GRANMA - Extraído do CubaDebate
“A humanidade deve se preservar para viver milhares de anos”, respondeu Fidel ao escritor russo Daniel Estulin, autor da trilogia sobre o Clube Bilderberg, de visita em Havana. Disse isso a propósito da opinião do visitante de que para resolver muitos de seus problemas, a humanidade deverá emigrar a outros planetas.
Fidel foi enfático ao afirmar que por mais que nos entusiasme a sobrevivência noutros espaços do sistema solar, é melhor que não percamos a que está na Terra, que é ainda a única maneira de não perder tudo o outro que está fora dela.
A um alto custo o ser humano chegou à Lua, um satélite inóspito. Mais além estão Júpiter, Marte, Neptuno, Vênus e os outros planetas, que é o mesmo que dizer poeiras, fornos incandescentes ou gelo.
Acerca destas profundezas versou a conversa do líder da Revolução com o escritor, um diálogo fascinante, que durou algo mais de hora e meia, e na qual cada minuto foi de uma espantosa intensidade.
A SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE HUMANA
“A obrigação de todos os seres humanos é assegurar a sobrevivência de toda a espécie humana. O Clube Bilderberg quer assegurar exclusivamente a sobrevivência de sua espécie, uma autêntica minoria”, estimou Daniel Estulin, depois das apresentações de rigor.
“Você escreveu coisas muito bonitas de seu avô”, comentou-lhe Fidel. “Eu amava muito meu avô. Era um homem bem especial. Foi um médico famoso, cirurgião, na Lituânia. Meu avô era da Crimeia e durante a Segunda Guerra Mundial os nazistas mataram num dia 11 irmãos dele, além da mãe, o pai e o avô de 104 anos. Imagine ter uma família numerosa, e no dia seguinte ser um órfão”.
Ele viveu a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa de 1917, a Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial. “Nalgum momento, no caos da Guerra, perdeu o rumo da família. Uma mãe e três crianças de oito, cinco e três anos, capturados pelos nazistas, enviados a um campo de concentração e exterminados”, lembrou.
Estulin contou a Fidel em detalhe a história de sua família, que emigrou na década de 1980 ao Canadá — nesse país se produziu o reencontro com o avô —, de sua peregrinação por vários países do mundo, de sua esposa sevilhana. Mora na Espanha há 17 anos. Embora ele tenha nascido na Lituânia, sua identidade é russa, tal como sua língua materna.
O comandante ficou impressiondo pela fluidez com que fala o espanhol.
“Escrevo em inglês, por conforto. Porque quase todos os editores falam essa língua. Meus livros estão em mais de 50 países. Disseram-me que o senhor lê em inglês...”.
“Leu o espanhol com trabalho...”, respondeu Fidel, sorrindo. Mas lê muitos textos escritos originalmente em inglês, traduzidos ao castelhano. Comentou-lhe, por exemplo, Lincoln: “Uma biografia, escrita pelo escritor norte-americano Gore Vidal. É incrível como um homem pode reconstruir todo o ambiente daquela época e compará-lo com o que é hoje”.
BASES MILITARES NA AMÉRICA LATINA
“Declaram guerra a Chávez porque, a qualquer custo, a Venezuela continua sendo dos poucos países do mundo onde não há bases militares norte-americanas. E odeiam Cuba pela mesma razão, por sua independência. Em Cuba não podem destruir o conceito ‘Estado-nação’, em minha opinião o mais importante nos últimos 600 anos”, afirmou Estulin.
“Faltou-lhe o Equador, que tinha uma base em Manta por dez anos e conseguiram retirá-la. Em muitos outros países há bases. Em questão de horas põem tropas em qualquer nação”, reagiu Fidel. “Como se fossem McDonalds”, ironizou Estulin.
“Quanto às bases diretas, têm a de Guantánamo, a das Malvinas... E nos outros não as têm aparentemente, mas na verdade, sim. Fazem práticas e exercícios. Na Venezuela não têm. A Colômbia é um país convertido em base. Em Honduras têm. Na Costa Rica não têm, mas têm ali 40 navios com porta-aviões e porta-helicópteros, ajudando ‘nobremente’ à luta contra a droga. E dum cinismo total...”, acrescentou Fidel.
Para Estulin, a próxima eleição na Venezuela é crucial. Não são duas tendências ideológicas exclusivamente as que se enfrentam nas urnas. Fontes ligadas ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, asseguraram-lhe que, após a satanização de Hugo Chávez e do processo bolivariano, há um projeto de instalação de bases militares nesse país, que se torna impossível com a política soberana e latino-americanista do líder venezuelano.
A conversa se estendeu nesse tema e os desafios da nova Assembleia Nacional que nascerá das eleições de 26 de setembro, à qual retorna uma oposição que perdeu treinamento no exercício de legislar pelos anos em que se manteve fora dela, na tentativa de boicotar o poder bolivariano.
Chávez, que acabou de estar em Havana, é otimista, assegurou Fidel, e trabalha no processo de paz com a Colômbia, sem descansar. “Dorme um pouco de dia e trabalha a noite toda”.
Mas o mundo que Fidel está visualizando — e o disse — não é este, das contendas eleitorais. “Minha opinião é que o Império vai cair. Se há guerra, cai o mundo todo. A luta nossa é porque não haja guerra, mas não a qualquer preço. Não se trata de pôr condições. A guerra não ocorrerá se alguém não puxar o gatilho, agora nas mãos de Obama, que não é guerreirista. Como diz o jornalista israelense Jeffrey Goldberg, analisando Bush: ‘não espero que Obama seja mais Bush que Bush’”.
AL QAEDA
Comentaram acerca da onda de atentados que tiveram lugar na quarta-feira, dia 25 de agosto, no Iraque. Mataram 62 pessoas, no mesmo dia em que, oficialmente, as tropas norte-americanas saíram de Bagdá. “Quem domina aí? — perguntou-se Fidel —. Está também a situação no Afeganistão; há coisas muito interessantes que se associam ao que você conta do Bali — o ataque a uma boate, em 2002 —. Atribuíram à Al Qaeda a autoria daquele atentado. Al Qaeda é outro mistério que se está diluindo”.
O comandante-em-chefe assegurou que sempre teve grandes suspeitas com respeito à Al Qaeda e a Bin Laden. “Cada vez que Bush ia amedrontar e proferir o grande discurso, aparecia Bin Laden fazendo a história do que ia fazer e ameaçando. Nunca faltou a Bush o apoio de Bin Laden. Parecia um quadro, e quem demonstrou que efetivamente era um agente da CIA foi Wikileaks. Demonstrou isso com documentos”.
Estulin comentou que funcionários de alto nível norte-americano e dos serviços de inteligência de outros países reconheceram que a última vez que se escutou a voz de Bin Laden foi em 21 de dezembro de 2001. “A partir dessa data sumiu. A partir dessa data foi substituído por um péssimo ator, que se viste como ele, mas nem é parecido com ele”.
RÚSSIA NO ALVO
Mais uma vez, como em sua conferência da véspera perante colegas locais, Estulin retomou o centro da tese de suas denúncias: “O objetivo dos Bilderbergs é destroçar a Rússia como potência militar e à China como potência econômica”. E agradeceu novamente a Fidel a inclusão de excertos de seus textos em suas Reflexões mais recentes, porque disse: “O que o senhor diz eles não podem silenciá-lo”. “Nem sempre foi assim”, esclareceu o líder da Revolução.
O jornalista advertiu que os poderes mundiais estão cientes de que o único Estado capaz de enfrentar militarmente os Estados Unidos e destruí-lo é a Rússia e insistiu em que existe uma terceira operação “Barbarroja” — como foi conhecida a invasão nazista à URSS — contra a Rússia atual.
