NICK BEAMS – WSWS - 13 de janeiro de 2011
O novo ano se abre com as seguintes preocupações: dois anos após o colapso financeiro iniciado com a quebra do Lehman Brothers, a economia mundial e o sistema financeiro, distante de se recuperarem, entram numa era de turbulências econômicas e políticas sem precedentes. De repente, percebeu-se que a crise financeira não era uma queda cíclica que seria seguida de uma ascensão, mas o início de uma nova era de quebradeira econômica.
Numa declaração publicada no mês passado, Jeffrey Garten, subsecretário de comércio do governo Clinton e professor da universidade de Yale, afirmou: "À medida que se aproxima do fim a primeira década do séc. XXI, legando ao esquecimento o constante crescimento da segunda metade do último século, o que o futuro reserva à economia mundial? Nos próximos vários anos, podemos esperar uma turbulência excepcional, na medida em que a ordem econômica global que conhecemos age caoticamente e, possivelmente, de forma destrutiva".
O foco imediato da atenção é lançado sobre a Europa, onde, de acordo com o comentado no New York Times por Simon Johnson, economista-chefe do FMI, "os analistas mais experientes da Zona do Euro esperam um séria crise neste início de 2011, vinculada aos fundos necessários aos governos enfraquecidos".
No entanto, como previne Johnson, a turbulência não se aterá ao Atlântico. "Quando os mercados financeiros esgotarem-se na Europa, testarão a capacidade fiscal dos EUA". Apesar da crença de toda a elite norte-americana de que "somos diferentes dos Europeus porque detemos o dólar e, portanto, temos privilégios", a era do domínio norte-americana, insiste ele, terminou.
O Financial Times também apontou para a probabilidade de que a crise financeira européia se espalhe nos próximos meses. "O último ano nos trouxe a crise fiscal da Zona do Euro. A Grécia e a Irlanda tiveram de ser resgatadas e muitas questões pairam sobre Portugal e Espanha. Mas o foco, agora, parece se ampliar. A questão para 2011 é: quanto do mundo ocidental será envolvido?", escreveu em 3 de Janeiro.
O FT citou uma pesquisa realizada entre os principais investidores de um dos maiores bancos de investimento dos EUA. Quando questionados se a crise fiscal que afeta a Europa se estenderia aos EUA, menos de 10% assinalou "nunca".
Enquanto os problemas econômicos e financeiros se aprofundam na Europa e nos EUA, a economia chinesa, ainda em crescimento, longe de garantir uma nova base para a expansão da economia mundial, pode se tornar uma fonte da nova onda de turbulência internacional.
A inflação crescente abriu espaço para as autoridades aumentarem as taxas de juros, espalhando preocupações de que, se esse crescimento for muito intenso, ocorrerá um colapso nos investimentos e estourará uma verdadeira bolha estatal - que em grande parte foi promovida por autoridades governamentais locais -, que desempenhou um papel central no crescimento da economia chinesa nos últimos dois anos.
De acordo com o professor da Universidade de Pequim, Michal Pettis: "Os débitos públicos estão assustadoramente altos e começam a agir pressionando o reequilíbrio. Se torna cada vez mais difícil ao Banco Popular da China manter suas taxas de juros sem gerar um conflito entre as entidades relacionadas ao governo".
Os problemas que se aprofundam na economia chinesa, ainda que aumentados pela crise financeira mundial, têm raízes em processos de longo prazo. Segundo o ex-membro do Comitê de Política Monetária do Banco Popular da China, Yu Yongding, como afirmado no China Daily, o "patamar de crescimento do leste asiático", que embasou todo o crescimento chinês das últimas três décadas "agora praticamente exauriu seu potencial". Consequentemente, "a China atingiu um conjuntura crucial" e "sem dolorosos ajustes estruturais, o momento de seu crescimento econômico pode ser perdido".
As ações dos EUA estão alimentando a crescente turbulência na economia mundial.
Os EUA funcionaram, por um longo período após a II Guerra Mundial, como a âncora da economia capitalista mundial. Hoje, são uma das principais fontes de desestabilização, na medida em que buscam superar seus crescentes problemas econômicos às custas de seus rivais.
A política do "quantitative easing" do FED (Banco Central do EUA), que consiste em injetar bilhões de dólares no sistema financeiro mundial - aumentando a disponibilidade de financiamento barato e rebaixando o valor do dólar - lança ondas de choque sobre a economia do mundo.
Uma das consequências imediatas tem sido a especulação renovada sobre os alimentos e bens básicos, como a gasolina. Nesta semana, a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU gerou um aviso a respeito dos preços dos alimentos, que ultrapassaram os valores da alta de 2007-2008.
