domingo, 20 de março de 2011

CRISE A MAIS

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DIÁRIO DE NOTÍCIAS, editorial, opinião – 20 março 2011

Pelo segundo sábado consecutivo, milhares de portugueses saíram ontem à rua em protesto contra o estado geral do País, mergulhado numa grave crise económica, social e política. Desta vez, a mobilização foi menor que há oito dias, mas mesmo assim imponente, fazendo ouvir os gritos de revolta no desfile pela Avenida da Liberdade, em Lisboa. Menor em dimensão também porque, ao contrário do protesto da "geração à rasca", que se pretendia apolítico, esta manifestação fazia claramente parte da estratégia tenaz da CGTP contra o Governo socialista, atacando forte a sua política de austeridade ditada, afirma a maior central sindical portuguesa, pela Europa. E novas jornadas de luta estão já marcadas.

Mas se na rua o Governo liderado por José Sócrates enfrentou a pressão da sua esquerda - a coincidência de posições entre a CGTP e o PCP continua a ser a regra -, outra frente de batalha se travou ontem, mas no plano verbal e com a direita. E entre trocas de acusação mesmo ao nível do carácter, o que não abona em favor dos políticos nacionais, ficou evidente que, mantendo-se a irredutibilidade do socialista Sócrates e do social-democrata Pedro Passos Coelho, a semana que agora começa vai ser de acentuação da crise política. Aliás, ambos começam já a posicionar-se para eventuais eleições antecipadas, assim como Paulo Portas, líder do CDS, que ontem, no congresso partidário, até admitiu que a solução para o País poderia passar por um executivo de coligação com o PSD e o PS. Sem Sócrates, claro.

E uma solução para o País, a todos os níveis, é aquilo que os portugueses exigem e não apenas aqueles que ontem se manifestaram em Lisboa. E essa solução passa por os políticos serem capazes de ir além das suas disputas e pensarem num projecto para Portugal que convença os mercados, a Europa e sobretudo os portugueses.

Países de futuro

Dos quatro gigantes que nasceram da colonização europeia, só os Estados Unidos e o Brasil têm condições para se afirmar como grandes potências. A geografia ofereceu-lhes vantagens sobre o Canadá, demasiado gelado, e sobre a Austrália, tórrida em demasia, e isso reflectiu-se no próprio povoamento: os Estados Unidos ultrapassam já os 300 milhões de habitantes, o Brasil ronda os 200 milhões. Mas se desde o início do século XX os americanos assistiram à ascensão da sua pátria ao lugar de número um mundial, já os brasileiros pareciam condenados, até há bem pouco tempo, a contentarem-se com o título de país de futuro.

Mas o século XXI trouxe mudanças tremendas à hierarquia das nações. Os Estados Unidos continuam destacados como única superpotência, dominando tanto a nível económico como militar. A China, porém, ganha lugares a ritmo de corrida e, depois de ter ultrapassado a Alemanha em 2007, bateu no ano passado também o Japão, sendo agora já a segunda potência económica. Mas se a progressão chinesa é um repor da ordem natural das coisas, pois até ao século XVIII o país era o colosso económico mundial, já os avanços do Brasil são inéditos. Em 2010, com uma taxa de crescimento de 7,5%, o Brasil viu a sua economia ultrapassar a da Itália, o que lhe dá agora a sétima posição em termos globais. E é provável que ultrapasse em PIB o Reino Unido e a França no espaço máximo de cinco anos, o que lhe daria o quinto lugar na classificação das grandes potências.

Esta visita de Barack Obama não é a primeira de um presidente americano ao Brasil. Aliás, as relações entre os dois gigantes são tão antigas que os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência brasileira. Mas é certamente uma visita diferente, cada vez mais entre iguais. E ainda por cima com um toque de interesse extra: a primeira mulher líder do Brasil e o primeiro negro líder dos Estados Unidos. A primeira venceu os preconceitos de uma sociedade católica, profundamente machista. O outro teve de se impor a um país onde a elite branca de matriz protestante e anglo-saxónica controla o poder há mais de dois séculos. O Brasil e a América têm futuro.
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