Grande quantidade de corpos no IML de Teresópolis obrigou a equipe de técnicos a adotar o reconhecimento dos mortos por meio de fotografias
No alto de Teresópolis (RJ)
faltam sacos para os corpos encontrados após chuva
HUDSON CORRÊA - ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS – FOLHA. COM - 13 janeiro 2011
Enquanto voluntários recolhiam documentos e fotos em meio aos escombros, corpos dos mortos eram retirados dos destroços e colocados em sacos pretos no bairro Campo Grande, no alto de Teresópolis, uma das cidades mais afetadas pela chuva na região serrana do Rio.
Primeiro, ficavam acomodados ao lado das rochas gigantes que destruíram tudo no caminho. Depois seguiam para um campo de futebol um quilômetro ladeira abaixo.
A Folha conseguiu chegar ao local de helicóptero.
Por volta das 15h desta quinta-feira, sete aguardavam helicóptero de resgate. Dois não estavam identificados. Cães cheiravam os sacos. Moradores conferiam se havia a algum parente.
Pode faltar saco, só temos 50", disse um guarda responsável pelo resgate.
Também foram para um saco preto documentos das vítimas reunidos pelo construtor Geazir Serafim, 52.
Segundo um oficial de bombeiros diz que "dúzias de corpos" estão entre o alto, onde havia mais de 200 casas, e o campo de futebol. Nenhum helicóptero pousou no local até 16h. Um oficial disse que a demanda era grande.
Por volta das 17h, trazido por voluntários, chegou um oitavo corpo. Esse trazido numa espreguiçadeira de piscina. O corpo feminino foi encontrado em um sítio onde a lama ainda esta na altura da cintura das pessoas.
As ruas do bairro ficaram tomadas por rochas que desceram a serra. O pequeno córrego ganhou volume e abriu novo curso nos quintais. Carros estão tombados ou com as rodas para cima.
A lama que sufocou moradores é capaz ainda de atolar meio corpo de repórter ou voluntário desavisado.
Em meio à lama o morador Josiel Ribeiro, 62, tenta chegar a sua casa mais em cima e dar ração aos cachorros. Um coelho branco encontrado vivo nos escombros deve ter animado Josiel.
A vila destruída tem moradores pobres. Alguns descem a pé levando sacolas e trouxas de roupas pela rua enlameada por onde corre água ainda.
Voluntários dizem que houve saques de bens deixados em meio aos escombros.
O número de mortos em consequência das chuvas desta semana subiu para 185 em Teresópolis e, com isso, o número de óbitos na região serrana atinge 432. As outras vítimas foram registradas em Nova Friburgo (187) Petrópolis (39), Sumidouro (17) e São José do Vale do Rio Preto (4). Ainda há desaparecidos.
IML
O grande número de corpos no IML (Instituto Médico Legal) de Teresópolis obrigou as equipes de técnicos a adotar o reconhecimento dos mortos por meio de fotografias. Cerca de 50 pessoas estão concentradas em frente ao prédio do IML, em busca de parentes desaparecidos.
As fotos dos rostos dos mortos são mostradas pelos peritos a quem busca informações. Só entram no prédio os parentes que reconheceram vítimas por meio das fotografias. O prédio do IML funciona ao lado de uma delegacia de polícia e tem capacidade para receber apenas seis corpos. Até as 12h de hoje já tinham dado entrada 147 corpos. Outro prédio, em frente à delegacia, teve que ser requisitado para receber corpos.
VÍTIMAS
A presidente Dilma Rousseff sobrevoou nesta quinta-feira as áreas afetadas e afirmou que momento vivido pelos moradores da região serrana é "dramático" e que as cenas que presenciou são "muito fortes".
O governador Sérgio Cabral (PMDB) voltou a culpar as prefeituras das cidades da região serrana pelo incentivo à moradia em áreas de risco. "Lamentavelmente, o que nós tivemos em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, da década de 1980 pra cá, foi um problema muito semelhante com o que ocorreu na cidade do Rio, que é a desgraça do populismo. Deixar a ocupação pelos mais pobres das áreas de risco", disse. Cabral disse que, apesar de haver mortos que estavam em casas de alto padrão, a maior parte das vítimas são "pessoas humildes".
Os bombeiros afirmam que uma das maiores dificuldades encontradas pelas equipes de regaste na região serrana do Rio é a falta de comunicação, já que os telefones e a internet estão com problemas. Outra dificuldade enfrentada pelas equipes de resgate é em relação aos acessos em algumas partes das cidades de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo.
