domingo, 6 de março de 2011

Manifestação anti-regime avança indiferente aos discursos "intimidatórios"

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SK – LUSA

Lisboa, 06 mar (Lusa) - A manifestação anti-governamental, convocada pela Internet para segunda-feira em Luanda, vai realizar-se apesar dos discursos "intimidatórios e demagógicos" do MPLA, que "já não pegam", afirmou um responsável da iniciativa, salientando que muitos angolanos sentem que é preciso pedir "mais liberdade".

Dias Chilola, um dos organizadores da manifestação convocada contra o governo de José Eduardo dos Santos disse à Lusa que, apesar das "intimidações" proferidas por vários dirigentes do MPLA ou governantes, as pessoas vão sair as ruas na segunda-feira para se manifestarem de "forma pacífica e em liberdade, porque é um direito democrático".

"Não temos números, não estamos a competir com o governo ou com o MPLA, isso não interessa. O que interessa é que isto é um ponto de partida para um movimento que será imparável", afirmou, acrescentando que por "mais violência que houver ou por mais que [o governo] não esteja de acordo, a vontade de as pessoas se manifestarem vai continuar".

Até podem participar "apenas uma, duas ou três pessoas, mas esse sentimento está no coração de muitos angolanos, que sabem que é necessário pedir mais democracia e liberdade para que haja mudança", vincou Chilola, para que o próprio governo "desperte e os outros partidos políticos e a sociedade civil tenham mais intervenção", acrescentou.

Dias Chilola lamentou os discursos proferidos por dirigentes do MPLA e governantes, salientando que estes "já não pegam".

"São discursos para meter medo, mas o que já não há agora é medo. Com cada dia que passa, as pessoas vão perdendo o medo, porque com medo não se vai a lado nenhum", frisou.

De acordo com Chilola é "bom que o governo comece a pensar noutro discurso, porque chamar ao próprio povo de sabotadores ou dizer que os que se manifestarem vão ser neutralizados, isso já não pega", referindo-se ao discurso proferido no sábado pelo primeiro secretário provincial de Luanda do MPLA, Bento Bento, no fim de uma marcha pró-governo que juntou dezenas de milhar de pessoas na capital angolana.

"Isso foi no tempo da guerra. Agora estamos a fazer coisas dentro da legalidade, só que eles vêm a legalidade de uma outra maneira, é um peso e duas medidas, e isso não pode ser", criticou.

É também "demagógico" acusar os manifestantes que se quiserem manifestar pacificamente "de quererem a guerra". "Essas pessoas não gostam de ouvir críticas ou coisas diferentes. Um país democrático é um país em que todas as pessoas podem falar e têm o direito de se manifestar", frisou.

O angolano de 45 anos, residente em Lisboa, lembrou que "há certas coisas que andam bem no país outras não", mas considerou que "isso é normal em democracia". Mas afirmou ser preciso "que o governo se prepare para que saiba que os angolanos sabem reclamar o direito que lhes cabe".

"Queremos viver a democracia, mas também que a democracia chegue a nos. Que as pessoas escolhidas nos expliquem quais os passos que estão a dar no sentido de melhorar essa democracia. E é por isso que vamos marchar", explicou.

Dias Chilola também refutou as acusações de que a iniciativa teria ajuda de organizações em países terceiros, salientando que "isso não tem cabimento".

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