sábado, 18 de setembro de 2010

Portugal pode contar na ONU com a CPLP e alguns amigos estratégicos

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TERESA DE SOUSA – PÚBLICO – 18 setembro 2010

Lisboa aposta em voltar ao Conselho de Segurança em 2011

Na eleição dos membros não-permanentes do Conselho de Segurança, Portugal enfrenta a Alemanha e o Canadá.

Os argumentos não são muito diferentes da campanha de 1996, embora a realidade internacional tenha mudado profundamente. As possibilidades são, mais ou menos, as mesmas. Na próxima semana, Portugal jogará as últimas cartadas ao mais alto nível. Aquele que depende de um telefonema entre primeiros-ministros ou presidentes que se conhecem bem ou entre chefes da diplomacia que já travaram muitas batalhas juntos. A eleição dos membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2011-2012 é a 12 de Outubro. Portugal candidata-se pelo chamado Grupo Ocidental contra dois pesos pesados: a Alemanha e o Canadá. São três países para dois lugares. Alguém terá de ficar de fora. São precisos pelo menos 128 votos (dois terços) dos 192 países da Assembleia Geral numa eleição a duas voltas.

Aritmeticamente, Portugal aposta em que o voto dos Estados Unidos conta exactamente o mesmo que o da mais pequena das ilhas do Pacífico. Ou o de um improvável e ignorado país das Caraíbas.

"Olhe, eu sou o segundo primeiro-ministro de Portugal", disse alguém ao primeiro-ministro português, há já algum tempo. "Sou primeiro-ministro e sou português. Chamo-me Ralph Gonsalves". E o seu país é a República de S. Vicente e Granadinas. Pequena ilha do Atlântico onde se fala inglês e onde ainda reina Sua Majestade, a rainha Isabel II, mas isso pouco importa. Gonsalves, com "s", envolveu-se com tal empenho na campanha portuguesa que pode garantir um bom punhado de votos nas Caraíbas, a ponto de os alemães protestarem por excesso de zelo e de os canadianos deixarem de estar tão confiantes na sua tradicional capacidade para obter apoios na Caricom (Comunidade das Caraíbas). O Governo português também fez a sua parte. As ilhas estão num processo de extensão da sua plataforma continental. Portugal tem uma vasta expertise na matéria, que pôs à sua disposição. O trabalho passou por um seminário em Lisboa.

Alemanha baralha contas

A candidatura portuguesa tem a vantagem de ter sido apresentada em 2000 (segundo Governo de António Guterres), logo depois do seu último mandato no Conselho de Segurança. O Canadá candidatou-se no ano seguinte. Não havia mais nenhuma candidatura do Grupo Ocidental para os dois lugares que lhe cabem. Tudo parecia relativamente fácil, exigindo apenas a habitual troca de favores (neste caso de votos) nos fóruns internacionais e nas negociações bilaterais. Até que, no Outono de 2006, a Alemanha resolveu inesperadamente interferir na corrida. Foi uma decisão pessoal de Angela Merkel que baralhou as contas de Lisboa e obrigou a uma mudança de estratégia. Desde então, foi preciso fazer campanha a sério, que se intensificou desde 2009. "Era preciso fazer a diferença. Não poderíamos competir no terreno deles", disse ao PÚBLICO uma fonte diplomática de Lisboa, directamente envolvida nas negociações. E o terreno "deles" é o de um país muito rico e muito poderoso, que se apresenta como o terceiro maior contribuinte para as Nações Unidas, com investimentos em todo o mundo e uma forte diplomacia. A candidatura do Canadá não tem um perfil muito diferente.

A "diferença" portuguesa resume-se num argumento simples, idêntico ao que apoiou a candidatura anterior. "Somos um país de dimensão média que pode fazer a ponte entre os poderosos e os outros, entre continentes e entre culturas", diz a mesma fonte.
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