O escritor russo reiterou que o objetivo final de toda esta montagem, inclusive a possível guerra nuclear, é destruir a Rússia, o grande inimigo militar dos Estados Unidos. “A Rússia tem potência para apagar os EUA da face da terra, tem armas muito mais potentes que o que possa ter agora mesmo o arsenal norte-americano. Por exemplo, o P-700 Granito, um míssil balístico intercontinental com uma cabeça nuclear de 500 quilotons. É lançado de um submarino. Voa a uma velocidade de 2.983 km/h. Não há nada no mundo mais rápido. O avião mais veloz dos EUA voa a uns 2.600 km/h”.
“Disso não se falou”, comentou Fidel. “Temem muito disso — disse Estulin —. De fato, o submarino nuclear Kursk — afundado no Mar de Barents em 12 de agosto de 2000 —, levava estas armas”.
Esse é um elemento a levar em conta para considerar que “meu país, a Rússia, é o inimigo militar número um dos Estados Unidos. Agora mesmo estão construindo no Afeganistão 13 bases, supersecretas, e cada uma destas é maior do que qualquer outra base americana no mundo, e já são mais de 700. Não foi construída para atacar o Irã, mas o flanco sul da Rússia”.
Estulin tem informação documentada sobre as armas estratégicas que apontam contra seu país, os planos no Afeganistão, os antecedentes históricos, a queda da URSS.
Fidel escutou-o com muita atenção. “Acumular mais de 25 mil armas nucleares — disse —, não é de gente lúcida. Tudo isto me passava pela mente enquanto você falava, e me perguntava aonde vai parar tudo isto. Era exatamente o que queria intercambiar com você. Dediquei muito tempo para ler e recopilar informação. Dedicamos todo o tempo a informar-nos, enquanto os que tomam decisões que podem decidir a vida de milhões de pessoas estão desinformados”.
AS MINIBOMBAS ATÔMICAS
A história das armas atômicas de formato pequeno data de fim dos 50 ou início dos 60 do século passado, com um uso pacífico. “Os engenheiros — relatou Estulin —, quando queriam abrir uma passagem através duma montanha para construir um túnel, por exemplo, perceberam que não havia suficiente quantidade de dinamite que pudesse fazê-lo. Então, começaram a utilizar a energia atômica controlada. A indústria militar percebeu que também serviria para matar pessoas. Daí saíram as armas de terceira e quarta geração”.
Algumas destas armas podem ser do tamanho duma bola de beisebol. Mas há duas formas de construir uma bomba atômica: com urânio ou com plutônio. A diferença é a massa crítica: a de urânio necessita pelo menos de 50 a 52 quilos de massa crítica, enquanto a de plutônio muito menos. A bomba de Hiroshima foi de urânio, e a de Nagasaki, de plutônio.
Segundo Estulin, os terroristas nunca tiveram acesso a bombas de urânio, porque “desde 1945 não temos visto uma explosão como a de Hiroshima. Os terroristas não têm a tecnologia para produzir as minibombas nucleares. Só podem fazê-lo os Estados Unidos, a Rússia, a França e Israel”.
NA SERRA MAESTRA
As bombas que jogavam os aviões de Batista, Fidel lembrou, eram às vezes de 500 quilos, e abriam um buraco grande, mas não destruíam muitas casas. “Caíam, enterravam-se e explodiam”, acrescentou Fidel. “No caso das bombas atômicas, o a nuvem em forma de cogumelo e o fogo são dois sinais inconfundíveis que as acompanham. Eu não lembro que isso tenha acontecido na Serra Maestra”.
Destruía, sem dúvida, mas não nessas dimensões apocalípticas da bomba nuclear. “Uma vez nos atiraram duas de 500 kg, e eu fui vê-las: tinham prejudicado um pouco mais de meio hectare, mas nada de fogo. Nós estávamos a pouco de 100 metros do lugar onde bombardearam. Sabiam mais ou menos onde estávamos, porque tínhamos a tropa inimiga rodeada. Não houve nunca fogo. E nos jogaram bombas! Era o primeiro que ocorria, aos 20 minutos de começar qualquer combate”.
