RICARDO REIS – i ONLINE – 13 novembro 2010
Quando se olha para o mapa mundi da aconomia, percebe-se que as coisas até estão bem, tirando o Ocidente que está em grande crise.
Quem leia um jornal em Portugal ou nos Estados Unidos pensa que o mundo está em crise. Em Portugal, é a dívida externa e os défices públicos que ocupam as notícias; do outro lado do Atlântico, é o desemprego alto que não teima em descer. De ambos os lados, as projecções de crescimento económico medíocre em 2011 causam preocupação: em Portugal algures entre -1.5% e 0.5%, e nos EUA algures entre 1% e 3%.
Um facto passa ao lado de todos nós. Mas é um facto importante, sobretudo para perceber as relações internacionais e os encontros do G-20 desta semana. O mundo não está em crise. Antes pelo contrário, de acordo com as últimas projecções do FMI, o PIB mundial vai crescer 4,5% em 2011. A economia do mundo vai acelerar ao ritmo mais rápido dos últimos 20 anos.
Onde está este crescimento? Antes de mais, vamos ver quem se estima vá crescer tão pouco como Portugal. As notícias são deprimentes. Dos 182 países considerados pelo FMI, as previsões, pré-orçamento, põem Portugal em 11.º lugar a contar do fim. Com a revisão em baixa do nosso crescimento por causa da contracção fiscal, Portugal corre mesmo o sério risco de ser o 3.º ou 4.º país do mundo a crescer menos em 2011. Pior que nós só a Grécia, a Venezuela e o Haiti.
No outro extremo, são 50 os países que vão crescer 5% ou mais. Sim, 50, e neles vive mais de metade da população mundial. Na China, onde vivem cerca de 20% dos seres humanos, o crescimento previsto é 10%; na Índia, onde moram outros 17%, o crescimento esperado é 8,6%. Mais próximo talvez do pensamento dos portugueses, o crescimento esperado em Angola é 7,7%, em Timor-Leste 7,5%, e em Moçambique 7%. O Brasil, que tem estado nas notícias portuguesas por causa das eleições onde se realçou a força da economia brasileira, vai crescer em 2011 4,8%. Não está sequer no top-50 mundial em taxas de crescimento.
Olhando para o mapa do mundo inteiro, salta à vista que mais de metade dos países no continente africano vai crescer mais de 5%; no sudeste asiático, praticamente todos os países vão ter estas impressionantes taxas de crescimento. O contraste é chocante com o que se passa na Europa, onde praticamente nenhum país vai crescer mais do que 3%. O mundo está pujante e eufórico; são os Estados Unidos e a Europa que estão em crise.
Esta é uma tendência que já dura há alguns anos. Os países em desenvolvimento estão a crescer muito mais depressa do que os países ricos. A crise financeira internacional entre 2008 e 2009 afectou todos os países, mas daqui a umas décadas, quem olhar para a história destes anos vai provavelmente ver apenas uma breve pausa naquele que é um dos mais extraordinários períodos de redução da desigualdade no mundo. Ou, duma perspectiva mais pessimista, esta será talvez a década do declínio do ocidente.
rr.ionline@gmail.com Escreve ao sábado
Quando se olha para o mapa mundi da aconomia, percebe-se que as coisas até estão bem, tirando o Ocidente que está em grande crise.
Quem leia um jornal em Portugal ou nos Estados Unidos pensa que o mundo está em crise. Em Portugal, é a dívida externa e os défices públicos que ocupam as notícias; do outro lado do Atlântico, é o desemprego alto que não teima em descer. De ambos os lados, as projecções de crescimento económico medíocre em 2011 causam preocupação: em Portugal algures entre -1.5% e 0.5%, e nos EUA algures entre 1% e 3%.
Um facto passa ao lado de todos nós. Mas é um facto importante, sobretudo para perceber as relações internacionais e os encontros do G-20 desta semana. O mundo não está em crise. Antes pelo contrário, de acordo com as últimas projecções do FMI, o PIB mundial vai crescer 4,5% em 2011. A economia do mundo vai acelerar ao ritmo mais rápido dos últimos 20 anos.
Onde está este crescimento? Antes de mais, vamos ver quem se estima vá crescer tão pouco como Portugal. As notícias são deprimentes. Dos 182 países considerados pelo FMI, as previsões, pré-orçamento, põem Portugal em 11.º lugar a contar do fim. Com a revisão em baixa do nosso crescimento por causa da contracção fiscal, Portugal corre mesmo o sério risco de ser o 3.º ou 4.º país do mundo a crescer menos em 2011. Pior que nós só a Grécia, a Venezuela e o Haiti.
No outro extremo, são 50 os países que vão crescer 5% ou mais. Sim, 50, e neles vive mais de metade da população mundial. Na China, onde vivem cerca de 20% dos seres humanos, o crescimento previsto é 10%; na Índia, onde moram outros 17%, o crescimento esperado é 8,6%. Mais próximo talvez do pensamento dos portugueses, o crescimento esperado em Angola é 7,7%, em Timor-Leste 7,5%, e em Moçambique 7%. O Brasil, que tem estado nas notícias portuguesas por causa das eleições onde se realçou a força da economia brasileira, vai crescer em 2011 4,8%. Não está sequer no top-50 mundial em taxas de crescimento.
Olhando para o mapa do mundo inteiro, salta à vista que mais de metade dos países no continente africano vai crescer mais de 5%; no sudeste asiático, praticamente todos os países vão ter estas impressionantes taxas de crescimento. O contraste é chocante com o que se passa na Europa, onde praticamente nenhum país vai crescer mais do que 3%. O mundo está pujante e eufórico; são os Estados Unidos e a Europa que estão em crise.
Esta é uma tendência que já dura há alguns anos. Os países em desenvolvimento estão a crescer muito mais depressa do que os países ricos. A crise financeira internacional entre 2008 e 2009 afectou todos os países, mas daqui a umas décadas, quem olhar para a história destes anos vai provavelmente ver apenas uma breve pausa naquele que é um dos mais extraordinários períodos de redução da desigualdade no mundo. Ou, duma perspectiva mais pessimista, esta será talvez a década do declínio do ocidente.
rr.ionline@gmail.com Escreve ao sábado
.
Sem comentários:
Enviar um comentário