DIÁRIO LIBERDADE
Limiar e Transformação - Um importantíssimo processo político e social vem acontecendo nos EUA mas é negligenciado pela grande mídia, em meio primeiro as revoluções árabes e agora com a catástrofe no Japão.
Há algumas semanas trabalhadores e trabalhadoras do setor público mantêm ocupado o Capitólio (legislatura) do estado de Wisconsin, no noroeste dos EUA. A medida, no âmbito de uma greve geral dos professores e acompanhado por manifestações multitudinárias em Madison (capital), ganhou apoio de estudantes que apóiam seus professores, de trabalhadores da construção civil, metalúrgicos e da população em geral.
Os trabalhadores se mobilizam contra a lei impulsionada pelo governador republicano Scott Walker que, além de cortar os salários (já congelados por uma medida anunciada por Obama em novembro de 2010), atenta diretamente contra os sindicatos, eliminando seu direito de negociar coletivamente. A desculpa é a mesma usada no Brasil para atacar os servidores públicos e aplicar cortes no orçamento: o déficit público.
A medida reacionária do governador Walker se apóia em uma realidade de desemprego e pobreza, onde os trabalhadores do setor privado vêm sendo duramente golpeados. Com o argumento direitista de que "os trabalhadores públicos recebem bons salários e possuem muitos benefícios" tentam dividir a as fileiras da classe trabalhadora. Buscam com isso uma base social reacionária para aplicar os planos de ataques, que apenas atingem a classe trabalhadora e o povo, com baixos salários, cortes orçamentários na saúde e educação e pobreza. Na verdade, a burguesia dos EUA pretende transferir suas perdas com a crise econômica iniciada em 2008 para os trabalhadores. Os estados e o governo federal estão em situação financeira ainda mais difícial após socorro aos bancos e empresas, e agora atacam ainda mais os trabalhadores e os usuários do serviço público.
Esta batalha política, que começou em Wisconsin e ameaça se estender à outros estados, como já sucede em Ohio e Indiana, tem colocado em movimento muitos atores no cenário político. A mobilização em Wisconsin mostra potencialmente a entrada dos trabalhadores em defesa dos seus direitos.
Chamada à ação
[Flávia Pardini] Cenas quase inimagináveis ocorreram nas semanas que passaram em Madison, capital do estado americano de Wisconsin.
Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra um projeto do governador e apoiar os sindicatos. Isso em um país em que a sindicalização e o poder dos sindicatos diminuem há olhos vistos há décadas. Dessa vez, porém, o ataque parece ter sido grande demais e muita gente se dispôs a agir, juntando-se a manifestações em frente ao Parlamento estadual.
O governador Scott Walker, republicano eleito em novembro, apresentou projeto para equilibrar o orçamento que prevê o corte de benefícios aos funcionários públicos e um ponto ainda mais polêmico, limites à negociação coletiva para o funcionalismo público. Na prática, trata-se de tirar dos sindicatos sua principal arma na batalha por melhores condições de trabalho. Desde meados de fevereiro, manifestantes protestam contra o projeto – que foi aprovado na Câmara dos Deputados – e os senadores democratas, minoria no Senado, deixaram o estado para impedir quorum para votar a matéria. Na última quarta-feira, os republicanos adotaram uma manobra que possibilitou a votação e a aprovação do projeto, sem debate e com 14 senadores ausentes.
Os sindicatos haviam concordado em aumentar a percentagem que os funcionários públicos contribuem para suas pensões e assistência médica e apontam que o projeto, mais do que equilibrar o orçamento, tem como objetivo neutralizar os sindicatos em Wisconsin, um estado com fortes raízes trabalhistas. Em vários estados americanos, os funcionários públicos não contam com a possibilidade de negociar coletivamente e, diante dos crescentes déficits orçamentários estaduais, vários outros estudam seguir o caminho de Wisconsin.
