BAPTISTA BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
A atmosfera no PSD está, verificadamente, inquinada. Alguns dos seus corifeus fazem declarações beligerantes, cujo alvo é, dizem, a "inacção" e a "excessiva prudência" de Pedro Passos Coelho. E nomeia-se Rui Rio como o homem azado para o momento azarado. Por outro lado, as sondagens não são propícias à sede de poder de muitos daqueles que vivem da ambiguidade da dádiva prestada pela política. Não é o problema português a dominar as preocupações de grupo. O que os move é a dependência pessoal, os interesses dos beneficiados pelos partidos de poder.
O PSD existe numa espécie de não-pertença. Criou um ambiente que incita à criação de grupos e que favorece, conscientemente ou não, a intriga e o confronto surdo. A lógica relacional, a construção de uma ideologia comum, que sempre configurou a ideia de "partido" não existe no PSD. As perseguições, a mordacidade com que uns acusam outros, o desfasamento doutrinário, caracterizam-no. E, em períodos difíceis, como este, de agora, as malformações emergem.
No PS, apesar das malfeitorias praticadas com displicente desdém, Sócrates é incensado. Levou o País ao desespero, quebrou numerosos laços sociais, exerceu retaliações impensáveis, mas continua a ser "o" secretário-geral. Como estes socialistas são difíceis de entender, quem desvendar o mistério que explique. Adicione-se, ainda, que as sondagens, percentualmente, dão Sócrates com escassa desvantagem de Passos Coelho.
Estaremos condenados a não nos emancipar deste pesadelo político? O regime da crise do elo social, de que falaram, entre outros, Alain Badiou e Tony Judt, comporta em si uma violência e uma bestialidade infamantes. São as normas e as esquadrias do neoliberalismo. O neoliberalismo introduziu, nas nossas sociedades, formas de orquestração dos nossos próprios sentimentos. Tanto o PS quanto o PSD corromperam parte substancial da nossa dignidade, não apenas com actos e decisões horríveis, mas, também, através de torpes exemplos.
A sociedade portuguesa está social, moral e politicamente doente. Todos o dizemos. Contudo, somos incapazes de sacudir o jugo desta subordinação escatológica. Para nos libertar do sufoco, os partidos à esquerda do PS (falo do PCP e do Bloco), sem abandonarem as suas diferenças fundamentais, têm de assumir as graves responsabilidades do poder. Protestar não chega. E parece-me extremamente fácil o acantonamento na "fortaleza cercada", enquanto cá fora as grandes lutas (e as grandes contradições decorrentes dessas lutas) continuam com objectivos cada vez mais vagos e cada vez mais perigosos.
Para se impor o conteúdo de um desígnio é necessário criar as condições sociais da possibilidade. Essas condições nascem dos encontros de uns com os outros. Faço-me entender?
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A atmosfera no PSD está, verificadamente, inquinada. Alguns dos seus corifeus fazem declarações beligerantes, cujo alvo é, dizem, a "inacção" e a "excessiva prudência" de Pedro Passos Coelho. E nomeia-se Rui Rio como o homem azado para o momento azarado. Por outro lado, as sondagens não são propícias à sede de poder de muitos daqueles que vivem da ambiguidade da dádiva prestada pela política. Não é o problema português a dominar as preocupações de grupo. O que os move é a dependência pessoal, os interesses dos beneficiados pelos partidos de poder.
O PSD existe numa espécie de não-pertença. Criou um ambiente que incita à criação de grupos e que favorece, conscientemente ou não, a intriga e o confronto surdo. A lógica relacional, a construção de uma ideologia comum, que sempre configurou a ideia de "partido" não existe no PSD. As perseguições, a mordacidade com que uns acusam outros, o desfasamento doutrinário, caracterizam-no. E, em períodos difíceis, como este, de agora, as malformações emergem.
No PS, apesar das malfeitorias praticadas com displicente desdém, Sócrates é incensado. Levou o País ao desespero, quebrou numerosos laços sociais, exerceu retaliações impensáveis, mas continua a ser "o" secretário-geral. Como estes socialistas são difíceis de entender, quem desvendar o mistério que explique. Adicione-se, ainda, que as sondagens, percentualmente, dão Sócrates com escassa desvantagem de Passos Coelho.
Estaremos condenados a não nos emancipar deste pesadelo político? O regime da crise do elo social, de que falaram, entre outros, Alain Badiou e Tony Judt, comporta em si uma violência e uma bestialidade infamantes. São as normas e as esquadrias do neoliberalismo. O neoliberalismo introduziu, nas nossas sociedades, formas de orquestração dos nossos próprios sentimentos. Tanto o PS quanto o PSD corromperam parte substancial da nossa dignidade, não apenas com actos e decisões horríveis, mas, também, através de torpes exemplos.
A sociedade portuguesa está social, moral e politicamente doente. Todos o dizemos. Contudo, somos incapazes de sacudir o jugo desta subordinação escatológica. Para nos libertar do sufoco, os partidos à esquerda do PS (falo do PCP e do Bloco), sem abandonarem as suas diferenças fundamentais, têm de assumir as graves responsabilidades do poder. Protestar não chega. E parece-me extremamente fácil o acantonamento na "fortaleza cercada", enquanto cá fora as grandes lutas (e as grandes contradições decorrentes dessas lutas) continuam com objectivos cada vez mais vagos e cada vez mais perigosos.
Para se impor o conteúdo de um desígnio é necessário criar as condições sociais da possibilidade. Essas condições nascem dos encontros de uns com os outros. Faço-me entender?
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