdade e da própria vida.
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