quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PORTUGAL AO SERVIÇO DA HEGEMONIA

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MARTINHO JÚNIOR

“No fundo de todas as diferentes crises que enfrentamos, jaz uma enorme crise moral, uma grande crise de valores e princípios éticos. Todos temos atraiçoado os valores emanados de nossas respectivas tradições religiosas ou ético filosóficas. Temo-nos atraiçoado a nós mesmos ao cair na tentação capitalista e ao assumirmos valores que são contra a vida, de ódio e de egoísmo, temo-nos convertido nos piores predadores, inimigos da nossa Mãe Terra, temo-nos desumanizado”, Miguel D’Escoto, Presidente da Assembleia Geral da ONU, (1).

Numa época de recessão e numa altura em que o povo português sofre as contingências dum capitalismo desregrado cuja lógica é contra a vida e contra os direitos fundamentais de cidadania, o governo português cede às imposições dum organismo como a NATO, que deveria ter acompanhado a sorte do seu homólogo da Guerra Fria, a sorte do Pacto de Varsóvia.

Impondo sacrifícios, aumentando a pobreza, o desemprego e viciando o sistema político, o capitalismo de inspiração hegemónica em Portugal impõe regras e sujeições às Forças Armadas Portuguesas e obriga-as a tomar parte em acções que agora, no âmbito da globalização, se adaptam à escala planetária e estão fora dos contextos próprios dos direitos de soberania do país, fora do contexto Atlântico e perseguem estratégias que chegam até a contrariar algumas das iniciativas estratégicas de Portugal (nomeadamente no campo energético).

Portugal deveria cuidar por exemplo, muito mais dos seus relacionamentos e interesses com a Rússia e com a China, por razões históricas, culturais, e económicas, todavia está a reboque das imposições da NATO… sem limites e aparentemente também sem limitações.

A Marinha de Guerra Portuguesa, por essa e outras razões, está em fase de ampliação e modernização de seus meios, de forma a cumprir com as tarefas típicas da “Nova Era” do desempenho NATO, ou seja, aquela que se sujeita às missões sob orientação da “doutrina Bush”, agora revista e refinada pela administração de Barack Hussein Obama.

Nesse âmbito, 4 corvetas da classe João Belo, estão a ser substituídas por duas fragatas duma nova classe de origem holandesa (Karel Doorman), superiores e mais modernas que as três fragatas da classe Vasco da Gama (a F 332 Corte Real faz parte desta classe).

A nova classe vai ser operada em função da transferência de dois vasos de guerra: a HNLMS Van Nees, que passará a ser a F 333 Bartolomeu Dias e a HNLMS Van Galen, que passará a ser a F 334 D. Francisco de Almeida, qualquer uma delas com capacidades oceânicas de longo raio de acção e muito mais modernas que os navios que vão substituir, até por que respondem a um outro tipo de acções e exigências incompatíveis com a obsoleta classe João Belo, seja em mares de climas temperados, seja em mares tropicais.

Paralelamente e uma vez que o pretexto de combate à pirataria está a cair em desuso face às alterações em Puntland na Somália, o flotilha da OTAN que está sob o comando da fragata NRP Corte Real deslocou-se para o Paquistão onde está a realizar exercícios com a Marinha Paquistanesa, numa altura em que os Estados Unidos e seus aliados vão realizando exercícios em todas as latitudes do globo, desde o Pacífico, ao Índico e às Caraíbas, passando pela Geórgia, em reforço do esforço operativo em várias direcções, mas com particular incidência no Médio Oriente.

A estratégia Norte Americana cerca a Rússia e aproxima-se da Índia, bem como da China e a NATO é um dos instrumentos militares com que os Estados Unidos contam nessa imensa tarefa de carácter hegemónico.

O “combate à pirataria” (enquanto reforço dum outro tipo de pirataria) nas costas do Noroeste Africano, foi assim um pretexto para o alargamento da influência: no momento em que a flotilha da NATO realiza manobras com navios de guerra do Paquistão (3), a US Navy, num escalão superior (Malabar 2009), realiza-as com o Japão e Índia, (4).

Pela primeira vez uma flotilha da NATO atracou em Carachi.

Martinho Júnior
2 de Maio de 2009.

Ver Portugal na NATO é caucionar que Portugal ouse vir para África e para o Atlântico Sul, no âmbito dessa Organizqação e não em função dos seus relacionamentos bilaterais ou multilaterais com os países do Sul, de forma aberta e post 25 de Abril, duma maneira que o Portugal fascista só podia fazer de forma velada, em relação ao armamento da NATO que então dispunha e que foi tão importante para sustentar a saga criminosa da guerra colonial.

Foto: F 333 Bartolomeu Dias em Porthmouth.

Notas:
- (1) – Extraído da reflexão de Fidel de Castro “Há que dar-lhe tudo” -
http://www.juventudrebelde.cu/cuba/2009-05-02/hay-que-darlo-todo/.
- (2) – Frgata F 333 Bartolomeu Dias atracou na Base Naval de Lisboa -
http://www.marinha.pt/Marinha/PT/Menu/NoticiasAgenda/Noticias/teste5.htm.
- (3) – Manobras da flotilha da NATO SNMG1 com a Marinha do Paquistão -
http://missaonato09.blogspot.com/.
- (4) – Exercício Malabar 2009 (Índia, Estados Unidos e Japão) -
http://www.navy.mil/search/display.asp?story_id=44843.
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