MARTINHO JÚNIOR
No último trimestre de 2010 comemorou-se o centenário do nascimento de um dos maiores poetas de Espanha do século XX: Miguel Hernandez.
Essas comemorações não podiam passar despercebidas a todos aqueles que espalhados pelo mundo animam as trincheiras que perseguem a lógica da vida, até por que Miguel Hernandez foi um combatente pela República e a sua morte ocorreu nas prisões de Franco, depois da polícia portuguesa o ter detido na área de Moura, em Santo Aleixo da Restauração e, num entendimento entre iguais, o encaminhado sob prisão para a custódia do “fascismo geminado” do outro lado da fronteira.
O poeta-combatente tornar-se-ia um peregrino, de prisão em prisão até à sua morte prematura, quando sua vida deveria atingir o máximo de seu fulgor.
“Nasceu em Orihuela, um pequeno povoado levantino em 30 de Outubro de 1910 e morreu em 1942 com 31 anos de idade.
O pai contrariava a leitura não o deixou continuar os estudos e pô-lo a pastorear o rebanho de cabras da família.
É um autodidacta e a sua poesia inicialmente pouco interessante começa a ganhar asas no final dos anos 20 a ponto de se tornar um dos grandes poetas do país vizinho.
Ofereceu-se para o exército republicano que combatia o golpe fascista e as tropas de Franco e nas trincheiras escreveu o belíssimo poema de amor reproduzido abaixo dedicado a Josefina Manresa com quem casara, em Março de 1937 e ao filho anunciado e cantado (1976) por Adolfo Cedrán, ele também um lutador antifranquista (N.:1943).
Derrotada a República, Miguel Hernandez tentou escapar aos assassínios em massa dos franquistas e fugiu para Portugal mas Salazar entregou-o piedosamente a Franco que o condenou à morte.
Esta condenação foi depois comutada porque Franco receou outra campanha internacional de denúncia do fascismo franquista como a que ocorria em consequência do assassinato de Garcia Lorca.
Os franquistas preferiram deixá-lo morrer na prisão não lhe dando cuidados médicos e deixando que a tuberculose substituísse o fuzilamento”. (1)
Trovadores como Victor Jara, Manuel Serrat, Paco Ibanez, cantaram seus poemas, na esteira de seu legado.
O poeta-combatente mereceu as seguintes palavras emcionadas de Pablo Neruda: (2)
«Recordar a Miguel Hernández que desapareció en la oscuridad y recordarlo a plena luz, es un deber de España, un deber de amor.
Pocos poetas tan generosos y luminosos como el muchachón de Orihuela cuya estatua se levantará algún día entre los azahares de su dormida tierra.
No tenía Miguel la luz cenital del Sur como los poetas rectilíneos de Andalucía sino una luz de tierra, de mañana pedregosa, luz espesa de panal despertando.
Con esta materia dura como el oro, viva como la sangre, trazó su poesía duradera. ¡Y éste fue el hombre que aquel momento de España desterró a la sombra!
¡Nos toca ahora y siempre sacarlo de su cárcel mortal, iluminarlo con su valentía y su martirio, enseñarlo como ejemplo de corazón purísimo! ¡Darle la luz! ¡Dársela a golpes de recuerdo, a paletadas de claridad que lo revelen, arcángel de una gloria terrestre que cayó en la noche armado con la espada de la luz!»
É preciso saber-se de onde se vem, para melhor se avaliar o presente e melhor ainda se prepararem as heranças de paz para as futuras gerações.
A memória Ibérica dos momentos tão decisivos de Espanha ainda hoje alimenta o mundo, em particular aqueles que na América Latina e em África foram buscar às experiências vividas em Espanha as referências históricas e revolucionárias inspiradoras para os processos de luta que foram sendo vividos nos dois continentes.
Lembrar os poetas-mártires e heróicos de Espanha, entre eles Miguel Hernandez e isso no quadro dos muitos intelectuais que combateram do lado da República (alguns deles integrando as Brigadas Internacionais), faz parte da cultura de resistência e resgate dos povos do sul face ao colonialismo, ao neo colonialismo e ao império, por muito que esses conceitos surjam diluídos nos actuais expedientes de globalização!
No último trimestre de 2010 comemorou-se o centenário do nascimento de um dos maiores poetas de Espanha do século XX: Miguel Hernandez.
