sábado, 18 de setembro de 2010

Brasil está longe de alcançar meta de mortalidade materna até 2015

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NOTÍCIAS LUSÓFONAS – 17 setembro 2010

O Brasil não vai conseguir cumprir a meta da mortalidade materna até 2015, como estabelecido nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), porque o país ainda está longe de alcançar a redução de três quartos dos índices de 1990.

Faltam apenas cinco anos para o fim do prazo de cumprimento dos ODM e, até agora, o Brasil já alcançou quatro dos oito ODM e pretende ter um bom desempenho até 2015.

Contudo, o país não está próximo de atingir a razão de mortalidade materna igual ou inferior a 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2015.

A razão de mortalidade materna é o indicador utilizado para acompanhar esta meta, que estima a frequência de óbitos femininos ocorridos até 42 dias após o término da gravidez.

A meta “mais complexa” é a que trata da mortalidade materna, admitiu o director de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Económica e Aplicada (IPEA), Jorge Abrahão.

“Não vamos conseguir chegar à meta estabelecida para o Brasil”, declarou o economista brasileiro responsável pelo documento com o balanço dos ODM, a ser apresentado nas Nações Unidas, na próxima semana.

Mesmo com uma redução significativa desde 1990, a mortalidade materna no Brasil ainda permanece elevada.

Em 1990, ocorriam 140 óbitos por 100 mil nados vivos (NV), enquanto em 2007, o índice declinou para 75 óbitos por 100 mil NV, o que representa uma diminuição de 46 por cento neste período.

Abrahão reconhece que um dos maiores desafios é melhorar a investigação dos óbitos, além de aperfeiçoar a qualidade da atenção ao parto e ainda reduzir a proporção de partos por cesariana.

“O sistema público tem que actuar fortemente. Na mortalidade materna temos um problema a tratar devido à subnotificação. Mas essa não é apenas uma realidade do Brasil, é da América Latina como um todo”, argumenta.

O país, acrescenta o economista, realiza muitos partos por cesariana o que “tende a aumentar a mortalidade”.

O Brasil é o campeão mundial de cesarianas. Os dados são alarmantes. Só no sector privado de saúde, a taxa de cesarianas atinge 80 por cento, enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS), no sector público, gira em torno de 30 por cento.

O risco de uma mulher morrer em consequência, ou durante o parto de cesariana, é quatro vezes maior que no caso de parto normal. E a cesariana também eleva para 10 vezes o risco de morte neonatal.

O Brasil poderia reduzir os altos índices de mortalidade materna se adoptasse medidas que requerem o mínimo de intervenção cirúrgica no parto, defende.

Não foi o que aconteceu com a esposa do advogado João Paulo Lins e Silva, de 37 anos. Mesmo optando por um parto normal, a jovem empresária Bruna Bianchi, de 34 anos, morreu, em Agosto de 2008, após sofrer graves complicações no parto e intervenções cirúrgicas para tentar salvá-la. A pequena Chiara, que hoje tem dois anos, sobreviveu.

“Foi uma tragédia após a outra. Foi uma série de erros e complicações”, disse à Lusa o jovem pai que hoje, com o apoio da família de Bruna, se desdobra nos papéis de mãe e pai para cuidar de Chiara.

A dor da perda da esposa teve um impacto muito grande. “Tive que me blindar emocionalmente, foi uma fase complicada. Hoje lido bem com esta situação”, afirma João Paulo.

O pai de Chiara atribui a morte da esposa a uma série de erros e omissões por parte da equipa médica.

O parto foi realizado numa clínica privada no Rio de Janeiro. “Se tivesse sido feito num hospital público isso não teria ocorrido e ela não teria morrido”, declarou o advogado.
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