segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Comemorações "estão a passar mensagem de turbulência" - D. Duarte

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PEDRO CALDEIRA RODRIGUES – LUSA

Lisboa, 4 out (Lusa) - No atual momento de crise as celebrações do 5 de outubro arriscam-se a passar a mensagem de que as revoluções podem ser solução para os problemas do país, considerou em entrevista à Lusa D. Duarte Pio.

Numa alusão direta às comemorações do centenário da República, o herdeiro do trono português, 65 anos, príncipe real de Portugal e 24ºduque de Bragança considera que no atual contexto de "grande crise" pode existir a tentação de "novamente procurar uma revolução como solução para os problemas". Em alternativa, sugere que "devia ensinar-se ao povo português que as revoluções não resolvem nada", e pugnou pela "utilização" das instituições democráticas.

"Está a ser passada essa mensagem de turbulência. Ao festejar a turbulência e inconsequência da I República estamos a dizer que isto foi muito bom", sublinhou.

O herdeiro do torno português também considera insensatas as verbas destinadas para as comemorações. "Não faz sentido destinar 10 milhões de euros para celebrar uma revolução que correu mal e onde todos os resultados foram péssimos. O que se pode homenagear é os idealismos, as intenções dos revolucionários que eram certamente muito boas, mas a execução foi um desastre", precisa.

No seu gabinete da Fundação D. Manuel II, situado na rua Duques de Bragança, em Lisboa, D. Duarte sente-se confortável, rodeado pelas dezenas de ícones, símbolos, quadros, memórias da realeza. E continua a acreditar na sua causa, a causa real, face a um regime instaurado em 1910 que considera "ilegal, imposto pela força de um golpe" e com uma natureza ditatorial "referida praticamente por todos os historiadores".

O regresso à velha tradição é encarado com bonomia. "Acredito que a monarquia seria a melhor solução e que o povo inteligente e lúcido, se for bem informado, poderá tomar essa solução como caminho para o futuro. Agora, tudo depende da formação, do raciocínio lógico, da capacidade de tomar decisões que os portugueses possam vir a ter", precisa.

Para o 24º duque de Bragança, esta solução também deverá incluir um balanço sobre a I República, período que define como "perda da democracia, das liberdades e um descalabro económico", que conduziu à "revolução militar republicada em maio de 1926" e por fim à "terceira revolução em 1974 para Portugal voltar a ter 70 anos depois uma democracia normal como existia antes de 1910".

Apesar de manter como reivindicação central a realização de um referendo sobre a natureza do regime, "e que já foi aprovado pela maioria dos deputados no Parlamento mas não chegou aos dois terços", D. Duarte revela profunda preocupação pela atual situação no país.

Neste aspeto, deteta uma ausência de "pensamento lógico" entre os portugueses. "Queremos uma coisa e fazemos o contrário. E por isso temos de obrigar os governantes, e todos nós, a sermos coerentes com o problema atual. Não podemos gastar mais do que ganhamos, a nível de família, a nível de Estado, temos de cortar de um lado ou de outro. Não podemos ser irresponsáveis e ficar à espera que os problemas se resolvam no futuro", alerta.

E o "parente mais próximo de D. Manuel II" não esconde "certa simpatia" pela Confederação dos Estados lusófonos, "uma corrente de pensamento atual pela qual que nos devíamos unir todos numa confederação". Para combater os "pensamentos derrotistas, como algumas pessoas que gostariam se ser espanhóis... Preferia ser brasileiro".

Afirma-se, por isso, admirador da "gente com coragem, com determinação e convicções que defendem os seus ideais, mesmo quando isso lhes custa muito sacrifício".

Decerto que D. Duarte Pio se sentirá rodeado por esta gesta de seguidores nas cerimónias programadas para 5 de outubro em Guimarães, onde vai decorrer uma Proclamação de Lealdade" para com o Chefe da Casa Real. "É o dia em que foi assinado o tratado de Zamora e pelo qual a independência de Portugal foi reconhecida. Por isso é o dia da independência de Portugal", conclui.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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