ORLANDO CASTRO, jornalista – NOTÍCIAS LUSÓFONAS
O Presidente da República portuguesa, Cavaco Silva, considerou hoje, na Covilhã, que “estão criadas todas as condições para que decorram negociações à volta do Orçamento de Estado, eventualmente para melhorar aquilo que foi apresentado”. Pronto. Vamos dormir descansados, mas sempre com a barriga vazia. Com negociações é sempre possível continuar a prender o pilha-galinhas e dar uma comenda a quem rouba o aviário.
Cavaco Silva justifica – como se afinal nada tivesse a ver com toda esta mixórdia em que se alterna o roubo declarado com o encoberto - que há condições, porque “o documento é do conhecimento de todos e tanto o Governo como as forças políticas declararam total abertura para a negociação”.
Ora nem mais! Todos, mas sobretudo o par de tanguistas (Sócrates & Coelho Lda.), vão agora ver qual é a melhor forma democrática para continuar a roubar os portugueses de forma menos violenta. Enquanto o PS quer e está a roubar sem mais floreados, o PSD deverá optar por um roubo mais suave. Com o PS os portugueses têm os pratos vazios. Com o PSD – que vai obviamente aprovar o Orçamento de Estado – os portugueses continuarão a ter os pratos vazios mas autografados.
Sem comentar especificamente as condições colocadas pelo PSD para viabilizar o OE, Cavaco Silva – que nunca se engana e raramente tem dúvidas - referiu que “todas as propostas apresentadas pelos partidos políticos devem ser objecto de uma análise cuidada, com grande abertura”.
Está-se mesmo a ver a abertura que a dupla do tango vai dar ao CDS, ao BE e ao PCP. Sendo farinha do mesmo saco , PS e PSD vão reservar para si a manutenção do estado das coisas, na boa tradição de um bloco central em que os portugueses terão toda a liberdade para não comerem e estarem calados.
Para o Presidente da República deve ser seguida “a linha do espírito de negociação que foi publicamente expresso pelo ministro das Finanças”. Negociar sim, ao estilo de um para mim outro para ti. Quanto aos portugueses... depois se verá.
Portugal continua, de facto e cada vez mais de jure, sem ser um país, sem ser um Estado de Direito. É cada vez mais um local muito mal frequentado em que uma reduzida casta de "nobres" donos da verdade escraviza toda a plebe, tratando-a como se fossem escravos. E já faltou mais para o serem.
Em Portugal nada funciona bem para a esmagadora maioria, embora funcione quase na perfeição para os que estão no poder e, é claro, para os que têm esperanças de lá chegar a curto prazo. Segundo a Transparency International, mais de meio mundo acredita que partidos, parlamentos, polícia e tribunais são as instituições mais atingidas por uma corrupção quotidiana generalizada.
Todavia, no caso do tal reino das ocidentais praias lusitanas, tudo se resolverá com o tal "apelo à cidadania responsável e participativa" para a qual, penso, é fundamental que os portugueses se inscrevam nas organizações mais incólumes à corrupção e que, nesta altura, são com certeza os partidos nacionais, a começar pelo Socialista de José Sócrates.
Mas nada disto é relevante. Importa é salientar o orgulho luso de ver Sócrates dizer a Durão Barroso: "Conseguimos, pá!", de ver Cavaco Silva levar cem empresários ao reino de Angola, de ver Pedro Passos Coelho de “joelhos” (segundo o PS) em Espanha...
Ao que parece, 70% dos portugueses (claramente manipulados pelas forças do mal que só sabem fazer campanhas negras) considera os partidos políticos (isto é, aquelas seitas consideradas vitais nas democracias) as instituições mais corruptas.
Mas poderá lá ser! Corrupção nos partidos portugueses? Certamente que Transparency International se esqueceu de ouvir os militantes socialistas, os candidatos a militantes socialistas, os desempregados que querem ser socialistas para arranjar emprego, os empregados à custa do PS etc.
