Helena Geraldes, Susana Almeida Ribeiro, Ricardo Garcia – Público – 22 março 2011
Tokyo Electric Power Company (Tepco)
O vice-presidente da Tepco, Norio Tsuzumi, pediu desculpas durante uma visita a um ginásio em Tamura, transformado num centro de abrigo para as pessoas que tiveram de fugir por causa das radiações. "Lamentamos ter-vos causado tanto sofrimento", disse o responsável, citado pela agência japonesa de notícias Kyodo.
"Peço as mais sinceras desculpas. A nossa empresa causou ansiedade e danos aos habitantes em redor da central, da província de Fukushima e de todo o país", disse em conferência de imprensa.
Pela primeira vez, um responsável da Tepco visitou um centro de refugiados. 200 mil habitantes foram retirados da zona num raio de 20 quilómetros em redor da central Fukushima Daiichi e num raio de dez quilómetros em redor da central Fukushima Daini. O responsável reconheceu que tardou até que algum responsável da Tepco fosse ao local. "A minha visita é tardia porque tive de gerir este problema com o Governo" em Tóquio, sublinhou, citado pela AFP.
Ontem, a empresa admitiu que as suas centrais nucleares na província de Fukushima foram atingidas por uma onda com 14 metros de altura, no dia 11 de Março, noticia a estação de televisão japonesa NHK. Isso era mais do dobro do máximo expectável.
A empresa avaliou ontem o estado dos muros das centrais de Fukushima Daiichi e Fukushima Daini e concluiu que a onda se ergueu 14 metros acima do nível do mar. O esperado era apenas uma onda de 5,7 metros em Daiichi e uma de 5,2 metros em Daini. Os edifícios dos reactores e turbinas situam-se em locais a dez e 13 metros acima do nível do mar e ficaram parcialmente inundados.
A Tepco reconheceu que subestimou o sismo, estimando em 8 a sua magnitude, e admitiu que o tremor de terra ultrapassou aquilo que previa.
Tepco, empresa privada, é responsável pela distribuição de electricidade em Kanto, uma região do Centro-Este da grande ilha de Honshu, incluindo Tóquio.
Prosseguem tentativas de arrefecimento
Enquanto isso, as equipas de emergência lutam por estabilizar a central de Fukushima. Os trabalhos foram retomados depois de uma suspensão causada por fumo branco dos reactores 2 e 3.
Os bombeiros estão a lançar grandes quantidades de água sobre a piscina onde estão armazenadas as barras de combustível usado nos edifícios do reactor 3 e 4. Um camião com um braço articulado de 50 metros de extensão - normalmente utilizado para betonagem na construção civil - começou a ser empregue hoje para injectar água nos reactores. Um outro camião, com um braço de 62 metros, também está a caminho de Fukushima, vindo da China, devendo ao porto de Osaka amanhã ou quinta-feira. Servirá, principalmente, para as operações junto do edifício do reactor 4, com 46 metros de altura.
Quatro reactores foram alvo de explosões e houve fuga de radioactividade para o exterior. De lá para cá, os reactores têm sido arrefecidos com o lançamento de grandes quantidades de água do mar.
Fumo não trava trabalhos
Apesar de fumo branco, possivelmente vapor, estar a ser continuamente libertado dos edifícios dos reactores 2 e 3, a Tepco garante que os trabalhos para recuperar o sistema eléctrico não foram suspensos, dado que os níveis de radiação não são significativos.
Os trabalhadores da Tepco conseguiram esta madrugada (hora portuguesa) ligar a energia no reactor 1 e, horas depois, no reactor 4. Com estes mais recentes avanços, todos os seis reactores já têm acesso a energia externa. Mas ainda é preciso realizar testes para repor em funcionamento os sistemas eléctricos da central. O reactor 2 deverá ser o primeiro a recuperar o sistema de arrefecimento da sua piscina de combustível nuclear usado.
O sismo e tsunami do passado dia 11 cortaram a energia em todos os reactores, impedindo o seu normal arrefecimento.
Hoje, em conferência de imprensa, o porta-voz da Agência japonesa para a Segurança Nuclear, Hidehiko Nishiyama, informou que a Tepco pretende recuperar amanhã o equipamento de monitorização e as funções da sala de controlo dos edifícios dos reactores 1 e 2. Até quinta-feira será a vez dos reactores 3 e 4. De momento, os funcionários não podem permanecer na sala de controlo por muitas horas, devido aos níveis de radiação. Radioactividade no marO ministro da Indústria, Banri Kaieda, disse hoje numa outra conferência de imprensa que a situação em Fukushima continua a ser "extremamente difícil". "Não é fácil dizer que estamos a fazer progressos", acrescentou, citado pela Kyodo.
Ontem foram detectadas substâncias radioactivas no Pacífico, próximo da central nuclear de Fukushima 1. Segundo a empresa Tepco foi detectado iodo radioactivo na água do mar em concentrações 127 vezes superior ao limite permitido. A presença de césio-134 chega a 25 vezes o limite e de césio-137, 16 vezes.
As autoridades japonesas pediram hoje um reforço do controlo sobre o pescado e marisco. O Ministério da Saúde pediu às províncias de China e Ibaraki, a Este de Tóquio, para reforçar o controlo e os programas de inspecção dos produtos pescados ao longo das suas costas.
A Agência das Pescas lembrou que muitas das infra-estruturas locais ficaram destruídas pelo tsunami e que os pescadores ainda não retomaram o seu trabalho. "A indústria do pescado ficou devastada entre Aomori (Norte) e Chiba, em especial nas províncias de Iwate, Miyagi, Fukushima e Ibaraki", disse Hajima Kawamura, responsável na agência governamental das pescas, citado pela AFP. "Quando a pesca for retomada, pediremos aos municípios para realizarem testes de radioactividade a fim de garantir a segurança dos produtos", acrescentou.
De acordo com a agência de imprensa Jiji, o Ministério das Ciências anunciou que vai realizar, a partir de amanhã, testes no mar em oito locais diferentes e a 30 quilómetros da costa de Fukushima.
A Tepco afirma, porém, que os valores de radioactividade agora encontrados no mar não representam perigo imediato para a saúde. “Seria necessário beber a água por um ano de modo a acumular um milisievert”, disse um responsável da Tepco, citado pela agência Reuters. Um milisievert por ano é um valor normal, sem riscos, de exposição humana à radiação.
O ministro da Defesa, Toshimi Kitazawa, revelou que helicópteros das Forças de Autodefesa vão começar a medir, todos os dias, as "alterações drásticas" de temperatura na central nuclear para "descansar as pessoas". Inicialmente estava previsto que isso acontecesse apenas duas vezes por semana. No entanto hoje, o mau tempo impediu o trabalho dos helicópteros.
As autoridades já contabilizaram até ao momento 22.641 mortos e desaparecidos.
Notícia actualizada às 11h58
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