quarta-feira, 6 de outubro de 2010

SEGUNDA VOLTA PERMITE A DILMA DESCOLAR DE LULA. E LULA DEIXA?

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CLÁUDIA GARCIA – i ONLINE – 06 outubro 2010

Apesar da vitória, as expectativas do PT saem claramente defraudadas. Dilma e Lula reúnem forças contra Serra para conquistar apoiantes de Marina Silva

Os resultados da primeira volta nas presidenciais no Brasil são submetidos a interpretações diferentes. Há uma derrota de Lula e Dilma, face aos seus objectivos iniciais, porque apesar da conquista de 47% dos votos, Dilma não conseguiu recuperar os milhares de pontos perdidos na recta final - a candidata escolhida por Lula caiu em quase todas as regiões do país, não impedindo a realização da segunda volta, contra o candidato do PSDB, José Serra (37%). E uma quase vitória de Marina Silva, do Partido Verde, que cresceu em todo o país, conquistando quase 20% dos votos e sendo uma das responsáveis pela segunda volta nas eleições.

Analistas políticos apontam uma falha na máquina do PT na "resposta eleitoral" a temas sensíveis como a despenalização do aborto. A consequência pode ter sido a migração de votos de Dilma para Marina.

A polémica que envolveu o tema do aborto foi criada na internet, numa campanha que teve um efeito dominó. De acordo com o "Estadão", alguns vídeos divulgados recentemente mostram a contradição de Dilma sobre o tema: revelam declarações da candidata, em 2007, a defender a descriminalização, para, em imagens actuais, se manifestar contra a alteração da lei. A procura por "Dilma + aborto" no Google cresceu 1500% em Setembro - revelando a preocupação dos eleitores com o tema. Lula e Dilma chegaram a reunir-se com líderes evangélicos e católicos, mas o movimento não impediu a perda de votos. Marina acabou por ser a "opção". Na recta final, a candidata do PV conquistou os eleitores evangélicos da "petista", grande parte dos eleitores jovens "que se identificam com a proposta ambientalista" e um apoio inédito da classe média feminina. A recuperação de Serra concentrou-se em São Paulo, que já governou e que reúne o maior número de eleitores do país, (30 milhões).

Para a segunda volta, está aberta a guerra pelos votos de Marina: Lula já anunciou que vai "assumir pessoalmente" o comando da campanha de Dilma e alguns especialistas consideram que a segunda volta é "positiva" para a candidata do PT, que tentará imprimir uma marca própria. "A segunda volta é uma oportunidade de expor mais pormenorizadamente as ideias, aumentar confrontos e extrair tendências", escrevia ontem Gilberto Dimenstein, na "Folha de São Paulo". No entanto, ao i os assessores de Dilma não quiseram divulgar pormenores sobre estratégia. Também o gabinete de José Serra preferiu salvaguardar "as linhas orientadoras" da campanha, "a decidir nos próximos dois dias".

Numa sondagem recente do Datafolha, 51% dos eleitores "verdes" preferiam José Serra, enquanto 31% estavam mais inclinados para Dilma. Os "restantes" mantinham a indecisão. Os institutos de sondagens, que nas semanas divulgaram intenções de voto "falhadas", foram, segunda a imprensa brasileira, os "grandes derrotados". Perante a descredibilização das sondagens, Serra e Dilma vão agora submeter-se a mais um mês de julgamento público, onde todos esperam ver aprofundado o debate sobre as reformas económicas.

excêntricos Francisco Everardo Oliveira Silva foi o grande vencedor da primeira volta. Tiririca, como é conhecido o novo deputado federal por São Paulo, conquistou mais de 1,3 milhões de votos. Foi o deputado mais votado do Brasil, o segundo da história e estará em Brasília nos próximos quatro anos, onde irá, entre outras funções, "elaborar leis e fiscalizar a aplicação do dinheiro público". A eleição de Tiririca já foi alvo de críticas do mundo do espectáculo brasileiro. Romário, com 146 mil votos, e Bebeto (antigas estrelas da selecção brasileira) foram eleitos deputados federal e estadual pelo Rio de Janeiro.
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