
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, editorial
Moçambique é um dos países mais elogiados da África, sobretudo porque soube sair da guerra civil e do regime de partido único para um sistema democrático que funciona. Não por acaso, quando foi instituído o prémio de boa governação Mo Ibrahim para líderes africanos, o ex-presidente Joaquim Chissano foi o primeiro vencedor.
O grande mérito de Chissano, o homem que teve de substituir Samora Machel, consistiu em obter uma paz sem vencedores, mesmo que depois nas urnas a sua Frelimo se tenha sempre mostrado mais forte que a Renamo. Ao mesmo tempo, Chissano aproveitou os novos tempos para reconstruir o país, aproveitando tanto a generosa ajuda ao desenvolvimento como os investimentos estrangeiros. E quando se retirou por vontade própria entregou o testemunho a um Armando Guebuza que está no essencial a seguir o mesmo caminho.
Mas Moçambique, duas décadas após o fim da guerra civil, continua a ser um país pobre. Segundo o índice de desenvolvimento humano da ONU, só a Guiné-Bissau está pior entre os oito países da lusofonia. Boa parte dos 23 milhões de moçambicanos sobrevive com dificuldades e sente que beneficia pouco ou nada do tal êxito de desenvolvimento tão elogiado pelo mundo fora. E, quando para se comer todos os dias se tem de fazer já todos os esforços de imaginação, qualquer aumento dos preços arrisca-se a ser explosivo. Foi o que aconteceu ontem quando milhares de pessoas em Maputo protestaram contra o aumento do preço do pão, dos transportes e da electricidade. E a reacção policial acabou por gerar dez mortos.
Em Moçambique, as instituições mostraram ser sólidas. Um protesto popular , com repressão violenta, desestabilizou a capital, mas não a democracia. Mas é importante que os governantes percebam que o desenvolvimento tem de chegar a todos e, sobretudo, não dar ideia de que serve apenas para benefício de uma elite.
Portugal - Conversa mal explicada
O procurador-geral da República foi ontem chamado ao Palácio de Belém para discutir com o Presidente da República a situação da justiça portuguesa. Foi, significativamente, o primeiro acto pós-férias de Cavaco Silva. Mas se o Chefe do Estado tornou pública a audiência não quis acrescentar qualquer palavra sobre a situação do sector. Por ele, falou Pinto Monteiro, que garantiu ter as "mesmas preocupações" que o Presidente e, até, ter as mesmas condições para desempenhar o cargo que tinha quando, em 2006, foi nomeado por Cavaco e proposto por José Sócrates. Lido à letra, significa que terá a confiança política de ambos. Se assim é, pouco se percebe que a chamada de Pinto Monteiro tenha sido tornada pública pela Presidência. Que Cavaco Silva esteja "preocupado" com a justiça adivinhava-se pelo que se conhece do Chefe do Estado. Que queira saber, da boca do PGR, o que se passa mais detalhadamente também. O que era desnecessário era, um mês depois da entrevista de Pinto Monteiro ao DN e do triste desfecho do caso Freeport - passado o mês de férias num silêncio quase inviolável -, trazer a polémica de volta, colocando de novo o foco sobre um PGR já fragilizado.
Há, é certo, uma explicação lógica para a chamada de Pinto Monteiro a Belém: que o Presidente tenha querido dar-lhe a mão num momento difícil. Mesmo que o seja, deixa duas interrogações: primeiro, porque se remeteu o Presidente ao silêncio quando foi finalmente questionado sobre a polémica entrevista do PGR, em que este afirmou que tinha poderes limitados? E, já agora, porque não chamou imediatamente o PGR quando este se viu sob fogo não só do sindicato como de todos os partidos da oposição? Ficam as dúvidas, para que mais tarde se faça luz (presidencial) sobre o caso e sobre o lamentável estado do sector.
Moçambique é um dos países mais elogiados da África, sobretudo porque soube sair da guerra civil e do regime de partido único para um sistema democrático que funciona. Não por acaso, quando foi instituído o prémio de boa governação Mo Ibrahim para líderes africanos, o ex-presidente Joaquim Chissano foi o primeiro vencedor.
O grande mérito de Chissano, o homem que teve de substituir Samora Machel, consistiu em obter uma paz sem vencedores, mesmo que depois nas urnas a sua Frelimo se tenha sempre mostrado mais forte que a Renamo. Ao mesmo tempo, Chissano aproveitou os novos tempos para reconstruir o país, aproveitando tanto a generosa ajuda ao desenvolvimento como os investimentos estrangeiros. E quando se retirou por vontade própria entregou o testemunho a um Armando Guebuza que está no essencial a seguir o mesmo caminho.
Mas Moçambique, duas décadas após o fim da guerra civil, continua a ser um país pobre. Segundo o índice de desenvolvimento humano da ONU, só a Guiné-Bissau está pior entre os oito países da lusofonia. Boa parte dos 23 milhões de moçambicanos sobrevive com dificuldades e sente que beneficia pouco ou nada do tal êxito de desenvolvimento tão elogiado pelo mundo fora. E, quando para se comer todos os dias se tem de fazer já todos os esforços de imaginação, qualquer aumento dos preços arrisca-se a ser explosivo. Foi o que aconteceu ontem quando milhares de pessoas em Maputo protestaram contra o aumento do preço do pão, dos transportes e da electricidade. E a reacção policial acabou por gerar dez mortos.
Em Moçambique, as instituições mostraram ser sólidas. Um protesto popular , com repressão violenta, desestabilizou a capital, mas não a democracia. Mas é importante que os governantes percebam que o desenvolvimento tem de chegar a todos e, sobretudo, não dar ideia de que serve apenas para benefício de uma elite.
Portugal - Conversa mal explicada
O procurador-geral da República foi ontem chamado ao Palácio de Belém para discutir com o Presidente da República a situação da justiça portuguesa. Foi, significativamente, o primeiro acto pós-férias de Cavaco Silva. Mas se o Chefe do Estado tornou pública a audiência não quis acrescentar qualquer palavra sobre a situação do sector. Por ele, falou Pinto Monteiro, que garantiu ter as "mesmas preocupações" que o Presidente e, até, ter as mesmas condições para desempenhar o cargo que tinha quando, em 2006, foi nomeado por Cavaco e proposto por José Sócrates. Lido à letra, significa que terá a confiança política de ambos. Se assim é, pouco se percebe que a chamada de Pinto Monteiro tenha sido tornada pública pela Presidência. Que Cavaco Silva esteja "preocupado" com a justiça adivinhava-se pelo que se conhece do Chefe do Estado. Que queira saber, da boca do PGR, o que se passa mais detalhadamente também. O que era desnecessário era, um mês depois da entrevista de Pinto Monteiro ao DN e do triste desfecho do caso Freeport - passado o mês de férias num silêncio quase inviolável -, trazer a polémica de volta, colocando de novo o foco sobre um PGR já fragilizado.
Há, é certo, uma explicação lógica para a chamada de Pinto Monteiro a Belém: que o Presidente tenha querido dar-lhe a mão num momento difícil. Mesmo que o seja, deixa duas interrogações: primeiro, porque se remeteu o Presidente ao silêncio quando foi finalmente questionado sobre a polémica entrevista do PGR, em que este afirmou que tinha poderes limitados? E, já agora, porque não chamou imediatamente o PGR quando este se viu sob fogo não só do sindicato como de todos os partidos da oposição? Ficam as dúvidas, para que mais tarde se faça luz (presidencial) sobre o caso e sobre o lamentável estado do sector.

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