quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O DEBATE DA RECORD

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JORNAL DO BRASIL, em Últimos Posts - Enviado por: Migliaccio

Vocês viram o debate de domingo na Record? Foi um aperitivo do que vai ser quinta-feira à noite, na Globo.

Adoro debates presidenciais. Ainda lembro quando, em 89, me arrepiei ao ver, sentados lado a a lado, Lula, Brizola, Maluf, Covas, Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado, Afif, Gabeira (Collor não foi). Depois de 20 anos de ditadura, censura, parlamentares biônicos, e prefeitos e governadores nomeados por presidentes militares, aquela imagem foi um colírio para os olhos de quem, aos 25 anos, era apresentado finalmente à democracia.

Bom, o debate de domingo passado.

Plínio, Dilma, Serra e Marina. Lá estavam personagens, não pessoas. Cada um com 20% verdadeiros de si, 40% de ideologia e retórica e outros 40% da interpretação que eles acham que vai convencer o eleitor a votar neles.

Complicado?

Não, não, veja:

Serra se apresentou relaxadão. Sorridente, jovial, lindo, leve e solto. Não transpareceu uma gota de apreensão pela derrota iminente. Portou-se como um franco atirador, argumentou calmamente, o que é um grande feito num debate presidencial transmitido ao vivo para milhões de pessoas. Já perdeu (garante a Mãe Dinah).

Dilma estava uma pilha de nervos. Se calma ela já não é uma grande oradora, imagine nervosa. Respira mal, come o final das frases, parece se perder no encadeamento de ideias. Se for tão boa para administrar como é diante de um microfone, estamos fritos. Mas muitos ótimos administradores, como Darcy Ribeiro, o melhor secretário de Educação que o Rio já teve, eram ruins no palanque. Por isso, aliás, Darcy conseguiu ser derrotado por um gato angorá numa eleição para governador. Gato esse que hoje tem um belo cargo no atual governo...

O decente Plínio é nosso pândego stalinista. Septuagenário com arroubos de estudante universitário, mistura palavras de ordem com saraivadas de críticas aos adversários. Como a plateia ri e aplaude, ele fica ainda mais saidinho. Disse que vai colocar o salário mínimo a R$ 2 mil, só não explicou como a prefeitura de Macaxeira do Norte pagará isso ao seu funcionalismo público. Moleque-ancião-travesso, Plínio protagonizou a melhor cena do debate, quando pregou na testa da Marina Silva o rótulo de demagoga e falsa.

Marina não sai do tom. Não olha para os lados. Monocórdia, desfia seu texto de reserva moral do país. Seu personagem é, de longe, o mais sem graça, o menos humano desta eleição. Todos os candidatos, mais cedo ou mais tarde, se revelam. Só Marina não tira aquela máscara de ser humano perfeito e irrepreensível. Evangélica da Assembleia de Deus, defensora do meio ambiente, séria. Será que ela vai ao banheiro?

Prefiro alguém de carne e osso, com defeitos e qualidades, como todo ser humano.

Dilma não consegue esconder que é mal humorada, centralizadora e dona da verdade. Pode até vir a ser uma boa presidente, mas eu não gostaria de trabalhar diretamente com ela. Deve encher o saco.

Serra, apesar de todo o seu palavrório e de suas expressões afáveis, acaba mostrando que também é mal humorado e que é tucano-aristocrata até o fundo da alma. Pede para ser chamado de Zé, como se fosse possível tratar a oligarquia quatrocentona paulista com aquela intimidade de porta de botequim. Aliás, Serra diz que foi perseguido pela ditadura, mas saiu do Brasil para morar nos Estados Unidos. Que subversivo era esse? E voltou ao país em 1978, um ano antes da anistia.

Pelo menos, todos eles são honestos. Cada um com sua visão de mundo, cada um representando seu grupo, não creio que nenhum deles vá tirar dos cofres públicos para colocar no bolso.

Já quanto aos seus colaboradores do segundo, terceiro escalão...

Mas, para isso, que infelizmente é inevitável em qualquer governo, de qualquer país, em qualquer regime, temos polícia e cadeia.
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