segunda-feira, 29 de novembro de 2010

EUA: A NAÇÃO NOJENTA *

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Informação revelada pela Wikileaks entala os EUA

Augusto Correia * - Jornal de Notícias

O site Wikileaks, que já divulgara documentos classificados pelo Governo dos EUA sobre as operações militares no Afeganistão e no Iraque, libertou cerca de 250 mil novos documentos que "constituem a maior fuga de informação secreta de toda a história".

Ignorando os avisos de Washington, mas, precavendo-se contra a reacção da Casa Branca e do Pentágono, que poderiam neutralizar o acesso ao site - que ontem, domingo, esteve incessível -, a Wikileaks libertou a informação a alguns jornais de referência e línguas várias: El País (espanhol), Le Monde (francês), The Guardian e New York Times (língua inglesa) e Der Spiegel (alemã).

A Casa Branca condenou "veementemente" a divulgação "irresponsável e perigosa", alegando que "tais revelações colocam em risco diplomatas, os serviços secretos e as pessoas que apelam aos EUA para que promova a democracia e um Governo transparente".

Segundo o El País, "o alcance destas revelações é de tal calibre que, seguramente, se poderá falar de um antes e um depois, no que diz respeito aos hábitos diplomáticos".

Na lista dos 15 mil documentos a que o El País teve acesso, de um total de 250 mil, há "comentários e relatórios elaborados por funcionários norte-americanos, com uma linguagem muito franca, sobre personalidades de todo o mundo".

Destaca-se, por exemplo, a suspeita norte-americana de que a política russa está nas mãos de Vladimir Putin, "que é considerado um político de perfil autoritário, cujo estilo pessoal machista lhe permite relacionar-se perfeitamente com Silvio Berlusconi".

Do primeiro-ministro italiano, revelam-se pormenores das suas "festas selvagens" e manifesta-se "a desconfiança profunda que desperta em Washington".

A diplomacia norte-americana demonstra também "pouco apreço" pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, cujos movimentos para criar obstáculos à política externa dos Estados Unidos são "meticulosamente seguidos".

Os documentos "oferecem uma perspectiva inédita das negociações de bastidores tais como as praticam as embaixadas em todo o mundo", observa o New York Times.

O diário britânico The Guardian indica, por exemplo, que o rei Abdallah da Arábia Saudita instou os Estados Unidos a atacarem o Irão para pôr fim ao programa nuclear iraniano.

No conjunto dos mais de 250 mil telegramas do departamento de Estado dos Estados Unidos que abrangem um período até Fevereiro de 2010 e que incidem, na maioria, sobre os últimos dois anos, há ainda referências à Chanceler alemã, Angela Merkel, considerada "pouco criativa".

O secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon, os seus assistentes e equipas, as agências da ONU, suas embaixadas e as organizações não governamentais ficaram, assim, sob a permanente espionagem dos diplomatas norte-americanos.

O correio diplomático divulgado pela Wikileaks reproduz os rumores sobre a suposta corrupção do primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan.

Num despacho datado de Maio de 2009, a embaixadora norte-americana Anne W. Patterson afirma que as autoridades paquistanesas recusaram uma visita de especialistas dos EUA às instalações nucleares no Paquistão.

Os documentos revelam, ainda, a forma curiosa como os diplomatas norte-americanos vêem alguns dos líderes mundiais. Da "pele fina" de Sarkozy aos "aspecto flácido" de Kim Jong-II.

* Com Lusa

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