Essas comemorações não podiam passar despercebidas a todos aqueles que espalhados pelo mundo animam as trincheiras que perseguem a lógica da vida, até por que Miguel Hernandez foi um combatente pela República e a sua morte ocorreu nas prisões de Franco, depois da polícia portuguesa o ter detido na área de Moura, em Santo Aleixo da Restauração e, num entendimento entre iguais, o encaminhado sob prisão para a custódia do “fascismo geminado” do outro lado da fronteira.
O poeta-combatente tornar-se-ia um peregrino, de prisão em prisão até à sua morte prematura, quando sua vida deveria atingir o máximo de seu fulgor.
“Nasceu em Orihuela, um pequeno povoado levantino em 30 de Outubro de 1910 e morreu em 1942 com 31 anos de idade.
O pai contrariava a leitura não o deixou continuar os estudos e pô-lo a pastorear o rebanho de cabras da família.
É um autodidacta e a sua poesia inicialmente pouco interessante começa a ganhar asas no final dos anos 20 a ponto de se tornar um dos grandes poetas do país vizinho.
Ofereceu-se para o exército republicano que combatia o golpe fascista e as tropas de Franco e nas trincheiras escreveu o belíssimo poema de amor reproduzido abaixo dedicado a Josefina Manresa com quem casara, em Março de 1937 e ao filho anunciado e cantado (1976) por Adolfo Cedrán, ele também um lutador antifranquista (N.:1943).
Derrotada a República, Miguel Hernandez tentou escapar aos assassínios em massa dos franquistas e fugiu para Portugal mas Salazar entregou-o piedosamente a Franco que o condenou à morte.
Esta condenação foi depois comutada porque Franco receou outra campanha internacional de denúncia do fascismo franquista como a que ocorria em consequência do assassinato de Garcia Lorca.
Os franquistas preferiram deixá-lo morrer na prisão não lhe dando cuidados médicos e deixando que a tuberculose substituísse o fuzilamento”. (1)
Trovadores como Victor Jara, Manuel Serrat, Paco Ibanez, cantaram seus poemas, na esteira de seu legado.
O poeta-combatente mereceu as seguintes palavras emcionadas de Pablo Neruda: (2)
«Recordar a Miguel Hernández que desapareció en la oscuridad y recordarlo a plena luz, es un deber de España, un deber de amor.
Pocos poetas tan generosos y luminosos como el muchachón de Orihuela cuya estatua se levantará algún día entre los azahares de su dormida tierra.
No tenía Miguel la luz cenital del Sur como los poetas rectilíneos de Andalucía sino una luz de tierra, de mañana pedregosa, luz espesa de panal despertando.
Con esta materia dura como el oro, viva como la sangre, trazó su poesía duradera. ¡Y éste fue el hombre que aquel momento de España desterró a la sombra!
¡Nos toca ahora y siempre sacarlo de su cárcel mortal, iluminarlo con su valentía y su martirio, enseñarlo como ejemplo de corazón purísimo! ¡Darle la luz! ¡Dársela a golpes de recuerdo, a paletadas de claridad que lo revelen, arcángel de una gloria terrestre que cayó en la noche armado con la espada de la luz!»
É preciso saber-se de onde se vem, para melhor se avaliar o presente e melhor ainda se prepararem as heranças de paz para as futuras gerações.
A memória Ibérica dos momentos tão decisivos de Espanha ainda hoje alimenta o mundo, em particular aqueles que na América Latina e em África foram buscar às experiências vividas em Espanha as referências históricas e revolucionárias inspiradoras para os processos de luta que foram sendo vividos nos dois continentes.
Lembrar os poetas-mártires e heróicos de Espanha, entre eles Miguel Hernandez e isso no quadro dos muitos intelectuais que combateram do lado da República (alguns deles integrando as Brigadas Internacionais), faz parte da cultura de resistência e resgate dos povos do sul face ao colonialismo, ao neo colonialismo e ao império, por muito que esses conceitos surjam diluídos nos actuais expedientes de globalização!
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CANCION DEL ESPOSO SOLDADO
. He poblado tu vientre de amor y sementera,
he prolongado el eco de sangre a que respondo
y espero sobre el surco como el arado espera:
he llegado hasta el fondo. .
Morena de altas torres, alta luz y ojos altos,
esposa de, mi piel, gran trago de mi vida,
tus pechos locos crecen hacia mi dando saltos
de cierva concebida.
