sábado, 8 de janeiro de 2011

Portugal – PERCEBER UM CANDIDATO E ESCOLHER UM PRESIDENTE

.

JOSÉ DE BARROS - PRESIDENCIAIS 2011

Os economistas românticos acreditam sempre que a generalidade dos empresários financeiros gostam de ajudar os necessitados…! Os psicólogos sabem que a motivação empresarial é quase sempre egoísta, mas o mundo académico das técnicas institucionais, sob o isolamento das especialidades, formata os menos pensantes a regras autistas, favorecedoras dos interesses dominantes nas cúpulas hierárquicas do Poder, que se transfere, cada vez mais, para a economia, por submissão ideológica dos representantes políticos, rendidos ao suborno do liberalismo capitalista.

Se uma família, depois de fazer face à sobrevivência e ao conforto mínimo, consegue poupar, a sua capacidade máxima de aquisição de bens acessórios faz-se do somatório das prestações, que deve ser inferior ao montante que se poupava regularmente, depois de satisfeita a sobrevivência e conforto mínimo; porque deve haver sempre uma poupança de valor absoluto, para fazer face a imprevistos. O maior imprevisto é a forte redução de receita, com a perda da fonte de rendimento; em termos individuais é a perda de emprego e em termos colectivos é a perda de clientes!

A economia familiar mais prudente vive conforme as suas possibilidades, isto é, consome o que o seu rendimento puder comprar e adquire bens duradouros, de tal modo que o encargo da dívida não supere o que se poupava anteriormente.

Não falta quem queira financiar as aquisições de terceiros, porque é o seu negócio, tanto mais lucrativo, quanto maior for a necessidade de pagamento de créditos.

À excepção dos outros candidatos, Cavaco e Silva prima por não querer ofender os nossos credores, porque, na sua mente, os Bancos não investem, mas sim fazem favores, a quem precisa de financiar-se, para continuar a viver acima da sua rentabilidade económica. Cada um queixa-se do que não tem…!

À excepção dos outros candidatos, Fernando Nobre e Francisco Lopes acham que o Orçamento de 2011 devia ser um instrumento de justiça social, de racionalização de gastos despropositados, de racionalização da estrutura administrativa do Estado e de solidariedade com os desfavorecidos, que os mais competitivos não deixam concorrer no mercado de trabalho! Sobretudo, que fosse um instrumento de equidade de privilégios, conferindo as mesmas regalias sociais a todos os que trabalham, sem honrarias diferentes para as elites directivas ou governativas.

Nas mentes de Fernando Nobre e Francisco Lopes há o sentimento de vivermos numa sociedade injusta, de segregação de classes, abusando umas das outras, de onde extraem os rendimentos e há a vontade de querer mudar um sistema primitivo, que não evolui no plano humanista, porque os interesses egoístas e gananciosos têm acção proactiva na manutenção do orgulho dos seus privilégios e na afirmação do isolamento de classes, por relações de superioridade. Um sistema que contraria o verdadeiro inter-classismo social-democrata e é controlado pelos mesmos de sempre! A solução de Fernando Nobre é a mudança dos intervenientes políticos.

À excepção dos outros candidatos, Cavaco e Silva reduz e desvaloriza a importância dos Poderes Presidenciais, para justificar o seu imobilismo e explicar porque acata, na essência, o que vem das intenções legislativas, embora com o tradicional teatro verbal de não concordar com o que promulga, ou de pedir a fiscalização constitucional de articulados acessórios, que possam ofender o sistema do velho predomínio do interesse económico privado.

À excepção dos outros candidatos, Fernando Nobre tem bem marcado o papel da regulação presidencial do Poder legislativo, obrigando-o ao limite das normas constitucionais, quer pelo processo da recomendação e influência política, quer pelo processo de fiscalização constitucional, de modo a impedir o que prejudica a solidariedade social, ou a justiça social, ou os direitos do ser humano! No emaranhado de influências pessoais de velhas amizades, entre os órgãos de soberania, esta intenção da mais alta magistratura dá maior peso à independência daqueles órgãos, para terem liberdade de se aplicarem na pureza da sua acção de fiscalização, sem pressões contrárias ao contexto, daquilo que está transposto nas normas legais! Porque o candidato não é escravo das pressões de grupo dos directórios partidários, mas apenas do seu ideal de solidariedade e humanismo verdadeiramente cristão, de uma evangelização não pregada, mas sim praticada, para aliviar o sofrimento alheio. E sabe que não pode ser dono de ninguém, nem de nada, nem dos votos de outros!

