quinta-feira, 2 de setembro de 2010

QUE ATIREM A PRIMEIRA PEDRA


LEILA CORDEIRO * – DIRETO DA REDAÇÃO

Desde que o mundo é mundo, alguém criou o estigma do sexo frágil para a mulher. A partir daí cada sociedade interpretou esta falácia à sua maneira. Até hoje muçulmanos e orientais mantém a mulher em segundo plano em relação ao homem. Seus direitos como seres humanos praticamente não existem e desde pequenas estão sujeitas às maiores humilhações sexuais e pessoais que as transformam em sombras de seus algozes masculinos, chegando ao ponto de terem que cobrir seus corpos e rostos para saírem às ruas. Como se tivessem algo a esconder ou um tributo a pagar, o de terem nascido mulheres!

Nas sociedades ocidentais o preconceito em relação aos direitos femininos é mais disfarçado. Até porque a mulher vai ocupando espaços cada vez maiores no mercado de trabalho e, o que mais incomoda certos homens, nos caminhos do poder. Não estou aqui para dar uma de feminista radical, aquela que vai às ruas para defender os direitos da mulher, até porque ela hoje sabe perfeitamente defender-se sozinha por saber o lugar que ocupa e o potencial de criatividade e talento que possui. Mas que a mulher, mesmo a ocidental, ainda precisa ser vista com mais respeito pelos homens, isso eu não abro mão de reivindicar.

Ainda existe a diferença salarial em muitas empresas que consideram a figura masculina mais forte, poderosa, indispensável à credibilidade da mensagem que querem passar a seus clientes. Nesses casos e nessas empresas, a mulher funciona apenas como um jarro de flores que pode ser trocado de lugar para enfeitar ambientes diferentes de acordo com as necessidades empresariais do momento. Concordo que atualmente muitas mulheres se prestam a esse papel por não terem escolha. Em alguns setores do mercado ser gostosa, linda e vazia é o que conta, porque para o que almejam não é preciso ter cérebro e muito menos neurônios. Basta ser uma mulher com tudo em cima!

É muito fácil diante disso culpar as mulheres que seguem esse caminho porque para elas foi o que lhes restou para sobreviver. No fundo bem que gostariam de serem respeitadas pela cultura, inteligência ou capacidade de realizar algo mais do que apenas malhar seus corpos, tranformando-os em verdadeiras esculturas para serem apreciados em capas de revistas ou sites sensuais. Tanto isso é verdade que, cada vez mais, “modelos e manequins fotográficos”, têm se esforçado para conseguir um lugar de apresentadoras e entrevistadoras em programas na TV chamados de “entretenimento”. Uma boa solução que encontram para resgatar um pouco de respeito por si mesmas, sabendo que a boa forma um dia vai acabar e para sobreviver é importante que tenham muito mais do que apenas um corpo bonito.

Mas ao lado disso, e apesar de uma possível discriminação de sexo, as mulheres estão conseguindo escrever sua própria história, vencendo preconceitos e provando que são capazes de construir novas idéias, debater assuntos complicados e assumir o poder absoluto sem terem que ser necessariamente sensuais, bonitas ou desfrutáveis. Várias conseguiram chegar ao poder em diferentes pontos do mundo por seus atributos de conhecimento e capacidade de liderança. Nesse quesito o Brasil não fica atrás. Tivemos Luisa Erundina e Marta Suplicy, para citar dois exemplos apenas, que comandaram a maior cidade do país. Elas polarizaram preferências e fizeram história em seus mandatos, marcando presença na política brasileira.

Agora que estamos prestes a ter, pela primeira vez na história do Brasil, uma presidente mulher, estamos vendo como as divergências políticas se transformaram em sentimentos de amor e ódio. Dilma Roussef, muito próxima de ocupar o Palácio do Planalto, está mexendo com os corações e mentes dos brasileiros. Seu nome está em milhares de mensagens na internet, ou endeusado ou achincalhado. Guerrilheira e terrorista é o mínimo que dizem dela os intransigentes que não querem lhe dar uma chance de mostrar sua capacidade de governar.

Talvez queiram que ela desista da política e saia por aí coberta com uma burka da cabeça aos pés, fazendo voto de silêncio diante de todas as arbitrariedades contra a mulher sob pena de ser apedrejada em praça pública.

* Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e CBS Telenotícias Brasil como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros de poesias publicados: "Pedaços de mim" e "De mala e vida na mão", ambos pela Editora Record. É repórter free-lancer e sócia de uma produtora de vídeos institucionais, junto com Eliakim Araujo, em Pembroke Pines, na Flórida.

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