ANTÓNIO TOZZI * – DIRETO DA REDAÇÃO
Miami (EUA) - O resultado do primeiro turno no domicílio eleitoral de Miami apontou a vitória fácil de José Serra, com Marina Silva e Dilma brigando pelo segundo lugar. Antes que alguém já venha com aquele discurso pronto de que os brasileiros de Miami são “todos direitistas, portanto este resultado não surpreende”, cabem duas observações.
A primeira é a de que Serra ganhou em praticamente todos os domicílios eleitorais no Exterior. O segundo, e mais importante, é que o PT perdeu o encanto. Trinta anos depois de ter surgido como uma alternativa às oligarquias partidárias, o autodenominado Partido dos Trabalhadores tem de tudo menos trabalhador.
O PT de hoje está de braços dados com o PMDB – paradigma do fisiologismo brasileiro – com PL e outros partidos que se caracterizam como sendo legendas de aluguel, e isto inclui até mesmo o PC do B, que de tão descaracterizado teve como candidato ao Senado por São Paulo o cantor Netinho. Aliás, os institutos de pesquisa apontavam Netinho como o senador mais votado; e o cara ficou em terceiro lugar. Os institutos saíram tão desacreditados que já nem sei se Lula conta mesmo com 80% de aprovação.
Ou seja, atualmente PT e ética não combinam. Eles resgataram o que há de pior na política brasileira como Sarney, Waldemar Costa Neto, Renan Calheiros, Fernando Collor, Jader Barbalho, Roberto Requião, e ainda trouxeram junto Zé Dirceu e os sindicalistas. Ou seja, o Brasil está nas mãos do salve-se quem puder.
Aí alguém vai dizer: Mas o Brasil melhorou no governo Lula. É verdade. O presidente teve a perspicácia de manter o Plano Real – ironicamente muito criticado pelo PT quando estava na oposição – e beneficiou-se de tudo de bom que o governo anterior havia feito. Até mesmo a tão criticada privatização foi positiva porque limpou o governo de estatais deficitárias e deixou o estado mais leve. Agora, além de diminuir o espaço para colocação de apadrinhados, as empresas se tornaram lucrativas e contribuem fortemente com o recolhimento dos impostos.
Para não falar da Embraer e Vale do Rio Doce, que hoje são companhias rentáveis, ao contrário do tempo em que estavam sob o domínio do Estado, o falecido Sergio Motta comentava na época da privatização das teles que o governo estava “vendendo vento”. Era verdade. Apesar da pouca transparência de alguns responsáveis pelo processo de privatização que tornou alguns privilegiados milionários, o brasileiro hoje vive um período onde qualquer um tem seu celular.
No tempo das estatais, o sujeito terminava de pagar o plano de expansão, e ainda precisava aguardar quando a companhia telefônica iria instalar o aparelho. Os mais velhos devem lembrar quando alguém falecia, um conhecido sempre comentava: ”A viúva perdeu o marido jovem, mas ficou bem de vida. Ele deixou cinco linhas telefônicas para ela”.
Até mesmo o famoso programa Bolsa Família não passa de um projeto criado pela então primeira dama, Ruth Cardoso. O projeto do PT, chamado de Fome Zero, simplesmente não decolou. E o Bolsa Família se transformou no principal carro chefe da campanha de Dilma, garantindo votos para a protegida de Lula.
Diante disto, e dos resultados do primeiro turno, parece que a candidata da situação deve mesmo confirmar o favoritismo e vencer a eleição no dia 31 de outubro.
Mas a pergunta que se coloca é: o que fará a grande vencedora desta eleição para tomar sua decisão. Marina Silva deve estar numa encruzilhada. Como ex-integrante do PT, deveria apoiar Dilma, mas seu partido, o PV, integra a base aliada da coligação que apóia Serra. Ou então abster-se de tomar partido e liberar seus eleitores.
Claro que cada um tem sua opinião, mas acho que Marina deveria aproveitar a oportunidade para posicionar-se firmemente como oposição. Afinal, ela está delineando-se como a grande força oposicionista e pode, quem sabe, ser o grande destaque nas eleições de 2014. E também dar uma cutucada naquela que foi uma das principais articuladoras de sua saída do governo, e que hoje está pedindo seu apoio. Realmente, o mundo dá voltas...
* Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.
Miami (EUA) - O resultado do primeiro turno no domicílio eleitoral de Miami apontou a vitória fácil de José Serra, com Marina Silva e Dilma brigando pelo segundo lugar. Antes que alguém já venha com aquele discurso pronto de que os brasileiros de Miami são “todos direitistas, portanto este resultado não surpreende”, cabem duas observações.
A primeira é a de que Serra ganhou em praticamente todos os domicílios eleitorais no Exterior. O segundo, e mais importante, é que o PT perdeu o encanto. Trinta anos depois de ter surgido como uma alternativa às oligarquias partidárias, o autodenominado Partido dos Trabalhadores tem de tudo menos trabalhador.
O PT de hoje está de braços dados com o PMDB – paradigma do fisiologismo brasileiro – com PL e outros partidos que se caracterizam como sendo legendas de aluguel, e isto inclui até mesmo o PC do B, que de tão descaracterizado teve como candidato ao Senado por São Paulo o cantor Netinho. Aliás, os institutos de pesquisa apontavam Netinho como o senador mais votado; e o cara ficou em terceiro lugar. Os institutos saíram tão desacreditados que já nem sei se Lula conta mesmo com 80% de aprovação.
Ou seja, atualmente PT e ética não combinam. Eles resgataram o que há de pior na política brasileira como Sarney, Waldemar Costa Neto, Renan Calheiros, Fernando Collor, Jader Barbalho, Roberto Requião, e ainda trouxeram junto Zé Dirceu e os sindicalistas. Ou seja, o Brasil está nas mãos do salve-se quem puder.
Aí alguém vai dizer: Mas o Brasil melhorou no governo Lula. É verdade. O presidente teve a perspicácia de manter o Plano Real – ironicamente muito criticado pelo PT quando estava na oposição – e beneficiou-se de tudo de bom que o governo anterior havia feito. Até mesmo a tão criticada privatização foi positiva porque limpou o governo de estatais deficitárias e deixou o estado mais leve. Agora, além de diminuir o espaço para colocação de apadrinhados, as empresas se tornaram lucrativas e contribuem fortemente com o recolhimento dos impostos.
Para não falar da Embraer e Vale do Rio Doce, que hoje são companhias rentáveis, ao contrário do tempo em que estavam sob o domínio do Estado, o falecido Sergio Motta comentava na época da privatização das teles que o governo estava “vendendo vento”. Era verdade. Apesar da pouca transparência de alguns responsáveis pelo processo de privatização que tornou alguns privilegiados milionários, o brasileiro hoje vive um período onde qualquer um tem seu celular.
No tempo das estatais, o sujeito terminava de pagar o plano de expansão, e ainda precisava aguardar quando a companhia telefônica iria instalar o aparelho. Os mais velhos devem lembrar quando alguém falecia, um conhecido sempre comentava: ”A viúva perdeu o marido jovem, mas ficou bem de vida. Ele deixou cinco linhas telefônicas para ela”.
Até mesmo o famoso programa Bolsa Família não passa de um projeto criado pela então primeira dama, Ruth Cardoso. O projeto do PT, chamado de Fome Zero, simplesmente não decolou. E o Bolsa Família se transformou no principal carro chefe da campanha de Dilma, garantindo votos para a protegida de Lula.
Diante disto, e dos resultados do primeiro turno, parece que a candidata da situação deve mesmo confirmar o favoritismo e vencer a eleição no dia 31 de outubro.
Mas a pergunta que se coloca é: o que fará a grande vencedora desta eleição para tomar sua decisão. Marina Silva deve estar numa encruzilhada. Como ex-integrante do PT, deveria apoiar Dilma, mas seu partido, o PV, integra a base aliada da coligação que apóia Serra. Ou então abster-se de tomar partido e liberar seus eleitores.
Claro que cada um tem sua opinião, mas acho que Marina deveria aproveitar a oportunidade para posicionar-se firmemente como oposição. Afinal, ela está delineando-se como a grande força oposicionista e pode, quem sabe, ser o grande destaque nas eleições de 2014. E também dar uma cutucada naquela que foi uma das principais articuladoras de sua saída do governo, e que hoje está pedindo seu apoio. Realmente, o mundo dá voltas...
* Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.
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