Se os tivesse ouvido saberíamos que no partido de José Sócrates a corrupção não entra. E não entra porque já lá está, porque nunca de lá saiu, digo eu.
"Hoje somos confrontados diariamente com dramas pessoais e familiares que dificilmente poderíamos imaginar. São dramas que as estatísticas nem sempre revelam, mas que nos vão alertando para a dimensão social que a actual crise económica e financeira tem vindo a assumir", declarou o chefe de Estado português um dia destes, como – repito - nada tivesse a ver com o assunto.
Que Cavaco Silva tenha dificuldade em imaginar os múltiplos dramas dos portugueses, ainda vá que não vá. Não pode, contudo, é escudar-se na ignorância de quem vive longe do país real para sacudir a água do capote e para fingir que não sabe que Portugal talvez gostasse de ser um Estado de Direito.
Um Estado de Direito conquista-se quando se não tem medo de dizer a verdade. E esta, quer o presidente queira ou não, não é sua pertença, nem do Governo, nem do PS, nem do PSD, nem daqueles que têm dinheiro para comprar tudo que llhes apetece.
De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que tomasse medidas para castigar tanto o ladrão que entra em casa como o que fica à porta. Mas não. Cavaco Silva, na sua qualidade de mais alto magistrado da nação, parece querer castigar as vítimas e não os ladrões.
De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que visse a quem beneficia a infracção, que argumentos usa para cilindrar a liberdade e sobretudo porque o faz de forma completamente impune.
De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia muita coisa. E não apenas o óbvio para tudo continuar na mesma, para uns relembrarem o António (de Oliveira Salazar) e outros a necessidade de uma nova revolução.
Pois! Mas ainda há uns (e não são poucos) para quem a coisa só se revolve a tiro. Parece-me uma boa opção. Temo, contudo, que ao escolher-se a política do olho por olho, dente por dente, fiquemos todos cegos e desdentados. E se calhar os responsáveis pela tragédia vão continuar a ter pelo menos um olho e dois dentes...
20.10.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
O Presidente da República portuguesa, Cavaco Silva, considerou hoje, na Covilhã, que “estão criadas todas as condições para que decorram negociações à volta do Orçamento de Estado, eventualmente para melhorar aquilo que foi apresentado”. Pronto. Vamos dormir descansados, mas sempre com a barriga vazia. Com negociações é sempre possível continuar a prender o pilha-galinhas e dar uma comenda a quem rouba o aviário.
Cavaco Silva justifica – como se afinal nada tivesse a ver com toda esta mixórdia em que se alterna o roubo declarado com o encoberto - que há condições, porque “o documento é do conhecimento de todos e tanto o Governo como as forças políticas declararam total abertura para a negociação”.
Ora nem mais! Todos, mas sobretudo o par de tanguistas (Sócrates & Coelho Lda.), vão agora ver qual é a melhor forma democrática para continuar a roubar os portugueses de forma menos violenta. Enquanto o PS quer e está a roubar sem mais floreados, o PSD deverá optar por um roubo mais suave. Com o PS os portugueses têm os pratos vazios. Com o PSD – que vai obviamente aprovar o Orçamento de Estado – os portugueses continuarão a ter os pratos vazios mas autografados.
Sem comentar especificamente as condições colocadas pelo PSD para viabilizar o OE, Cavaco Silva – que nunca se engana e raramente tem dúvidas - referiu que “todas as propostas apresentadas pelos partidos políticos devem ser objecto de uma análise cuidada, com grande abertura”.
Está-se mesmo a ver a abertura que a dupla do tango vai dar ao CDS, ao BE e ao PCP. Sendo farinha do mesmo saco , PS e PSD vão reservar para si a manutenção do estado das coisas, na boa tradição de um bloco central em que os portugueses terão toda a liberdade para não comerem e estarem calados.
Para o Presidente da República deve ser seguida “a linha do espírito de negociação que foi publicamente expresso pelo ministro das Finanças”. Negociar sim, ao estilo de um para mim outro para ti. Quanto aos portugueses... depois se verá.
