quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Guiné-Bissau - Semana de decisões vai dominar regresso dos líderes

.

RODRIGO NUNES – PNN - LUANDA DIGITAL – 29 setembro 2010

Luanda – As comemorações dos 37 anos da independência da Guiné-Bissau ficaram marcados pela falta de comparência dos dignitários políticos e militares do país.

A ausência das figuras do Estado foi justificada oficialmente com compromissos internacionais. O Presidente Malam Bacai Sanhá deslocou-se a Nova Iorque para participar na Assembleia Geral da ONU, o Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior à China para inauguração do pavilhão guineense na Expo Shangai e o CEMGFA António Indjai e o Presidente da Assembleia Nacional Popular Raimundo Pereira ao Mali. Apesar das justificações oficiais, fontes diplomáticas em Bissau contactadas pelo Luanda Digital confirmaram que as verdadeiras razões estarão relacionadas com a procura de soluções internacionais para a instabilidade crónica dos sectores políticos e, sobretudo, militares guineenses.

Em Bissau, os rumores de regresso de Bubo Na Tchuto à Chefia militar da Marinha ganham força a cada dia que passa. Desde 01 de Abril que Bubo tem utilizado a sua liberdade para criar alianças que lhe tem permitido o reassumir do controlo das FA’s. A estratégia desenvolvida permite já a Bubo desafiar abertamente o líder dos revoltosos de Abril, António Indjai, exigindo deste a sua nomeação como comandante da Marinha.

“O Bubo tem vindo a forçar a sua posição e a aproveitar-se da inoperância habitual dos poderes políticos e judiciais guineenses. Conseguiu, quer por medo, quer por pressões, ser ilibado pelos Tribunais de todos os crimes de que era acusado e ainda obrigou Indjai, que o tinha forçado ao exílio na Gambia em 2008, a aceitar a sua reintegração sem quaisquer condições”, referem fontes diplomáticas na capital guineense ouvidas pelo Luanda Digital. As mesmas fontes referem ainda que a confirmar-se a reintegração de Bubo na Marinha, “o afastamento compulsivo de António Indjai e o restabelecimento das redes de ‘interesses’ que dominaram os últimos anos da Guiné-Bissau será uma certeza a breve prazo”, concluem.

A ausência das autoridades guineenses é por isso entendido como uma “tentativa desesperada” de recolherem apoio junto da Comunidade Internacional para evitar a concretização deste cenário. O Luanda Digital sabe que quer junto da ONU, da CEDEAO e da Comissão Europeia, foram feitos apelos pelas autoridades políticas guineenses para a entrada em Bissau de um contingente militar de Estabilização, justificados como “a única forma de impedir nova onda de instabilidade no país e combater de forma eficaz o regresso do narcotráfico”.

Os sinais em Bissau mostram a necessidade deste “contra-relógio” por parte das autoridades guineenses democraticamente eleitas. No passado sábado, a Comissão Militar de Avaliação angolana que estava na capital da Guiné-Bissau no âmbito de uma acção de cooperação técnico-militar com as FA’s Guineenses foi “convidada” a abandonar o país por Bubo Na Tchuto, oficialmente “apenas” conselheiro no Ministério da Defesa. “A missão angolana tinha uma estadia prevista de duas semanas para avaliar as necessidades guineenses. Mas ao fim de uma semana de trabalhos, a sua saída foi inesperadamente antecipada, tendo o Bubo afirmado que todo o trabalho já estava feito. O que faltava ver, se calhar, não convinha ao senhor Contra-Almirante”, confirmaram, já em Luanda, elementos da delegação lesada.

Apesar de considerar este incidente como uma “afronta”, Angola continua a mostrar-se disposta a apoiar o poder político guineense, de forma a defender os interesses escolhidos pelo povo nas últimas eleições. A participação de Angola numa missão de Estabilização na Guiné-Bissau é tida como uma “certeza” por responsáveis da Cidade Alta em Luanda, contando com o apoio tácito dos outros países da CPLP, nomeadamente Portugal, a ex-potência colonial da Guiné-Bissau, da União Africana e da CEDEAO.

Esta “certeza” assenta no facto de Angola se apresentar como o único país capaz de disciplinar as FA’s guineenses, inibindo-as de manter o monopólio do narcotráfico no país.

Com regresso previsto a Bissau para os próximos dias, as autoridades guineenses irão agora apresentar as conclusões e estudar as soluções oferecidas. Em causa estará a regresso da Guiné à Comunidade Internacional ou a continuação da política “Zig-Zig” que tem afundado o país, entre assassinatos, narcotráfico e tentativas de golpes de Estado. As próximas semanas serão, por isso, decisivas para o país.

Rodrigo Nunes (c) PNN Portuguese News Network
.

Sem comentários: