domingo, 24 de outubro de 2010

SE ANGOLA TEM E PORTUGAL PRECISA, SÓCRATES QUE ESTENDA A MÃO

.

ORLANDO CASTRO – NOTÍCIAS LUSÓFONAS

Se o regime de Eduardo dos Santos vai dar uma ajuda ao Orçamento de Estado da Guiné-Bissau, se calhar poderia fazer o mesmo com o regime do seu grande amigo e admirador José Sócrates

Angola é um dos países lusófonos com maior taxa de mortalidade infantil e materna e de gravidez na adolescência, segundo o mais recente relatório das Nações Unidas. Mas o que é que isso importa? Importante é saber que a Sonae vai avançar com o lançamento, entre outras iniciativas, dos hipermercados Continente em Angola em parceria com... Isabel dos Santos, filha do... presidente vitalício e não eleito do país e do MPLA, José Eduardo dos Santos. Já agora, como o vai fazer em relação à Guiné-Bissau, bem que Angola poderia dar uma ajuda ao Orçamento de Estado de Portugal...

E se Belmiro de Azevedo chama ditador a Cavaco Silva não sei o que chamará a José Eduardo dos Santos. Mas isso é irrelevante porque, desde logo, quem manda na Sonae é Paulo Azevedo e o que importa é o "Hello tomorrow" (olá amanhã), rapidamente e em força para... Angola.

Em cada mil crianças nascidas em Angola, 131 morrem antes de atingir o primeiro ano de vida, a taxa mais elevada entre os países lusófonos e de toda a África Austral. Segue-se a Guiné-Bissau, onde o número de mortes no primeiro ano de vida é de 112 por mil, e Moçambique com 95 mortes por mil crianças. Mas que é que isso importa?

Importante é saber que o Banco Internacional de Crédito (BIC – Américo Amorim e Isabel dos Santos), de Angola, admite interesse na aquisição do Banco Português de Negócios (BPN), que será reprivatizado um dia destes.

Enquanto a esperança de vida à nascença aumentou em muitos países de África, a mesma continua abaixo dos 50 anos em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Mas o que é que isso interessa?

Importante é saber que Isabel dos Santos, através da Santoro, ficou com os 9,7 por cento do português BPI que estavam nas mãos do BCP.

Importante é saber que a Zon Multimédia, dona da portuguesa TV Cabo, reforçou a parceria com a empresária Isabel dos Santos, a mulher mais rica de Angola, para assegurar o seu serviço de televisão por subscrição em Angola.

De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), numa escala de 0 a 100, Angola apresenta um índice de desigualdade entre ricos e pobres de 58,6, os mais pobres (perto de 70% da população) têm uma taxa de consumo de 0,6 por cento enquanto a dos ricos é de 44,7 por cento. Mas o que é que isso importa?

Importante é que a Sociedade Afripron está a investir 600 milhões de dólares no Empreendimento Comandante Gika, o maior projecto imobiliário de Angola, com 390 mil metros quadrados de construção.

45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Mas o que é que isso importa?

76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos. Mas o que é que isso importa? Sim! O que é que isso importa?

Que importa que José Eduardo... Agualusa diga que “vai a Luanda ansioso, porque não sabe se consegue sair”, acrescentando que “qualquer pessoa que tenha opiniões próprias e a possibilidade de se fazer ouvir, principalmente fora do país, tem problemas em Angola".

É verdade. E ao que me parece, não tardará muito que a mesma ansiedade chegue aos que vão ou vivem em Portugal. É que ter opiniões próprias sobre Angola ou Portugal e que, obviamente, não sejam coincidentes com as do regime, pode revelar-se catastrófico... mesmo em Portugal.

Cada vez mais o clã Eduardo dos Santos é dono das ocidentais praias lusitanas. Seja onde for, da banca à comunicação social, da construção civil às agências de comunicação, lá estãos as mãos, e as instruções, de Isabel dos Santos.

Sem cartão do MPLA os angolanos não entram, sem o sim dos serviços secretos angolanos, os portugueses ficam à porta. Sem o o cartão do PS os portugueses não entram, ficam à porta. Tão simples quanto isso.

É por isso que aqueles a quem caberia dar voz a quem a não tem (os jornalistas) se calam em muitos casos, se rendem às teses oficiais quando importa dizer a verdade, se põem de cócoras alegando supostos interesses superiores.

Aliás, em relação a Angola, a Imprensa portuguesa (em sentido lato) cumpre todos os objectivos de propagada e apenas os erviços mínimos de jornalismo, o que – aliás – é uma boa forma de prestar um bom serviço aos donos dos jornalistas e, é claro, aos donos dos donos.

Onde será que se pode ler, ver, ou ouvir que – por exemplo – Luanda é das cidades do mundo com mais carros topo de gama por quilómetro quadrado?

Quem é que diz que esses carros pertecem sobretudo a gente ligada ao petróleo ou ao regime? Quem é que afirma que em Angola poucos têm muitos milhões e que muitos milhões têm pouco ou nada?

O que andam a fazer os jornalistas que, na sua maioria, temem dizer que em Angola não há democracia? Que temem afirmar que o poder está nas mãos de José Eduardo dos Santos, um presidente não eleito que ocupa o lugar há 31 anos?

Onde andam os jornalistas que se esquecem de dizer que o MPLA, no poder desde 1975, aprova uma Constituição que não prevê eleições directas para o presidente da República?

Por tudo isto é chegada a altura de o Governo socialista de Portugal "cobrar" alguma coisa pelos anos de sucessivas bajulações ao regime do MPLA. A bem, é claro, do Orçamento de Estado.
.

Sem comentários: