segunda-feira, 7 de março de 2011

Angola: justificação da polícia para detenção foi "ser... jornalista"

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Foto SIPHIWE SIBEKO/reuters

i ONLINE – LUSA – 07 março 2011

A justificação da polícia para o "fechar" foi "ser... jornalista", disse hoje à Lusa o luso-angolano Pedro Cardoso, um dos elementos da equipa de reportagem do Novo Jornal detidos madrugada de hoje em Luanda, no decurso de um protesto anti-governamental.

Com Pedro Cardoso, que detém as nacionalidades portuguesa e angolana, estavam ainda Ana Margoso, também jornalista do Novo Jornal, e o repórter fotográfico Afonso Francisco, igualmente levados sob detenção pela Polícia Nacional (PN) quando, cobriam na madrugada de hoje o tímido arranque do protesto contra o regime angolano divulgado pelas redes sociais.

Na Praça da Independência, onde se encontra a estátua de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, "não estavam mais de 15 pessoas" quando a polícia se aproximou e questionou a presença do grupo, constituído por músicos e poetas, obtendo como resposta que se tratava de uma mera manifestação cultural.

Segundo o jornalista luso-angolano contactado por telefone pela redação da Lusa, quando os agentes abriram as mochilas do grupo encontraram panfletos alusivos à manifestação que fora agendada para aquele lugar.

Os jornalistas ainda procuraram explicar aos agentes da Polícia Nacional que "não integravam o grupo" e "apenas procuravam fazer o seu trabalho...", que "não havia razão para serem detidos", mas a polícia estranharam o Novo Jornal o único órgão de comunicação social no local.

De pouco valeu a Pedro Cardoso, Ana Margoso e Afonso Francisco explicar que "se calhar eram os outros jornais que não estavam a fazer bem o seu trabalho", porque ficaram mesmo sob detenção policial.

Os elementos do alegado grupo "cultural" e os jornalistas do Novo Jornal foram conduzidos para a esquadra da polícia e passaram a noite nas instalações da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC), de onde foram libertados cerca das 10:30.

Cardoso deixou claro que, durante a detenção, nenhum dos jornalistas foi sujeito a maus-tratos. No seu caso, foi sujeito a um interrogatório sobre as razões pelas quais estava naquele local e àquela hora.

Já Ana Margoso, igualmente em declarações à Lusa, disse que foi questionada sobre os motivos para "estar revoltada com o sistema".

O Largo da Independência foi o local escolhido para a realização de uma manifestação anti-governamental, convocada na internet, nas redes sociais e SMS, para hoje em Luanda.

Já na DPIC, o grupo foi submetido, separadamente a um interrogatório, tendo a jornalista sido levada para uma cela, onde se encontrava sozinha, e com visitas regulares de investigadores, que lhe colocavam várias questões.

"Fui separada do grupo, levaram-me para uma sala onde os investigadores da DPIC, estiveram a falar comigo por alguns bons minutos, queriam saber da minha actividade profissional e do meu envolvimento com alguns políticos da oposição e porque razão é que eu estava revoltada com o sistema, foi uma das perguntas que um dos indivíduos me fez, uma vez que o meu pai é do MPLA", disse Ana Margoso, que disse não ter sido maltratada fisicamente, apenas foi obrigada a limpar a cela.

Além do rapper Brigadeiro Mata Frakus, que num concerto apelara à participação na manifestação de hoje, havia três mulheres entre os detidos.

A polícia ainda não prestou declarações à Lusa.
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