AGÊNCIA BRASIL
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HUDSON CORRÊA - ENVIADO ESPECIAL A TERESÓPOLIS – FOLHA. COM - 13 janeiro 2011
Enquanto voluntários recolhiam documentos e fotos em meio aos escombros, corpos dos mortos eram retirados dos destroços e colocados em sacos pretos no bairro Campo Grande, no alto de Teresópolis, uma das cidades mais afetadas pela chuva na região serrana do Rio.
Primeiro, ficavam acomodados ao lado das rochas gigantes que destruíram tudo no caminho. Depois seguiam para um campo de futebol um quilômetro ladeira abaixo.
A Folha conseguiu chegar ao local de helicóptero.
Por volta das 15h desta quinta-feira, sete aguardavam helicóptero de resgate. Dois não estavam identificados. Cães cheiravam os sacos. Moradores conferiam se havia a algum parente.
Pode faltar saco, só temos 50", disse um guarda responsável pelo resgate.
Também foram para um saco preto documentos das vítimas reunidos pelo construtor Geazir Serafim, 52.
Segundo um oficial de bombeiros diz que "dúzias de corpos" estão entre o alto, onde havia mais de 200 casas, e o campo de futebol. Nenhum helicóptero pousou no local até 16h. Um oficial disse que a demanda era grande.
Por volta das 17h, trazido por voluntários, chegou um oitavo corpo. Esse trazido numa espreguiçadeira de piscina. O corpo feminino foi encontrado em um sítio onde a lama ainda esta na altura da cintura das pessoas.
As ruas do bairro ficaram tomadas por rochas que desceram a serra. O pequeno córrego ganhou volume e abriu novo curso nos quintais. Carros estão tombados ou com as rodas para cima.
A lama que sufocou moradores é capaz ainda de atolar meio corpo de repórter ou voluntário desavisado.
Em meio à lama o morador Josiel Ribeiro, 62, tenta chegar a sua casa mais em cima e dar ração aos cachorros. Um coelho branco encontrado vivo nos escombros deve ter animado Josiel.
A vila destruída tem moradores pobres. Alguns descem a pé levando sacolas e trouxas de roupas pela rua enlameada por onde corre água ainda.
Voluntários dizem que houve saques de bens deixados em meio aos escombros.
O número de mortos em consequência das chuvas desta semana subiu para 185 em Teresópolis e, com isso, o número de óbitos na região serrana atinge 432. As outras vítimas foram registradas em Nova Friburgo (187) Petrópolis (39), Sumidouro (17) e São José do Vale do Rio Preto (4). Ainda há desaparecidos.
IML
O grande número de corpos no IML (Instituto Médico Legal) de Teresópolis obrigou as equipes de técnicos a adotar o reconhecimento dos mortos por meio de fotografias. Cerca de 50 pessoas estão concentradas em frente ao prédio do IML, em busca de parentes desaparecidos.
As fotos dos rostos dos mortos são mostradas pelos peritos a quem busca informações. Só entram no prédio os parentes que reconheceram vítimas por meio das fotografias. O prédio do IML funciona ao lado de uma delegacia de polícia e tem capacidade para receber apenas seis corpos. Até as 12h de hoje já tinham dado entrada 147 corpos. Outro prédio, em frente à delegacia, teve que ser requisitado para receber corpos.
VÍTIMAS
A presidente Dilma Rousseff sobrevoou nesta quinta-feira as áreas afetadas e afirmou que momento vivido pelos moradores da região serrana é "dramático" e que as cenas que presenciou são "muito fortes".
O governador Sérgio Cabral (PMDB) voltou a culpar as prefeituras das cidades da região serrana pelo incentivo à moradia em áreas de risco. "Lamentavelmente, o que nós tivemos em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, da década de 1980 pra cá, foi um problema muito semelhante com o que ocorreu na cidade do Rio, que é a desgraça do populismo. Deixar a ocupação pelos mais pobres das áreas de risco", disse. Cabral disse que, apesar de haver mortos que estavam em casas de alto padrão, a maior parte das vítimas são "pessoas humildes".
Os bombeiros afirmam que uma das maiores dificuldades encontradas pelas equipes de regaste na região serrana do Rio é a falta de comunicação, já que os telefones e a internet estão com problemas. Outra dificuldade enfrentada pelas equipes de resgate é em relação aos acessos em algumas partes das cidades de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo.
AGÊNCIA BRASIL
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