O Exército de Batista utilizava bastante bem aquelas armas, porque tinha sido treinado pelos Estados Unidos. “Usavam aviões B-26, e também um tipo de avião-caça com 8 metralhadoras e tinham alguns jatos, três em total, dois deles os utilizamos depois para defender-nos, durante o ataque mercenário pela Baía dos Porcos (1961). Estes jatos foram tripulados por pilotos que estavam presos por negar-se a cumprir ordens de Batista e tinham sido julgados e sancionados por isso”.
O comandante-em-chefe relatou que toda a dinamite que utilizou o Exército Rebelde na guerra era das bombas que não explodiam. “Nossa gente aprendeu a escavar e extrai-la. Fazíamos minas de contato, com uma bateria de lanterna… Às vezes, púnhamos 20 quilos de TNT, e púnhamos de boca para cima um tanque leve; podia destruir até os tanques pesados”.
As lembranças do comandante viajaram aos métodos de luta do Exército Rebelde, baseados no respeito à dignidade, o tratamento humano aos prisioneiros, a ética no enfrentamento a um adversário que carecia totalmente desse valor. “Nenhum soldado se rende se sabe que vão matá-lo. O mais simples do mundo para nós foi inutilizar um exército treinado pelos ianques, que chegou a ser considerado invencível”.
Sem abrir mão do tema, Fidel perguntou a Estulin com qual argumento ele respondia àqueles que impugnavam suas pesquisas, especificamente quanto ao efeito das radiações ali onde supostamente tiveram lugar explosões de minibombas nucleares.
Segundo o jornalista, até na linguagem de quem escreve sobre as explosões se podem encontrar sinais de que estas se produziram, apesar de que se ocultem as evidências mais conhecidas como pode ser o efeito das radiações nas pessoas prejudicadas em curto, médio ou longo prazo.
“A quem interessaria, por exemplo, a explosão de Oklahoma?”, insistiu Fidel. A resposta do escritor o levou a retomar interesses mais além da própria presidência norte-americana à qual, disse, não chega ninguém que não tenha sido aprovado por eles.
Estulin acredita que os planos da elite mundial são exterminar o excesso humano, num planeta cuja população cresce a um ritmo superior à disponibilidade de recursos em muitas regiões.
Fidel apenas apontou: “A Humanidade terá que resolver a energia renovável...” e logo depois de comentar o drama provocado pelos incêndios florestais na Rússia recomendou ao jornalista ver o documentário “Home”, centrado nos desafios da sobrevivência humana.
A LUTA É POR ESTE PLANETA
Estulin perguntou se a humanidade poderia estar neste planeta nos próximos 50 ou 100 mil anos. Para ele a resposta é: Não. “Seremos gente demais. A única alternativa é que através do progresso e do desenvolvimento colonizemos a Lua, Marte, o espaço e nos asseguremos de que os milhares de milhões de humanos sobrevivam, e isto é para mim a imortalidade”.
“É correto o que você diz do progresso humano — respondeu Fidel —, mas, em minha opinião, a vida vai se desenvolver aqui, neste planeta. Em Marte, na Lua e no resto dos planetas do Sistema Solar, não há atmosfera. Sua teoria é absolutamente correta no sentido de que a humanidade deve preservar-se para viver milhares de anos, graças ao progresso”.
Mas é preciso lutar contra as forças que impedem esse progresso. E Fidel coloca um exemplo: “Desde que começou a vida neste planeta, acrescentou, se calcula que foi há aproximadamente 4 bilhões de anos. O petróleo começou a formar-se há mais ou menos 400 milhões de anos. O homem está gastando em menos de 200 anos o petróleo acumulado em mais de 400 milhões de anos... A atmosfera não resiste esse consumo”.
Concordo com isso, reagiu Estulin. “Acho que devemos lutar todos, tanto como Fidel, pela sobrevivência da espécie...”, acrescentou.
Muitas pessoas, disse o escritor, acreditam que chegamos ao ponto de não retorno, e que é preciso parar em seco. “Os perigos são enormes”, acrescentou Fidel.
Estulin presenteou seus livros ao comandante e escreveu na dedicatória: “Ganharemos a guerra quando o poder do amor supere o amor ao poder”.
Fidel a leu em silêncio e disse a viva voz: “Ganharemos a guerra se não a travarmos”.