. Ya me parece que eres un cristal delicado,
temo que te me rompas al más leve tropiezo,
y a reforzar tus venas con mi piel de soldado
fuera como el cerezo.
. Espejo de mi carne, sustento de mis alas,
te doy vida en la muerte que me dan y no tomo.
Mujer, mujer, te quiero cercado por las balas,
ansiado por el plomo.
. Sobre los ataúdes feroces en acecho,
sobre los mismos muertos sin remedio y sin fosa
te quiero, y te quisiera besar con todo el pecho
hasta en el polvo, esposa.
. Cuando junto a los campos de combate te piensa
mi frente que no enfría ni aplaca tu figura,
te acercas hacia mi como una boca inmensa
de hambrienta dentadura.
. Escríbeme a la lucha siénteme en la trinchera:
aquí con el fusil tu nombre evoco y fijo.
y defiendo tu vientre de pobre que me espera,
y defiendo tu hijo.
. Nacerá nuestro hijo con el puño cerrado,
envuelto en un clamor de victoria y guitarras,
y dejaré a tu puerta mi vida de soldado
sin colmillos ni garras. ,
. Es preciso matar para seguir viviendo.
Un día iré a la sombra de tu pelo lejano.
Y dormiré en la sábana de almidón y de estruendo
cosida por tu mano.
. Tus piernas implacables al parto van derechas,
y tu implacable boca de labios indomables,
y ante mi soledad de explosiones y brechas,
recorres un camino de besos implacables.
. Para el hijo será la paz que estoy forjando.
Y al fin en un océano de irremediables huesos
tu corazón y el mío naufragarán, quedando
una mujer y un hombre gastados por los besos.
. He poblado tu vientre de amor y sementera,
he prolongado el eco de sangre a que respondo
y espero sobre el surco como el arado espera:
he llegado hasta el fondo. .
Morena de altas torres, alta luz y ojos altos,
esposa de, mi piel, gran trago de mi vida,
tus pechos locos crecen hacia mi dando saltos
de cierva concebida.
. Ya me parece que eres un cristal delicado,
temo que te me rompas al más leve tropiezo,
y a reforzar tus venas con mi piel de soldado
fuera como el cerezo.
. Espejo de mi carne, sustento de mis alas,
te doy vida en la muerte que me dan y no tomo.
Mujer, mujer, te quiero cercado por las balas,
ansiado por el plomo.
. Sobre los ataúdes feroces en acecho,
sobre los mismos muertos sin remedio y sin fosa
te quiero, y te quisiera besar con todo el pecho
hasta en el polvo, esposa.
. Cuando junto a los campos de combate te piensa
mi frente que no enfría ni aplaca tu figura,
te acercas hacia mi como una boca inmensa
de hambrienta dentadura.
. Escríbeme a la lucha siénteme en la trinchera:
aquí con el fusil tu nombre evoco y fijo.
y defiendo tu vientre de pobre que me espera,
y defiendo tu hijo.
. Nacerá nuestro hijo con el puño cerrado,
envuelto en un clamor de victoria y guitarras,
y dejaré a tu puerta mi vida de soldado
sin colmillos ni garras. ,
. Es preciso matar para seguir viviendo.
Un día iré a la sombra de tu pelo lejano.
Y dormiré en la sábana de almidón y de estruendo
cosida por tu mano.
. Tus piernas implacables al parto van derechas,
y tu implacable boca de labios indomables,
y ante mi soledad de explosiones y brechas,
recorres un camino de besos implacables.
. Para el hijo será la paz que estoy forjando.
Y al fin en un océano de irremediables huesos
tu corazón y el mío naufragarán, quedando
una mujer y un hombre gastados por los besos.
“Los poetas somos viento del pueblo: nacemos para pasar soplados a través de sus poros y conducir sus ojos y sus sentimientos hacia las cumbres más hermosas”. (3)
Recolha e compilação de Martinho Júnior - 7 de Janeiro de 2011
Notas:
- (1) – Miguel Hernandez – Memórias do presente – http://memoriasdopresente.blogspot.com/2010/03/miguel-hernandez.html
- (2) – Miguel Hernandez – http://ocastendo.blogs.sapo.pt/1039127.html
- (3) - Miguel Hernández: cien años de un poeta comunista – Mário Amorros – Rebelión – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=119865
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