Diversos países, confrontadas com o "dinheiro fácil" injetado pelo "quantitative easing", adotam agora medidas de controle financeiro. Foi o caso, nesta semana, do anúncio de regulações bancárias no Brasil para tentar contornar o influxo financeiro, assim como no Chile, onde autoridades intervieram nos mercados monetários buscando diminuir o valor do peso.
Apontando as profundas divisões na economia mundial, o Nobel em economia Joseph Stiglitz notou que a política coordenada das maiores potências ante a crise em 2009 não está "longe na memória".
"Pior", continua ele, "a política americana do 'quantitative easing' deve ser vista apenas como um atualização das políticas que marcaram a Grande Depressão. O mundo se volta agora ao caminho onde taxas de juros são usadas em autopromoção de alguns países e prejuízo de outros - desencorajando importação e encorajando exportação (…) Tais políticas de má vizinhança não funcionaram nos anos 30, por conta das respostas dos países. Hoje ocorrerá o mesmo".
O surgimento de guerras cambiais ameaça quebrar o mercado mundial da mesma forma que as barreiras de tarifas fragmentaram o mundo na década de 1930 entre alguns blocos econômicos hostis (que levou à guerra ao final da década).
As crescentes tensões entre as maiores potências são acompanhadas de um crescente e feroz assalto às conquistas sociais da classe trabalhadora. Os ataques e a violência estatal contra estudantes, jovens e trabalhadores pelos governos da Inglaterra, Grécia, Espanha e França na tentativa de implementar as medidas de austeridade ditadas pelos bancos e mercados financeiros apenas prenuncia o que virá na medida em que a burguesia de todo o mundo tentar fazer a classe trabalhadora pagar pela bancarrota histórica do sistema do lucro.
Assim como a quebradeira do capitalismo se dá em proporções continentais e em todo o mundo, a classe trabalhadora precisa se unir e dar sua resposta. É preciso criar um movimento unificado da classe trabalhadora mundial que a organize para tomar o poder político e estabelecer novos governos, dos trabalhadores, colocando os recursos econômicos, financeiros e naturais em suas mãos, buscando atender as necessidades sociais de todos. Essa é a perspectiva do Comitê Internacional da Quarta Internacional.
[Traduzido por movimentonn.org]
O novo ano se abre com as seguintes preocupações: dois anos após o colapso financeiro iniciado com a quebra do Lehman Brothers, a economia mundial e o sistema financeiro, distante de se recuperarem, entram numa era de turbulências econômicas e políticas sem precedentes. De repente, percebeu-se que a crise financeira não era uma queda cíclica que seria seguida de uma ascensão, mas o início de uma nova era de quebradeira econômica.
Numa declaração publicada no mês passado, Jeffrey Garten, subsecretário de comércio do governo Clinton e professor da universidade de Yale, afirmou: "À medida que se aproxima do fim a primeira década do séc. XXI, legando ao esquecimento o constante crescimento da segunda metade do último século, o que o futuro reserva à economia mundial? Nos próximos vários anos, podemos esperar uma turbulência excepcional, na medida em que a ordem econômica global que conhecemos age caoticamente e, possivelmente, de forma destrutiva".
O foco imediato da atenção é lançado sobre a Europa, onde, de acordo com o comentado no New York Times por Simon Johnson, economista-chefe do FMI, "os analistas mais experientes da Zona do Euro esperam um séria crise neste início de 2011, vinculada aos fundos necessários aos governos enfraquecidos".
No entanto, como previne Johnson, a turbulência não se aterá ao Atlântico. "Quando os mercados financeiros esgotarem-se na Europa, testarão a capacidade fiscal dos EUA". Apesar da crença de toda a elite norte-americana de que "somos diferentes dos Europeus porque detemos o dólar e, portanto, temos privilégios", a era do domínio norte-americana, insiste ele, terminou.
O Financial Times também apontou para a probabilidade de que a crise financeira européia se espalhe nos próximos meses. "O último ano nos trouxe a crise fiscal da Zona do Euro. A Grécia e a Irlanda tiveram de ser resgatadas e muitas questões pairam sobre Portugal e Espanha. Mas o foco, agora, parece se ampliar. A questão para 2011 é: quanto do mundo ocidental será envolvido?", escreveu em 3 de Janeiro.
O FT citou uma pesquisa realizada entre os principais investidores de um dos maiores bancos de investimento dos EUA. Quando questionados se a crise fiscal que afeta a Europa se estenderia aos EUA, menos de 10% assinalou "nunca".
Enquanto os problemas econômicos e financeiros se aprofundam na Europa e nos EUA, a economia chinesa, ainda em crescimento, longe de garantir uma nova base para a expansão da economia mundial, pode se tornar uma fonte da nova onda de turbulência internacional.
A inflação crescente abriu espaço para as autoridades aumentarem as taxas de juros, espalhando preocupações de que, se esse crescimento for muito intenso, ocorrerá um colapso nos investimentos e estourará uma verdadeira bolha estatal - que em grande parte foi promovida por autoridades governamentais locais -, que desempenhou um papel central no crescimento da economia chinesa nos últimos dois anos.
De acordo com o professor da Universidade de Pequim, Michal Pettis: "Os débitos públicos estão assustadoramente altos e começam a agir pressionando o reequilíbrio. Se torna cada vez mais difícil ao Banco Popular da China manter suas taxas de juros sem gerar um conflito entre as entidades relacionadas ao governo".
Os problemas que se aprofundam na economia chinesa, ainda que aumentados pela crise financeira mundial, têm raízes em processos de longo prazo. Segundo o ex-membro do Comitê de Política Monetária do Banco Popular da China, Yu Yongding, como afirmado no China Daily, o "patamar de crescimento do leste asiático", que embasou todo o crescimento chinês das últimas três décadas "agora praticamente exauriu seu potencial". Consequentemente, "a China atingiu um conjuntura crucial" e "sem dolorosos ajustes estruturais, o momento de seu crescimento econômico pode ser perdido".
As ações dos EUA estão alimentando a crescente turbulência na economia mundial.
Os EUA funcionaram, por um longo período após a II Guerra Mundial, como a âncora da economia capitalista mundial. Hoje, são uma das principais fontes de desestabilização, na medida em que buscam superar seus crescentes problemas econômicos às custas de seus rivais.
A política do "quantitative easing" do FED (Banco Central do EUA), que consiste em injetar bilhões de dólares no sistema financeiro mundial - aumentando a disponibilidade de financiamento barato e rebaixando o valor do dólar - lança ondas de choque sobre a economia do mundo.
Uma das consequências imediatas tem sido a especulação renovada sobre os alimentos e bens básicos, como a gasolina. Nesta semana, a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU gerou um aviso a respeito dos preços dos alimentos, que ultrapassaram os valores da alta de 2007-2008.
Diversos países, confrontadas com o "dinheiro fácil" injetado pelo "quantitative easing", adotam agora medidas de controle financeiro. Foi o caso, nesta semana, do anúncio de regulações bancárias no Brasil para tentar contornar o influxo financeiro, assim como no Chile, onde autoridades intervieram nos mercados monetários buscando diminuir o valor do peso.
Apontando as profundas divisões na economia mundial, o Nobel em economia Joseph Stiglitz notou que a política coordenada das maiores potências ante a crise em 2009 não está "longe na memória".
"Pior", continua ele, "a política americana do 'quantitative easing' deve ser vista apenas como um atualização das políticas que marcaram a Grande Depressão. O mundo se volta agora ao caminho onde taxas de juros são usadas em autopromoção de alguns países e prejuízo de outros - desencorajando importação e encorajando exportação (…) Tais políticas de má vizinhança não funcionaram nos anos 30, por conta das respostas dos países. Hoje ocorrerá o mesmo".
O surgimento de guerras cambiais ameaça quebrar o mercado mundial da mesma forma que as barreiras de tarifas fragmentaram o mundo na década de 1930 entre alguns blocos econômicos hostis (que levou à guerra ao final da década).
As crescentes tensões entre as maiores potências são acompanhadas de um crescente e feroz assalto às conquistas sociais da classe trabalhadora. Os ataques e a violência estatal contra estudantes, jovens e trabalhadores pelos governos da Inglaterra, Grécia, Espanha e França na tentativa de implementar as medidas de austeridade ditadas pelos bancos e mercados financeiros apenas prenuncia o que virá na medida em que a burguesia de todo o mundo tentar fazer a classe trabalhadora pagar pela bancarrota histórica do sistema do lucro.
Assim como a quebradeira do capitalismo se dá em proporções continentais e em todo o mundo, a classe trabalhadora precisa se unir e dar sua resposta. É preciso criar um movimento unificado da classe trabalhadora mundial que a organize para tomar o poder político e estabelecer novos governos, dos trabalhadores, colocando os recursos econômicos, financeiros e naturais em suas mãos, buscando atender as necessidades sociais de todos. Essa é a perspectiva do Comitê Internacional da Quarta Internacional.
[Traduzido por movimentonn.org]
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