O elemento mais surpreendente em Wisconsin, entretanto, foi a disposição de muita gente de deixar o conforto do lar e enfrentar o frio para protestar sobre uma questão política. Analistas acreditam que os protestos de Madison podem ser o embrião da reação Democrata depois da vitória dos republicanos – com ajuda do chamado Tea Party, um movimento conservador que defende o corte de gastos públicos e menor taxação – nas últimas eleições.
Alguns esperam que Madison seja um "tipping point" para a mobilização política nos EUA, assim como os acontecimentos na Tunísia detonaram eventos em vários outros países do Oriente Médio. "Esses protestos talvez sejam o primeiro sinal de que o aprofundamento da crise econômica de 2008 pode empurrar muitos americanos para um tipo de política do protesto ausente deste país desde os anos 1930", escreveu o socialista Billy Wharton.
Tal esperança talvez seja um tanto demasiada. Mas parte do movimento ambientalista acredita que é preciso aproveitar o momento. Os chefes de três importantes organizações – 350.org, Greenpeace e Rainforest Alliance – reforçaram nos últimos dias sua chamada à ação em defesa da justiça climática. "Do emocionante advento do movimento pela liberdade no Norte da África e no Oriente Médio à surpreendente defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores em Wisconsin, estamos vendo a força e a efetividade que as pessoas comuns podem ter quando se juntam", escreveram.
Bill McKibben, da 350.org, diz que é preciso comunicar a urgência da situação diante das mudanças climáticas. "Uma das maneiras com que fazemos isso nesse país é com ação das massas e desobediência civil. É difícil e pode causar problemas, mas é algo que precisa ser parte do que fazemos". A utilidade da ação em massa e de atos de desobediência civil, segundo ele, é relembrar as pessoas sobre quem são os radicais nessa história. "Os radicais não são as pessoas tentando fechar usinas a carvão nos EUA, os radicais são as pessoas dispostas a duplicar a quantidade de carbono na atmosfera e ver o que acontece".
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Limiar e Transformação - Um importantíssimo processo político e social vem acontecendo nos EUA mas é negligenciado pela grande mídia, em meio primeiro as revoluções árabes e agora com a catástrofe no Japão.
Há algumas semanas trabalhadores e trabalhadoras do setor público mantêm ocupado o Capitólio (legislatura) do estado de Wisconsin, no noroeste dos EUA. A medida, no âmbito de uma greve geral dos professores e acompanhado por manifestações multitudinárias em Madison (capital), ganhou apoio de estudantes que apóiam seus professores, de trabalhadores da construção civil, metalúrgicos e da população em geral.
Os trabalhadores se mobilizam contra a lei impulsionada pelo governador republicano Scott Walker que, além de cortar os salários (já congelados por uma medida anunciada por Obama em novembro de 2010), atenta diretamente contra os sindicatos, eliminando seu direito de negociar coletivamente. A desculpa é a mesma usada no Brasil para atacar os servidores públicos e aplicar cortes no orçamento: o déficit público.
A medida reacionária do governador Walker se apóia em uma realidade de desemprego e pobreza, onde os trabalhadores do setor privado vêm sendo duramente golpeados. Com o argumento direitista de que "os trabalhadores públicos recebem bons salários e possuem muitos benefícios" tentam dividir a as fileiras da classe trabalhadora. Buscam com isso uma base social reacionária para aplicar os planos de ataques, que apenas atingem a classe trabalhadora e o povo, com baixos salários, cortes orçamentários na saúde e educação e pobreza. Na verdade, a burguesia dos EUA pretende transferir suas perdas com a crise econômica iniciada em 2008 para os trabalhadores. Os estados e o governo federal estão em situação financeira ainda mais difícial após socorro aos bancos e empresas, e agora atacam ainda mais os trabalhadores e os usuários do serviço público.
Esta batalha política, que começou em Wisconsin e ameaça se estender à outros estados, como já sucede em Ohio e Indiana, tem colocado em movimento muitos atores no cenário político. A mobilização em Wisconsin mostra potencialmente a entrada dos trabalhadores em defesa dos seus direitos.
Chamada à ação
[Flávia Pardini] Cenas quase inimagináveis ocorreram nas semanas que passaram em Madison, capital do estado americano de Wisconsin.
Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra um projeto do governador e apoiar os sindicatos. Isso em um país em que a sindicalização e o poder dos sindicatos diminuem há olhos vistos há décadas. Dessa vez, porém, o ataque parece ter sido grande demais e muita gente se dispôs a agir, juntando-se a manifestações em frente ao Parlamento estadual.
O governador Scott Walker, republicano eleito em novembro, apresentou projeto para equilibrar o orçamento que prevê o corte de benefícios aos funcionários públicos e um ponto ainda mais polêmico, limites à negociação coletiva para o funcionalismo público. Na prática, trata-se de tirar dos sindicatos sua principal arma na batalha por melhores condições de trabalho. Desde meados de fevereiro, manifestantes protestam contra o projeto – que foi aprovado na Câmara dos Deputados – e os senadores democratas, minoria no Senado, deixaram o estado para impedir quorum para votar a matéria. Na última quarta-feira, os republicanos adotaram uma manobra que possibilitou a votação e a aprovação do projeto, sem debate e com 14 senadores ausentes.
Os sindicatos haviam concordado em aumentar a percentagem que os funcionários públicos contribuem para suas pensões e assistência médica e apontam que o projeto, mais do que equilibrar o orçamento, tem como objetivo neutralizar os sindicatos em Wisconsin, um estado com fortes raízes trabalhistas. Em vários estados americanos, os funcionários públicos não contam com a possibilidade de negociar coletivamente e, diante dos crescentes déficits orçamentários estaduais, vários outros estudam seguir o caminho de Wisconsin.
O elemento mais surpreendente em Wisconsin, entretanto, foi a disposição de muita gente de deixar o conforto do lar e enfrentar o frio para protestar sobre uma questão política. Analistas acreditam que os protestos de Madison podem ser o embrião da reação Democrata depois da vitória dos republicanos – com ajuda do chamado Tea Party, um movimento conservador que defende o corte de gastos públicos e menor taxação – nas últimas eleições.
Alguns esperam que Madison seja um "tipping point" para a mobilização política nos EUA, assim como os acontecimentos na Tunísia detonaram eventos em vários outros países do Oriente Médio. "Esses protestos talvez sejam o primeiro sinal de que o aprofundamento da crise econômica de 2008 pode empurrar muitos americanos para um tipo de política do protesto ausente deste país desde os anos 1930", escreveu o socialista Billy Wharton.
Tal esperança talvez seja um tanto demasiada. Mas parte do movimento ambientalista acredita que é preciso aproveitar o momento. Os chefes de três importantes organizações – 350.org, Greenpeace e Rainforest Alliance – reforçaram nos últimos dias sua chamada à ação em defesa da justiça climática. "Do emocionante advento do movimento pela liberdade no Norte da África e no Oriente Médio à surpreendente defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores em Wisconsin, estamos vendo a força e a efetividade que as pessoas comuns podem ter quando se juntam", escreveram.
Bill McKibben, da 350.org, diz que é preciso comunicar a urgência da situação diante das mudanças climáticas. "Uma das maneiras com que fazemos isso nesse país é com ação das massas e desobediência civil. É difícil e pode causar problemas, mas é algo que precisa ser parte do que fazemos". A utilidade da ação em massa e de atos de desobediência civil, segundo ele, é relembrar as pessoas sobre quem são os radicais nessa história. "Os radicais não são as pessoas tentando fechar usinas a carvão nos EUA, os radicais são as pessoas dispostas a duplicar a quantidade de carbono na atmosfera e ver o que acontece".
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