JOSÉ INÁCIO WERNECK, Bristol – DIRETO DA REDAÇÃO
Bristol (EUA) – Aos 93 anos de idade, um antigo herói da resistência francesa reaparece com um pequeno livro chamado Indignez-vouz, muito apropriado aos tempos modernos.
O livro é tão pequeno que pode quase ser chamado um panfleto. Mas de quantas palavras um homem dedicado às boas causas precisa para chamar nossa atenção e nos conclamar à luta contra todo tipo de indignidade, despertar populações nos grandes países ocidentais aparentemente anestesiadas pelo consumismo moderno?
Stéphane Hessel manda uma mensagem muito séria quanto conclama os jovens de hoje a resistir “à ditadura internacional dos mercados financeiros” e a defender “os valores da moderna democracia”.
De fato, quem vive atualmente nos Estados Unidos e em muitos paises europeus está sob a impressão de que, longe de serem “bastiões da democracia”, tais nações se converteram em uma oligarquia, onde os ricos e poderosos compram politicos e impõem sua vontade a multidões desamparadas.
Tais instituições levaram a economia americana a um quase naufrágio, com repercussões mundiais, mas o que se viu foram os grandes bancos e casas de investimento serem salvas pelo governo com maciças injeções de dinheiro do contribuinte, enquanto milhões destes mesmos contribuintes perdiam seus bens.
Stéphane Hessel, nascido na Alemanha, filho de pai judeu, mostra-se particularmente indignado com o tratamento que a França, seu país adotivo, para onde sua família emigrou quando ele tinha sete anos, dispensa hoje aos imigrantes. Protesta também contra a influência que os ricos exercem sobre os meios de comunicação (algo diferente no Brasil?) os cortes nas verbas para educação e para os programas de assistência social, e o tratamento de Israel aos palestinos.
Este último ponto-de-vista tem lhe valido acusações de anti-semitismo por parte de organizações judaicas na França, o que me parece uma visão míope dos fatos. Se um judeu que lutou contra os nazistas e hoje se solidariza com os palestinos é chamado de anti-semita por outros judeus, que esperança poderá haver de que um dia o governo de Israel concorde em desocupar territórios que não lhe pertencem?
Alguns críticos acusam o livro de não ter “valor literário”, mas na verdade ele não foi escrito por Stéphane Hessel. Ele ditou um pouco de suas memórias sobre o tempo em que lutou contra os nazistas, foi preso, torturado e escapou de ser enforcado em Buchenwald apenas porque conseguiu, no último momento, assumir a identidade de um companheiro de campo de concentração que morrera de tifo - mas sobretudo falou de suas idéias atuais a Sylvie Crossman, uma antiga correspondente de Le Monde, que publicou o livro, com um total de apenas 29 páginas.
A editora chama-se Indigène e a pequena obra alcançou imensa repercussão, com traduções em inglês, espanhol, italiano, português, grego. Outras estão a caminho.
Ignoro se o livro alcançou no Brasil a repercussão merecida. Mas é comovente e ao mesmo tempo alarmente que as pessoas hoje necessitem da palavra de um Grande Oficial da Legião de Honra, de 93 anos, no fim de sua vida, conclamando-as a mostrar aquele sentimento que a moderna juventude, pelo menos nos países ocidentais, parece ter esquecido: a capacidade de se indignar com as injustiças.
* José Inácio Werneck – Bristol - É jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut.
Bristol (EUA) – Aos 93 anos de idade, um antigo herói da resistência francesa reaparece com um pequeno livro chamado Indignez-vouz, muito apropriado aos tempos modernos.
O livro é tão pequeno que pode quase ser chamado um panfleto. Mas de quantas palavras um homem dedicado às boas causas precisa para chamar nossa atenção e nos conclamar à luta contra todo tipo de indignidade, despertar populações nos grandes países ocidentais aparentemente anestesiadas pelo consumismo moderno?
Stéphane Hessel manda uma mensagem muito séria quanto conclama os jovens de hoje a resistir “à ditadura internacional dos mercados financeiros” e a defender “os valores da moderna democracia”.
De fato, quem vive atualmente nos Estados Unidos e em muitos paises europeus está sob a impressão de que, longe de serem “bastiões da democracia”, tais nações se converteram em uma oligarquia, onde os ricos e poderosos compram politicos e impõem sua vontade a multidões desamparadas.
Tais instituições levaram a economia americana a um quase naufrágio, com repercussões mundiais, mas o que se viu foram os grandes bancos e casas de investimento serem salvas pelo governo com maciças injeções de dinheiro do contribuinte, enquanto milhões destes mesmos contribuintes perdiam seus bens.
Stéphane Hessel, nascido na Alemanha, filho de pai judeu, mostra-se particularmente indignado com o tratamento que a França, seu país adotivo, para onde sua família emigrou quando ele tinha sete anos, dispensa hoje aos imigrantes. Protesta também contra a influência que os ricos exercem sobre os meios de comunicação (algo diferente no Brasil?) os cortes nas verbas para educação e para os programas de assistência social, e o tratamento de Israel aos palestinos.
Este último ponto-de-vista tem lhe valido acusações de anti-semitismo por parte de organizações judaicas na França, o que me parece uma visão míope dos fatos. Se um judeu que lutou contra os nazistas e hoje se solidariza com os palestinos é chamado de anti-semita por outros judeus, que esperança poderá haver de que um dia o governo de Israel concorde em desocupar territórios que não lhe pertencem?
Alguns críticos acusam o livro de não ter “valor literário”, mas na verdade ele não foi escrito por Stéphane Hessel. Ele ditou um pouco de suas memórias sobre o tempo em que lutou contra os nazistas, foi preso, torturado e escapou de ser enforcado em Buchenwald apenas porque conseguiu, no último momento, assumir a identidade de um companheiro de campo de concentração que morrera de tifo - mas sobretudo falou de suas idéias atuais a Sylvie Crossman, uma antiga correspondente de Le Monde, que publicou o livro, com um total de apenas 29 páginas.
A editora chama-se Indigène e a pequena obra alcançou imensa repercussão, com traduções em inglês, espanhol, italiano, português, grego. Outras estão a caminho.
Ignoro se o livro alcançou no Brasil a repercussão merecida. Mas é comovente e ao mesmo tempo alarmente que as pessoas hoje necessitem da palavra de um Grande Oficial da Legião de Honra, de 93 anos, no fim de sua vida, conclamando-as a mostrar aquele sentimento que a moderna juventude, pelo menos nos países ocidentais, parece ter esquecido: a capacidade de se indignar com as injustiças.
* José Inácio Werneck – Bristol - É jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut.
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