segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Angola, 35 anos: O POVO NÃO COME PONTES - Samuel Chiwale

.

Ricardo Bordalo (Texto) e Bruno Fonseca (Fotos), da Agência Lusa

Luanda, 08 nov (Lusa) - Com 35 anos percorridos desde a independência de Angola, Samuel Chiwale, co-fundador da UNITA e antigo comandante-geral do movimento do "Galo Negro" chama a atenção para a "miséria" que grassa no país, referindo que "o povo não come pontes nem estradas".

Em entrevista à Agência Lusa, Samuel Chiwale, que recentemente lançou o livro "Cruzei-me com a História", lamenta que o percurso histórico da independência angolana esteja "longe de ser aquilo que foi sonhado".

"Trinta e cinco anos percorridos desde a independência, a Angola pela qual sonhámos, não é a que temos hoje. Se a independência é isto, afinal de contas não valeu a pena... é muito o sofrimento, o povo não vê nada, com a mudança do sistema (colonial) pelo qual tenha valido a pena", diz Chiwale.

Nesta conversa com a Lusa, o histórico dirigente do "Galo Negro" chega a admitir que nem todos no MPLA, partido no poder desde 1975 com quem a UNITA combateu até 2002 numa das mais violentes e longas guerras africanas, ignoram a "miséria" do povo angolano, mas aponta "todas as responsabilidades" para os governantes.

O antigo dirigente e atual deputado da UNITA entende que a reconstrução do país, que sublinha ser "visível e necessária", é positiva, mas adverte que "o povo, a quem tudo falta, não come pontes, vive de comida".

E garante não ter dúvidas: "Falta consumar o desígnio pelo qual tantos lutaram... que não é isto, mas, enfim, é o país que temos, onde falta de tudo um pouco, não há água potável, habitação condigna, alimentação suficiente".

"Angola é um país considerado dos mais ricos de África mas tem uma população extremamente pobre. A mudança que sonhávamos não é esta, o país é independente há 35 anos mas o povo continua a viver miseravelmente", acusa.

Para Samuel Chiwale, a matéria-prima da sua análise não é a visão da UNITA, da FNLA ou do MPLA (os três movimentos que protagonizaram a luta pela independência) mas sim "a visão do povo que nada tem" depois de "um sacrifício histórico".

O deputado da UNITA afirma que o partido "está preparado para mudar as coisas e pode receber o poder hoje", mas adverte que "não será do pé para a mão que as coisas vão mudar. Urgente é fazer tudo para proporcionar ao povo o mínimo necessário para poder viver condignamente".

E mudar é possível porque, entende Chiwale, "Angola já não vive na sombra da guerra".

"Já não vivemos na sombra da guerra, a guerra já é história, de 2002 para cá as coisas mudaram, a paz é um dado adquirido, e falta um programa à altura dessa certeza, a certeza de que a guerra acabou e que o poder político e a política não é feita para ou por inimigos", aponta.

O maior problema da Angola de hoje, 35 anos após a independência, que se assinalam na quinta-feira, é "a riqueza estar concentrada num punhado de pessoas", refere Samuel Chiwale.

"Temos de tudo fazer para que os governantes vejam esta realidade, e não falo do MPLA no seu todo, falo dos governantes. Se estas pessoas quisessem alterar esta realidade, já o teriam feito", afirma.

Lusa/fim
.

Sem comentários: