sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ANGOLA É DELES, DE EDUARDO SANTOS E AMIGOS


José Eduardo dos Santos e amigos privatizaram e compraram Angola

NOTÍCIAS LUSÓFONAS

Alcides Sakala (UNITA) subscreve críticas feitas por Rafael Marques e reitera acusações ao regime de Luanda

A UNITA corroborou hoje em Luanda as acusações do activista cívico angolano, Rafael Marques, sobre corrupção em Angola, considerando que são reflexo das situações de “compadrio” que se instalou ao nível dos órgãos do Estado. Alcides Sakala (foto), porta voz do maior partido das oposição, reagia ao relatório de Rafael Marques intitulado “Presidência da República: O epicentro de corrupção em Angola”, divulgado na quarta-feira (e que foi Manchete aqui no Notícias Lusófonas), no qual denuncia a existência de altos oficiais da Guarda Presidencial e da Casa Militar à frente de grandes negócios.

O dirigente da UNITA disse ainda que a situação que Angola está a viver “é preocupante”, tendo em conta que “a corrupção se está a tornar institucional”.

“Tudo o que o Rafael Marques diz não é novo, é uma verdade muito sofismável e que agora o próprio Governo, preocupado em lavar a sua imagem do ponto de vista externo, procura, por artifícios internos, dar a ideia de que há de facto alguma mudança com a criação de novas leis [de combate à corrupção], que não passam de propaganda”, referiu o porta-voz da UNITA.

Alcides Sakala acrescenta que essas novas leis estão a ser criadas apenas para salvaguardarem tudo o que já conseguiram até hoje “elementos ligados ao sistema”, que “privatizaram o país”.

Por sua vez, o presidente da organização não governamental Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), António Ventura, disse que a situação apontada no relatório de Rafael Marques é “apenas a ponta de uma situação generalizada”.

Segundo António Ventura, o “epicentro da corrupção” na Presidência da República, denunciado por Rafael Marques no seu relatório (pode ler o relatório de Rafael Marques em Maka Angola) não é apenas prática neste sector.

“Nas Forças Armadas Angolanas (FAA) também se verifica a mesma situação, ao nível das forças de seguranças, da Polícia Nacional (PN) também se verifica o mesmo esquema de tráfico de influência de altos funcionários, de altos agentes da PN e das FAA estarem envolvidos também em grandes negócios”, frisou António Ventura.

Entretanto, o activista cívico reconhece também, como Rafael Marques no seu documento, que esses negócios “de origem duvidosa” podem colocar em risco a própria presidência e podem afetar o normal funcionamento de órgãos estratégicos do estado.

“É claro que do ponto de vista da estrutura da política do Estado há um nível alto de comprometimento de práticas de corrupção que de uma maneira ou de outra pode afetar o normal funcionamento desses órgãos estratégicos do estado, sobretudo porque neles estão envolvidos pessoas ligadas aos órgãos de segurança, não só da Presidência da República, mas também da segurança do próprio Estado”, salientou.

Rafael Marques, a propósito do documento que publicou, disse à agência Lusa que "membros muito próximos do Presidente da República têm usado a sua influência para privatizarem, em seu favor, parte do património público angolano e construírem um império comercial de origem bastante duvidosa”.

E Portugal também é visado

A actuação da maioria das empresas portuguesas que operam em Angola vai no sentido de garantir o status quo, "esse esquema de corrupção e libertinagem à volta dos bens públicos angolanos", denunciou Rafael Marques.

Rafael Marques criticou que as empresas internacionais que operam no país "continuem a contribuir para que a corrupção seja a principal instituição de Governo".

Segundo Rafael Marques, "quase todas as empresas portuguesas, para se estabelecerem no mercado angolano, arranjam sempre como sócio um ministro, a família presidencial ou um general, o que configura situações de tráfico de influências, de corrupção activa de dirigentes e outros actos ilícitos".

Estes negócios "só beneficiam uns poucos que concentram as riquezas de Angola e que, para garantirem o seu poder, criam uma clientela internacional bastante volumosa e dispendiosa para garantir a legitimidade dos seus actos", frisou.

"Isto não contribui para o desenvolvimento, é uma forma anormal de reforçar o poder político e económico de uma elite predadora, em detrimento de todo um povo", denuncia no documento.

Rafael Marques considera que a actuação das empresas portuguesas "não pode dar bons resultados" e que "é uma questão de mais 10 ou 20 anos", porque "não há um investimento a longo prazo, um investimento político", precisou.

Para o jornalista, é preciso "uma mudança, também para o benefício" de Portugal. "Hoje pode roubar-se muito em Angola, pilhar o Estado angolano por mais uns anos. Mas este período de saque pode ter o mesmo efeito que os 500 anos de colonização", dos quais Portugal também "acabou por não usufruir".

A este ritmo, "é o grande risco que se corre", asseverou, lembrando que muitos investimentos portugueses em Angola estão reféns da "vontade política de quem está no poder num regime déspota".

"Não se salvará a situação económica de Portugal passando por cima da miséria dos angolanos, atropelando a sua dignidade e fomentando a corrupção no país. É certamente um caminho que acabará num beco sem saída", vincou.

Rafael Marques lamentou que a visita de Cavaco Silva a Angola tenha sido apenas "uma visita de cobrança de dívidas", e que não se tenha abordado os "danos que a própria actuação das empresas portuguesas causa à estabilidade política e ao desenvolvimento de Angola, nem em que circunstâncias acontece".

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