Portugal continua, de facto e cada vez mais de jure, sem ser um país, sem ser um Estado de Direito. É cada vez mais um local muito mal frequentado em que uma reduzida casta de "nobres" donos da verdade escraviza toda a plebe, tratando-a como se fossem escravos. E já faltou mais para o serem.
Em Portugal nada funciona bem para a esmagadora maioria, embora funcione quase na perfeição para os que estão no poder e, é claro, para os que têm esperanças de lá chegar a curto prazo. Segundo a Transparency International, mais de meio mundo acredita que partidos, parlamentos, polícia e tribunais são as instituições mais atingidas por uma corrupção quotidiana generalizada.
Todavia, no caso do tal reino das ocidentais praias lusitanas, tudo se resolverá com o tal "apelo à cidadania responsável e participativa" para a qual, penso, é fundamental que os portugueses se inscrevam nas organizações mais incólumes à corrupção e que, nesta altura, são com certeza os partidos nacionais, a começar pelo Socialista de José Sócrates.
Mas nada disto é relevante. Importa é salientar o orgulho luso de ver Sócrates dizer a Durão Barroso: "Conseguimos, pá!", de ver Cavaco Silva levar cem empresários ao reino de Angola, de ver Pedro Passos Coelho de “joelhos” (segundo o PS) em Espanha...
Ao que parece, 70% dos portugueses (claramente manipulados pelas forças do mal que só sabem fazer campanhas negras) considera os partidos políticos (isto é, aquelas seitas consideradas vitais nas democracias) as instituições mais corruptas.
Mas poderá lá ser! Corrupção nos partidos portugueses? Certamente que Transparency International se esqueceu de ouvir os militantes socialistas, os candidatos a militantes socialistas, os desempregados que querem ser socialistas para arranjar emprego, os empregados à custa do PS etc.
Se os tivesse ouvido saberíamos que no partido de José Sócrates a corrupção não entra. E não entra porque já lá está, porque nunca de lá saiu, digo eu.
"Hoje somos confrontados diariamente com dramas pessoais e familiares que dificilmente poderíamos imaginar. São dramas que as estatísticas nem sempre revelam, mas que nos vão alertando para a dimensão social que a actual crise económica e financeira tem vindo a assumir", declarou o chefe de Estado português um dia destes, como – repito - nada tivesse a ver com o assunto.
Que Cavaco Silva tenha dificuldade em imaginar os múltiplos dramas dos portugueses, ainda vá que não vá. Não pode, contudo, é escudar-se na ignorância de quem vive longe do país real para sacudir a água do capote e para fingir que não sabe que Portugal talvez gostasse de ser um Estado de Direito.
Um Estado de Direito conquista-se quando se não tem medo de dizer a verdade. E esta, quer o presidente queira ou não, não é sua pertença, nem do Governo, nem do PS, nem do PSD, nem daqueles que têm dinheiro para comprar tudo que llhes apetece.
De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que tomasse medidas para castigar tanto o ladrão que entra em casa como o que fica à porta. Mas não. Cavaco Silva, na sua qualidade de mais alto magistrado da nação, parece querer castigar as vítimas e não os ladrões.
De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que visse a quem beneficia a infracção, que argumentos usa para cilindrar a liberdade e sobretudo porque o faz de forma completamente impune.
De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia muita coisa. E não apenas o óbvio para tudo continuar na mesma, para uns relembrarem o António (de Oliveira Salazar) e outros a necessidade de uma nova revolução.
Pois! Mas ainda há uns (e não são poucos) para quem a coisa só se revolve a tiro. Parece-me uma boa opção. Temo, contudo, que ao escolher-se a política do olho por olho, dente por dente, fiquemos todos cegos e desdentados. E se calhar os responsáveis pela tragédia vão continuar a ter pelo menos um olho e dois dentes...
20.10.2010 - orlando.s.castro@gmail.com
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