domingo, 5 de setembro de 2010

“MALABAR 2009”

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MARTINHO JÚNIOR

MAIS UM PASSO NA CONSTRUÇÃO DUMA “NATO” NO CONTINENTE ASIÁTICO

A tentativa de captar a Índia para o espectro dos relacionamentos dos Estados Unidos e de seus aliados, tanto os da NATO, como os da ANZUS e o Japão, teve agora mais uma iniciativa: aproveitou-se o exercício naval “Malabar” para transformá-lo pela segunda vez num exercício multilateral, deslocando-o desta feita para o Pacífico Ocidental, ao largo da Okinawa (1).

A evolução da situação no Afeganistão e no Paquistão está a dar a oportunidade aos Estados Unidos de se aproximar da Índia e esse facto de natureza geo estratégica tem-se tornado visível ao longo dos três últimos anos, pelo que assim a “Japan Maritime Self Defence Force” juntou-se à Índia e aos Estados Unidos no “Malabar 2009”, como já antes havia feito em 2007.

A Marinha da Índia tem sido preponderante no Índico Ocidental, chegando as suas patrulhas de longo raio de acção a atingir a cidade do Cabo (a Marinha Indiana tem excelentes relações com a “South África Navy”), (2).

Em relação ao Índico Oriental e Pacífico, a sua actividade tem sido menos intensa, mas a sua expansão pode ser realizada equacionando a sua presença entrosada com outras marinhas de guerra dessa região, como a Austrália, a Nova Zelândia, a Indonésia, a Malásia, a Coreia do Sul e o Japão, assim como com a “US Navy” que possui na região a sua 7ª Esquadra, a mais poderosa de todas, (3).

O “Malabar 2009” teve lugar de 26 de Abril a 3 de Maio, ao largo da costa de Okinawa, com a seguinte força-tarefa, (4):

- Índia – INS Mumbai (D 62), INS Ranvir (D 54), INS Khanjar (P 47) e INS Jyoti (A58).

- Japão – JDS Kurama (DDH 144) e JDS Asayuki (DD1532).

- Estados Unidos – USS Blue Ridge (LCC 19), USS Fitzgerald (DDG 62), USS Chafee (DDG 90) e o USS Seawolf (SSN 21).

O navio de comando do “Malabar 2009” foi o USS Blue Ridge (LCC19), que é a nave de comando da 7ª Frota dos Estados Unidos, a mais potente de todas, a do Pacífico.

Nele foram instalados os oficiais de comando da Índia, que supervisionaram o exercício.

O contexto evoluiu, pois à indícios de se estar a preparar a articulação dum Pacto na Ásia, que envolverá além das nações presentes, outras como a Malásia, a Indonésia, a Coreia do Sul, Singapura, a Austrália e a Nova Zelândia.

A Austrália publicou no início do ano um Livro Branco para os próximos 20 anos, onde são estabelecidas as linhas de desenvolvimento e modernização das suas Forças Armadas, levando em consideração as possibilidades de expansão da força naval chinesa e das implicações geo estratégicas numa região que tem sido dominada pelos Estados Unidos e seus aliados (ANZUS e Japão incluídos), (5).

Alguns analistas manifestaram-se de imediato contra a tendência musculada da Austrália, sem antes privilegiar a manobra político-diplomática, mas o Ministro da Defesa, Joel Fittzgibbon afirmou que a expansão prevista é sensível a uma região onde se operam e esperam grandes mudanças.

A Marinha de Guerra Australiana será reforçada com 12 submarinos, 3 destroyers de combate anti aéreo, seis navios para desembarque (multifunções) e 24 helicópteros de combate naval.

A arma submarina é muito importante para o Pacífico, não sendo de estranhar que no “Malabar 2009” tenha sido utilizada.

O reforço dessa arma na Austrália pressupõe um incremento das missões desse país num quadro evidentemente muito alargado.

Os custos do rearmamento foram estimados por alto em 70 biliões de dólares.

A Austrália tem actualmente umas forças armadas com 50.000 efectivos, com destacamentos a cumprir missões no Afeganistão, Iraque, Ilhas Salomão e Timor Loro Sae (num total de 3.000 homens).

O Livro Branco prevê que nos próximos 20 anos os Estados Unidos manterá o seu domínio naval, pelo que a aliança ANZUS manter-se-á, com tendência ao reforço, (6).

O Livro Branco foi alvo de críticas por parte de alguns analistas que não se inclinam a que a China constitua ameaça nos oceanos que cercam a Ásia Oriental e Sul, mas a posição oficial mesmo assim mantém-se, o que quer dizer que a deslocação para Oriente dos impactos militares (do Iraque par o Afeganistão e Paquistão), assim como a tentativa de alargar a NATO à Geórgia, por um lado fazem aumentar as tensões sobre a Rússia (tensões essas reforçadas com a presença militar norte americana na Ásia Central), por outro aproximam-se das fronteiras da República Popular da China.

O “Malabar 2009” pode ter sido pois um dos primeiros ensaios no sentido da criação dum Pacto, à semelhança da “NATO” que abranja as regiões do Pacífico e Índico.

Martinho Júnior - 26 de Maio de 2009.

Notas:
- (1) – Indian Navy - Malabar 2009 -
http://www.bharat-rakshak.com/NAVY/Galleries/Bridges/2009/Malabar/.
- (2) – South Africa Navy - Indian Navy Hands over a Gift of thanks to the SA Navy and to the Community of Simon’s Town -
http://www.navy.mil.za/archive/0805/080516_gift_to_SAN/article.htm.
- (3) - U.S., India, and Japan Open Malabar 2009 -
http://www.c7f.navy.mil/news/2009/04-April/18.htm.
- (4) -
Exercise Malabar 09: U.S,Japan,India to Participate Off the Coast of Okinawa,Japan - http://www.marinebuzz.com/2009/04/24/exercise-malabar-09-usjapanindia-to-participate-off-the-coast-of-okinawajapan/.
- (5) - Australian Military Buildup And The Rise Of Asian NATO -
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=13523.
- (6) – Australia – Defence White Paper 2009 -
http://www.defence.gov.au/whitepaper/docs/defence_white_paper_2009.pdf ; White paper orders huge military build-up - http://www.theaustralian.news.com.au/story/0,25197,25383010-22242,00.html.
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