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“A humanidade deve se preservar para viver milhares de anos”, respondeu Fidel ao escritor russo Daniel Estulin, autor da trilogia sobre o Clube Bilderberg, de visita em Havana. Disse isso a propósito da opinião do visitante de que para resolver muitos de seus problemas, a humanidade deverá emigrar a outros planetas.
Fidel foi enfático ao afirmar que por mais que nos entusiasme a sobrevivência noutros espaços do sistema solar, é melhor que não percamos a que está na Terra, que é ainda a única maneira de não perder tudo o outro que está fora dela.
A um alto custo o ser humano chegou à Lua, um satélite inóspito. Mais além estão Júpiter, Marte, Neptuno, Vênus e os outros planetas, que é o mesmo que dizer poeiras, fornos incandescentes ou gelo.
Acerca destas profundezas versou a conversa do líder da Revolução com o escritor, um diálogo fascinante, que durou algo mais de hora e meia, e na qual cada minuto foi de uma espantosa intensidade.
A SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE HUMANA
“A obrigação de todos os seres humanos é assegurar a sobrevivência de toda a espécie humana. O Clube Bilderberg quer assegurar exclusivamente a sobrevivência de sua espécie, uma autêntica minoria”, estimou Daniel Estulin, depois das apresentações de rigor.
“Você escreveu coisas muito bonitas de seu avô”, comentou-lhe Fidel. “Eu amava muito meu avô. Era um homem bem especial. Foi um médico famoso, cirurgião, na Lituânia. Meu avô era da Crimeia e durante a Segunda Guerra Mundial os nazistas mataram num dia 11 irmãos dele, além da mãe, o pai e o avô de 104 anos. Imagine ter uma família numerosa, e no dia seguinte ser um órfão”.
Ele viveu a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa de 1917, a Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial. “Nalgum momento, no caos da Guerra, perdeu o rumo da família. Uma mãe e três crianças de oito, cinco e três anos, capturados pelos nazistas, enviados a um campo de concentração e exterminados”, lembrou.
Estulin contou a Fidel em detalhe a história de sua família, que emigrou na década de 1980 ao Canadá — nesse país se produziu o reencontro com o avô —, de sua peregrinação por vários países do mundo, de sua esposa sevilhana. Mora na Espanha há 17 anos. Embora ele tenha nascido na Lituânia, sua identidade é russa, tal como sua língua materna.
O comandante ficou impressiondo pela fluidez com que fala o espanhol.
“Escrevo em inglês, por conforto. Porque quase todos os editores falam essa língua. Meus livros estão em mais de 50 países. Disseram-me que o senhor lê em inglês...”.
“Leu o espanhol com trabalho...”, respondeu Fidel, sorrindo. Mas lê muitos textos escritos originalmente em inglês, traduzidos ao castelhano. Comentou-lhe, por exemplo, Lincoln: “Uma biografia, escrita pelo escritor norte-americano Gore Vidal. É incrível como um homem pode reconstruir todo o ambiente daquela época e compará-lo com o que é hoje”.
BASES MILITARES NA AMÉRICA LATINA
“Declaram guerra a Chávez porque, a qualquer custo, a Venezuela continua sendo dos poucos países do mundo onde não há bases militares norte-americanas. E odeiam Cuba pela mesma razão, por sua independência. Em Cuba não podem destruir o conceito ‘Estado-nação’, em minha opinião o mais importante nos últimos 600 anos”, afirmou Estulin.
“Faltou-lhe o Equador, que tinha uma base em Manta por dez anos e conseguiram retirá-la. Em muitos outros países há bases. Em questão de horas põem tropas em qualquer nação”, reagiu Fidel. “Como se fossem McDonalds”, ironizou Estulin.
“Quanto às bases diretas, têm a de Guantánamo, a das Malvinas... E nos outros não as têm aparentemente, mas na verdade, sim. Fazem práticas e exercícios. Na Venezuela não têm. A Colômbia é um país convertido em base. Em Honduras têm. Na Costa Rica não têm, mas têm ali 40 navios com porta-aviões e porta-helicópteros, ajudando ‘nobremente’ à luta contra a droga. E dum cinismo total...”, acrescentou Fidel.
Para Estulin, a próxima eleição na Venezuela é crucial. Não são duas tendências ideológicas exclusivamente as que se enfrentam nas urnas. Fontes ligadas ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, asseguraram-lhe que, após a satanização de Hugo Chávez e do processo bolivariano, há um projeto de instalação de bases militares nesse país, que se torna impossível com a política soberana e latino-americanista do líder venezuelano.
A conversa se estendeu nesse tema e os desafios da nova Assembleia Nacional que nascerá das eleições de 26 de setembro, à qual retorna uma oposição que perdeu treinamento no exercício de legislar pelos anos em que se manteve fora dela, na tentativa de boicotar o poder bolivariano.
Chávez, que acabou de estar em Havana, é otimista, assegurou Fidel, e trabalha no processo de paz com a Colômbia, sem descansar. “Dorme um pouco de dia e trabalha a noite toda”.
Mas o mundo que Fidel está visualizando — e o disse — não é este, das contendas eleitorais. “Minha opinião é que o Império vai cair. Se há guerra, cai o mundo todo. A luta nossa é porque não haja guerra, mas não a qualquer preço. Não se trata de pôr condições. A guerra não ocorrerá se alguém não puxar o gatilho, agora nas mãos de Obama, que não é guerreirista. Como diz o jornalista israelense Jeffrey Goldberg, analisando Bush: ‘não espero que Obama seja mais Bush que Bush’”.
AL QAEDA
Comentaram acerca da onda de atentados que tiveram lugar na quarta-feira, dia 25 de agosto, no Iraque. Mataram 62 pessoas, no mesmo dia em que, oficialmente, as tropas norte-americanas saíram de Bagdá. “Quem domina aí? — perguntou-se Fidel —. Está também a situação no Afeganistão; há coisas muito interessantes que se associam ao que você conta do Bali — o ataque a uma boate, em 2002 —. Atribuíram à Al Qaeda a autoria daquele atentado. Al Qaeda é outro mistério que se está diluindo”.
O comandante-em-chefe assegurou que sempre teve grandes suspeitas com respeito à Al Qaeda e a Bin Laden. “Cada vez que Bush ia amedrontar e proferir o grande discurso, aparecia Bin Laden fazendo a história do que ia fazer e ameaçando. Nunca faltou a Bush o apoio de Bin Laden. Parecia um quadro, e quem demonstrou que efetivamente era um agente da CIA foi Wikileaks. Demonstrou isso com documentos”.
Estulin comentou que funcionários de alto nível norte-americano e dos serviços de inteligência de outros países reconheceram que a última vez que se escutou a voz de Bin Laden foi em 21 de dezembro de 2001. “A partir dessa data sumiu. A partir dessa data foi substituído por um péssimo ator, que se viste como ele, mas nem é parecido com ele”.
RÚSSIA NO ALVO
Mais uma vez, como em sua conferência da véspera perante colegas locais, Estulin retomou o centro da tese de suas denúncias: “O objetivo dos Bilderbergs é destroçar a Rússia como potência militar e à China como potência econômica”. E agradeceu novamente a Fidel a inclusão de excertos de seus textos em suas Reflexões mais recentes, porque disse: “O que o senhor diz eles não podem silenciá-lo”. “Nem sempre foi assim”, esclareceu o líder da Revolução.
O jornalista advertiu que os poderes mundiais estão cientes de que o único Estado capaz de enfrentar militarmente os Estados Unidos e destruí-lo é a Rússia e insistiu em que existe uma terceira operação “Barbarroja” — como foi conhecida a invasão nazista à URSS — contra a Rússia atual.
O escritor russo reiterou que o objetivo final de toda esta montagem, inclusive a possível guerra nuclear, é destruir a Rússia, o grande inimigo militar dos Estados Unidos. “A Rússia tem potência para apagar os EUA da face da terra, tem armas muito mais potentes que o que possa ter agora mesmo o arsenal norte-americano. Por exemplo, o P-700 Granito, um míssil balístico intercontinental com uma cabeça nuclear de 500 quilotons. É lançado de um submarino. Voa a uma velocidade de 2.983 km/h. Não há nada no mundo mais rápido. O avião mais veloz dos EUA voa a uns 2.600 km/h”.
“Disso não se falou”, comentou Fidel. “Temem muito disso — disse Estulin —. De fato, o submarino nuclear Kursk — afundado no Mar de Barents em 12 de agosto de 2000 —, levava estas armas”.
Esse é um elemento a levar em conta para considerar que “meu país, a Rússia, é o inimigo militar número um dos Estados Unidos. Agora mesmo estão construindo no Afeganistão 13 bases, supersecretas, e cada uma destas é maior do que qualquer outra base americana no mundo, e já são mais de 700. Não foi construída para atacar o Irã, mas o flanco sul da Rússia”.
Estulin tem informação documentada sobre as armas estratégicas que apontam contra seu país, os planos no Afeganistão, os antecedentes históricos, a queda da URSS.
Fidel escutou-o com muita atenção. “Acumular mais de 25 mil armas nucleares — disse —, não é de gente lúcida. Tudo isto me passava pela mente enquanto você falava, e me perguntava aonde vai parar tudo isto. Era exatamente o que queria intercambiar com você. Dediquei muito tempo para ler e recopilar informação. Dedicamos todo o tempo a informar-nos, enquanto os que tomam decisões que podem decidir a vida de milhões de pessoas estão desinformados”.
AS MINIBOMBAS ATÔMICAS
A história das armas atômicas de formato pequeno data de fim dos 50 ou início dos 60 do século passado, com um uso pacífico. “Os engenheiros — relatou Estulin —, quando queriam abrir uma passagem através duma montanha para construir um túnel, por exemplo, perceberam que não havia suficiente quantidade de dinamite que pudesse fazê-lo. Então, começaram a utilizar a energia atômica controlada. A indústria militar percebeu que também serviria para matar pessoas. Daí saíram as armas de terceira e quarta geração”.
Algumas destas armas podem ser do tamanho duma bola de beisebol. Mas há duas formas de construir uma bomba atômica: com urânio ou com plutônio. A diferença é a massa crítica: a de urânio necessita pelo menos de 50 a 52 quilos de massa crítica, enquanto a de plutônio muito menos. A bomba de Hiroshima foi de urânio, e a de Nagasaki, de plutônio.
Segundo Estulin, os terroristas nunca tiveram acesso a bombas de urânio, porque “desde 1945 não temos visto uma explosão como a de Hiroshima. Os terroristas não têm a tecnologia para produzir as minibombas nucleares. Só podem fazê-lo os Estados Unidos, a Rússia, a França e Israel”.
NA SERRA MAESTRA
As bombas que jogavam os aviões de Batista, Fidel lembrou, eram às vezes de 500 quilos, e abriam um buraco grande, mas não destruíam muitas casas. “Caíam, enterravam-se e explodiam”, acrescentou Fidel. “No caso das bombas atômicas, o a nuvem em forma de cogumelo e o fogo são dois sinais inconfundíveis que as acompanham. Eu não lembro que isso tenha acontecido na Serra Maestra”.
Destruía, sem dúvida, mas não nessas dimensões apocalípticas da bomba nuclear. “Uma vez nos atiraram duas de 500 kg, e eu fui vê-las: tinham prejudicado um pouco mais de meio hectare, mas nada de fogo. Nós estávamos a pouco de 100 metros do lugar onde bombardearam. Sabiam mais ou menos onde estávamos, porque tínhamos a tropa inimiga rodeada. Não houve nunca fogo. E nos jogaram bombas! Era o primeiro que ocorria, aos 20 minutos de começar qualquer combate”.
O Exército de Batista utilizava bastante bem aquelas armas, porque tinha sido treinado pelos Estados Unidos. “Usavam aviões B-26, e também um tipo de avião-caça com 8 metralhadoras e tinham alguns jatos, três em total, dois deles os utilizamos depois para defender-nos, durante o ataque mercenário pela Baía dos Porcos (1961). Estes jatos foram tripulados por pilotos que estavam presos por negar-se a cumprir ordens de Batista e tinham sido julgados e sancionados por isso”.
