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SOFIA LORENA, em Maputo – PÚBLICO – 08 setembro 2010
Maputo acordou normal, uma semana depois do primeiro dia dos protestos contra o aumento dos preços dos bens de consumo básicos que foram violentamente reprimidos e fizeram oficialmente 13 mortos e mais de 500 feridos.
O Governo anunciou o congelamento dos preços na terça-feira, ao mesmo tempo que mandou cortar o serviço de SMS. Resultou, pelo menos hoje, e a greve não voltou, depois de um feriado e de uma ponte que se seguiram ao fim-de-semana.
Nas ruas conversa-se sobre o congelamento do aumento dos preços – da água, da electricidade, do pão, do arroz – e sugere-se a quem mais o Governo terá de pagar nos próximos dias para acalmar a população. Aos desmobilizados, por exemplo, 150 mil homens espalhados por todo o país que nunca receberam uma pensão de guerra mas fizeram a guerra, nas fileiras da Renamo, mas também da Frelimo, do Presidente Armando Guebuza, no poder.
Os desmobilizados tinham uma marcha marcada para sábado passado, mas o Governo convenceu-os a adiar uma semana, com a promessa de que no dia 11, no próximo sábado, estará com eles para lhes oferecer soluções.
Os jornais diários têm primeiras páginas reveladoras da situação actual. O Canal de Moçambique, por exemplo, é toda uma lista de problemas e soluções: “Governo corta serviço de SMS” é a manchete, com “Para prevenir manifestações” como ante-título. Segundo título esclarece que o Presidente Armando “Guebuza manobra desmobilizados com financiamento fictício”.
E por aí fora. Na cidade de Nampula “PRM [Polícia da República de Maputo] simula focos de manifestações e prende cidadãos”. Outro título, em baixo, à direita, indica que “Tumultos populares em Manica causam oito feridos e 68 detidos”. Nampula é uma província do Norte de Moçambique, a chamada capital do Norte; Manica é a capital da província com o mesmo nome, a 30 quilómetros da fronteira com o Zimbabwe, no Centro do país.
Entre os desmobilizados e os tumultos em Manica, o Canal de Moçambique ainda tem espaço para mais uma chamada de primeira página: “Gastos em helicópteros por Guebuza devem ser repensados”.
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