segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Moçambique: Chissano considera instabilidade social ameaça à paz no país

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PMA – LUSA

Maputo, 04 out (Lusa) - O antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, considerou hoje em Maputo que a instabilidade social que o país vive ameaça a paz, conquistada a 04 de outubro de 1992, após 16 anos de guerra civil.

Moçambique passa por uma situação de grave tensão social, devido ao aumento do custo de vida, que levou a manifestações violentas nos dias 01 e 02 de setembro, com um balanço de 18 mortes (fontes clínicas) e centenas de feridos.

"Concordo (que a instabilidade social ameaça a paz). É por isso mesmo que acho que o esforço de construção da paz deve ser permanente, focando o combate à pobreza, porque é a causa de conflitos individuais, que depois degeneram em conflitualidade coletiva", sublinhou Joaquim Chissano, em declarações a jornalistas.

O ex-chefe de Estado moçambicano (entre 1986 e 2004) apontou os principais desafios à conservação da paz em Moçambique, após participar nas cerimónias centrais de comemoração do Dia da Paz, na Praça dos Heróis de Moçambique.

"A preocupação deve ir para as áreas sociais com impacto no combate à pobreza. A educação, saúde, abastecimento de água e de energia elétrica. Mas é também importante ensinar a tolerância, porque a violência não se justifica", enfatizou Joaquim Chissano.

Apesar das dificuldades que o país enfrenta, o antigo Presidente moçambicano, que assinou em Roma os Acordos Gerais de Paz com o líder da antiga guerrilha da RENAMO, Afonso Dhlakama, congratulou-se com o facto de o entendimento de 1992 ter permitido a cessação da violência generalizada em que o país se encontrava mergulhado desde 1976.

"Felicito o povo moçambicano por ter sabido conservar a paz. O povo tem acarinhado a paz", realçou Joaquim Chissano.

Também o ex-chefe da delegação da RENAMO às negociações de paz e atual presidente do Partido para a Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raul Domingos, o único membro da ex-guerrilha presente na Praça dos Heróis, alertou para o risco de a exclusão social e a falta de diálogo fazerem descarrilar a paz.

"Os 18 anos de paz são assinalados num momento crítico para o país, um momento de exclusão social, intolerância política e falta de diálogo. Não será possível manter a paz sem um diálogo que alimente a paz", frisou Raul Domingos.

Por seu turno, o embaixador de Itália em Moçambique, Carlo Lo Cascio, cujo país acolheu a assinatura do Acordo Geral de Paz, também identificou o desafio de combate à pobreza e as assimetrias sociais como essenciais à manutenção da paz.

"O país fez um longo percurso desde a assinatura do Acordo Geral de Paz. Nesse dia, o país não estava onde está agora ao nível do desenvolvimento económico. Mas a pobreza é visível para todos e as desigualdades sociais também", ressalvou Carlo Lo Cascio.

As cerimónias mais importantes do Dia da Paz voltaram a ser marcadas pela ausência do líder da oposição e signatário do Acordo Geral de Paz, Raul Domingos, que tem pautado pelo boicote a atos oficiais do Estado por nunca ter reconhecido as sucessivas derrotas nas eleições gerais no país, alegadamente devido a fraudes protagonizadas pelo partido no poder, FRELIMO.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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1 comentário:

heitor disse...

No último parágrafo deve ler-se Afonso Dhlakhama onde por lapso está escrito Raul Domingos.