O comandante-em-chefe relatou que toda a dinamite que utilizou o Exército Rebelde na guerra era das bombas que não explodiam. “Nossa gente aprendeu a escavar e extrai-la. Fazíamos minas de contato, com uma bateria de lanterna… Às vezes, púnhamos 20 quilos de TNT, e púnhamos de boca para cima um tanque leve; podia destruir até os tanques pesados”.
As lembranças do comandante viajaram aos métodos de luta do Exército Rebelde, baseados no respeito à dignidade, o tratamento humano aos prisioneiros, a ética no enfrentamento a um adversário que carecia totalmente desse valor. “Nenhum soldado se rende se sabe que vão matá-lo. O mais simples do mundo para nós foi inutilizar um exército treinado pelos ianques, que chegou a ser considerado invencível”.
Sem abrir mão do tema, Fidel perguntou a Estulin com qual argumento ele respondia àqueles que impugnavam suas pesquisas, especificamente quanto ao efeito das radiações ali onde supostamente tiveram lugar explosões de minibombas nucleares.
Segundo o jornalista, até na linguagem de quem escreve sobre as explosões se podem encontrar sinais de que estas se produziram, apesar de que se ocultem as evidências mais conhecidas como pode ser o efeito das radiações nas pessoas prejudicadas em curto, médio ou longo prazo.
“A quem interessaria, por exemplo, a explosão de Oklahoma?”, insistiu Fidel. A resposta do escritor o levou a retomar interesses mais além da própria presidência norte-americana à qual, disse, não chega ninguém que não tenha sido aprovado por eles.
Estulin acredita que os planos da elite mundial são exterminar o excesso humano, num planeta cuja população cresce a um ritmo superior à disponibilidade de recursos em muitas regiões.
Fidel apenas apontou: “A Humanidade terá que resolver a energia renovável...” e logo depois de comentar o drama provocado pelos incêndios florestais na Rússia recomendou ao jornalista ver o documentário “Home”, centrado nos desafios da sobrevivência humana.
A LUTA É POR ESTE PLANETA
Estulin perguntou se a humanidade poderia estar neste planeta nos próximos 50 ou 100 mil anos. Para ele a resposta é: Não. “Seremos gente demais. A única alternativa é que através do progresso e do desenvolvimento colonizemos a Lua, Marte, o espaço e nos asseguremos de que os milhares de milhões de humanos sobrevivam, e isto é para mim a imortalidade”.
“É correto o que você diz do progresso humano — respondeu Fidel —, mas, em minha opinião, a vida vai se desenvolver aqui, neste planeta. Em Marte, na Lua e no resto dos planetas do Sistema Solar, não há atmosfera. Sua teoria é absolutamente correta no sentido de que a humanidade deve preservar-se para viver milhares de anos, graças ao progresso”.
Mas é preciso lutar contra as forças que impedem esse progresso. E Fidel coloca um exemplo: “Desde que começou a vida neste planeta, acrescentou, se calcula que foi há aproximadamente 4 bilhões de anos. O petróleo começou a formar-se há mais ou menos 400 milhões de anos. O homem está gastando em menos de 200 anos o petróleo acumulado em mais de 400 milhões de anos... A atmosfera não resiste esse consumo”.
Concordo com isso, reagiu Estulin. “Acho que devemos lutar todos, tanto como Fidel, pela sobrevivência da espécie...”, acrescentou.
Muitas pessoas, disse o escritor, acreditam que chegamos ao ponto de não retorno, e que é preciso parar em seco. “Os perigos são enormes”, acrescentou Fidel.
Estulin presenteou seus livros ao comandante e escreveu na dedicatória: “Ganharemos a guerra quando o poder do amor supere o amor ao poder”.
Fidel a leu em silêncio e disse a viva voz: “Ganharemos a guerra se não a travarmos”.
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