Depois, há um candidato que diz que quer reduzir a corrupção com a regionalização; sabendo o que se sabe dos mecanismos da corrupção, quer ao nível central, quer ao nível regional e autárquico e sabendo o que se sabe sobre o carácter dos políticos governantes e sua natureza gananciosa, o que Defensor de Moura quer é democratizar a corrupção e torná-la mais acessível aos poderes regionais!

Afinal, a nossa sabedoria aconselha a estarmos vigilantes ao que os outros fazem e não ao que dizem, se quisermos saber o que cada um representa e é! Digam o que disserem os comentadores pagos da comunicação social, muitas vezes comprometidos com um candidato e prestáveis a negar as evidências do que sentimos imparcialmente lógico!

Alguns candidatos, com orçamento elevado, conseguem colocar comentadores nos locais próprios, a fazerem a opinião dos que não conseguem pensar bem. Os comentadores institucionais são bem pagos, para centrarem o povo no culto e defesa das personalidades, que se querem promover, pela construção de uma imagem agradável e quase sempre falaciosa e incoerente com o personagem…!

Agora, porque é que o povo que decide o que temos, e que é menos de um terço dos eleitores nas presidenciais, ou menos de um quarto dos eleitores nas legislativas, continua a não querer mudar a nossa cepa torta? Porque entre eles estão os privilegiados, a quem não interessa mudar as injustiças convenientes, e todos quantos conseguem influenciar ou subornar, com uma satisfação de emprego ou manipulação da ingenuidade. E também porque muito mais de um terço dos eleitores é gato escaldado, com medo da água fria; tem medo de mudar o que está institucionalizado e desconfia de tudo e de todos, não querendo fazer um exercício de aposta nas diferenças que contam. E, finalmente, porque outro terço dos eleitores anda dividido, por causa de diferenças de pormenor e de traição de ideais fundamentalistas.

Aprendi e sempre confirmei que as decisões difíceis, de grande incerteza, se tomam, ouvindo o nosso interior e deixando manifestar o nosso sentimento mais humano!

Contudo, a reeleição do actual Presidente segue um propósito mais nobre; o de evitar algo pior, porque o povo, no final, não gosta de colocar os ovos no mesmo cesto…! E porque a minoria privilegiada fica sempre cega pela sua ambição…, num momento em que os anteriormente subornados poderão ter acordado do sonho de oásis, que foi o estímulo de uma classe média aliciada, à sombra do disparo remuneratório na função pública e nas empresas protegidas, logo a seguir à entrada na então CE, altura em que se iniciou o processo de despesismo, que nos conduziu a esta crise!

Porque as alternativas governativas, no dilema eleitoral de dizerem que vão caminhar pela via da esquerda ou da direita, fazem-no efectivamente consoante o sentido que os financiadores queiram tomar. E, actualmente, os candidatos preferem a segurança profissional de seguirem encostados o mais à direita possível, porque os abstencionistas não decidem intervir, votando numa qualquer operação de STOP!

E continua a deriva ideológica dos Partidos, que se dizem socialistas ou social-democratas, e que ainda não atinaram com a democracia, nem com o dever do Estado, em servir o interesse constitucional da justiça social e em servir uma missão de protecção do cidadão, face aos egoísmos individuais e corporativos de classes privilegiadas!
Olhem se estas eleições fossem no final de 2011!?…porque os calendários eleitorais têm toda a importância! E a distinção de caracteres também!

A Cavaco e Silva falta esclarecer como decorreu a negociata das acções do BPN; a Manuel Alegre falta esclarecer o seu papel na rádio Argel; a Fernando Nobre falta esclarecer se algum candidato, e qual, lhe merece a confiança do seu voto, em caso de segunda volta. De Francisco Lopes esperamos a fidelidade ao seu Partido e de José Coelho esperamos o sentir do povo humilde e frontal. A política precisa de coerências, de frontalidade e honradez, selectivas de melhores inteligências e sabedorias!

Artigos Relacionados:
Crónica: Frente-a-frente, a tecnocracia e o humanismo militantes
Crónica: A eleição de um Presidente de todos e para todos
Crónica: A insustentável leveza das convicções de Alegre
Crónica: Uma Nobre Desilusão
Crónica: O que vamos debater nas Presidenciais?
.

Sem comentários: