segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Se o Egito demorou 18 dias, Obiang também pode cair - opositor

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ASP – LUSA

Madrid, 14 fev (Lusa) - Um opositor do regime da Guiné Equatorial mostrou-se hoje otimista que o seu país receba "a onda de mudança" que se vive no norte de África e Magrebe, especialmente depois da "impensável" queda do regime egípcio.

"Não tenho a menor dúvida disso. Faltava um detonador e isso pode ser o caso de Juan Ávila Laurel", disse à Lusa Armengol Engonga, vice-presidente do Governo da Guiné Equatorial no exílio, referindo-se ao escritor equato-guineense em greve de fome desde sexta-feira.

Admitindo que demora a "mudar a letargia" da população do país, Engonga reconhece que a informação sobre o Egito e a Tunísia está a passar para o povo equato-guineense, apesar do controlo adicional que o regime de Obiang mantém sobre os meios de comunicação do país.

"Os guineenses começam a ver as possibilidades. Contactam com os seus vizinhos do Gabão, dos Camarões e da Nigéria, que apesar de não serem totalmente livres, são-no mais do que na Guiné Equatorial", afirmou.

"Tudo, no final, tem que estalar. As pessoas estão cada vez mais sensibilizadas para esta questão e por isso não nos surpreendeu a decisão corajosa de Juan Ávila Laurel, a que talvez se juntem outros", disse ainda.

Como exemplo do descontentamento, citou o caso da agricultura, potencialmente um dos recursos mais importantes da Guiné Equatorial que está "praticamente abandonada" com os bens essenciais a serem importados.

"Somos potencialmente muito fortes na agricultura. Mas importamos 80 por cento dos alimentos básicos que consumimos. O povo não aguenta essa situação, porque os preços são muito elevados", disse.

Para Engonga, a Guiné Equatorial tem a vantagem, ao contrário do Egito, de ter uma oposição organizada e até "um governo no exílio", o que facilita um eventual processo de transição.

Isso, afirma, explica porque o regime de Obiang "sempre foi muito mais criticado internacionalmente que o de Mubarak" e pode ajudar a alimentar "a vontade de mudança" da população.

Paralelamente, porém, seria útil ter, da parte de Espanha, uma "postura mais clara" que "não mude de um dia para o outro", disse.

"Os espanhóis são muito especiais. Hoje não nos apoiam, mas amanhã sim. Agora podem apoiar Obiang e amanhã já não. Esperamos que, no momento da mudança, tenhamos em Espanha homens de Estado que percebam e apoiem isso", disse.
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