PEDRO RIOS – RÁDIO RENANCENÇA
Todo el mundo al suelo!" ("Todos no chão!"). O grito de Antonio Tejero Molina, seguido de uma salva de tiros para o tecto, permanece um clássico da história dos golpes de estado falhados.
O tenente coronel da Guarda Civil entrou pelo Congresso dos Deputados dentro às 18h23 de 23 de Fevereiro de 1981, com o objectivo de repor um governo de extrema-direita. O golpe, conhecido como "23-F", foi seguido atentamente em Portugal, que, como Espanha, dava os primeiros passos na democracia.
"O golpe foi seguido em Portugal com muita inquietação porque a democracia portuguesa era ainda frágil e o sucesso de um golpe militar de direita ou extrema-direita podia ter repercussões em Portugal", diz ao Página1 André Gonçalves Pereira, então ministro dos Negócios Estrangeiros.
Gonçalves Pereira, Francisco Pinto Balsemão e outros membros do governo fecharam-se no gabinete do ministro. "As comunicações em 1981 não eram o que são o hoje. Concentrámo-nos no gabinete porque era ali que havia comunicações mais fáceis - telefone, rádio e programas cifrados", conta.
Os governantes portugueses encomendaram umas sanduíches, que ajudaram a passar a noite, ao longo da qual seguiram "minuto a minuto" o que se passava no país vizinho.
Francisco Balsemão, que "era e é amigo do rei Juan Carlos, telefonou-lhe às 11h30 (12h30 em Madrid). Juan Carlos disse-lhe que estava fardado para ir à televisão. Balsemão perguntou se tinha o problema resolvido. O rei disse "não sei". O rei não sabia, mas a sua mensagem, às 01h14 (hora espanhola), teve um efeito devastador sobre a intentona militar. A mensagem que dirigiu aos espanhóis através da rádio e da televisão foi clara: "A Coroa não pode tolerar qualquer acto que tenta interferir com a constituição que foi aprovada pelo povo espanhol".
"As forças armadas estavam divididas. Os elementos da conspiração quiseram fazer crer aos outros que o rei estava com eles. O general Alfonso Armada, próximo do rei, era um revoltoso de direita. Foi ele que convenceu muitos militares que o rei estaria a favor da operação", conta Gonçalves Pereira.
Nesse dia agitado, Portugal garantiu que a filha de Mário Soares, que estava na sede do PSOE, ficasse em segurança e deu asilo a "vários espanhóis de esquerda". "Quando eram 02h00 ficou claro" que o golpe tinha falhado, lembra o ex-ministro. "Fomo-nos deitar bastante aliviados".
TEJERO MOLINA
Antonio Tejero Molina, preso depois do golpe falhado, obteve liberdade ondicional em 1996, depois de cumprir pouco mais de metade da pena (30 anos de prisão).
Tejero remeteu-se, então, a uma vida tranquila com a família entre Madrid e Alhaurín de la Torre, em Málaga, rompendo escassas vezes o seu silêncio, nomeadamente para pedir um referendo sobre o estatuto da Catalunha. O ex-militar tem hoje 77 anos e é uma figura de culto da extrema-direita espanhola.
Em 2006, o "El Mundo" procurou conhecer como vivia Tejero. Descobriu um homem que não quer falar à comunicação social e que leva uma "vida tranquila e familiar". "Tem uma vida normal e, no Verão, é visto por vezes na praia ou na piscina acompanhado da sua esposa".
Na prisão, Molina aprendeu a pintar, para além de cultivar uma horta e escrever as suas memórias. A paixão pela pintura manteve-se fora das grades: vendia paisagens e retratos a mais de 2.400 euros cada. Doze anos depois do "23-F", na sequência de um pedido de indulto feito por uma associação de mulheres de militares, o tribunal considerou que Molina não estava arrependido do golpe de 1981.
Tejero Molina, que entrou na Guarda Civil em 1951 e começou por dar nas vistas por se opor à legalização da ikurriña (a bandeira basca), esteve ligado à "Operação Galáxia", uma primeira tentativa de matar a recém-nascida democracia espanhola, em 1978.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário