terça-feira, 1 de março de 2011

Leovegildo Lopes de Matos: DEMOCRACIA COM FOME NÃO EXISTE

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O PAÍS (Angola) em ENTREVISTA

À margem da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo africanos em Addis Abeba nos dois últimos dias de Janeiro, numa sala que se poderia considerar de clube de jornalistas, falámos com este brasileiro, ao sabor de um café etíope (um dos melhores do mundo) sem açúcar, mas numa cadência doce, despreocupada e amiga, sobre vários temas.

Se for forçado a resumir, ficamo-nos por duas passagens: “agricultura tem de dar lucro” e “agricultura é democracia”

O senhor representa a EMBRAPA no continente, isso significa assessoria à Comissão da União Africana ou apenas parte da diplomacia brasileira?

Na realidade o escritório da EMBRAPA África está localizado em Acra, capital do Ghana, e eu sou o coordenador da EMBRAPA África, para o continente inteiro. Nós já temos trinta e um projectos em dezasseis países, sendo que o maior, até agora, está em Moçambique e o segundo maior está para ser implementado em Angola …

Agora que se fala da compra de terrenos africanos por potências estrangeiras, a EMBRAPA procura o acesso à terra ou …

A nossa ideia é diferente. A minha função, como coordenador, e olhando para os projectos que já estão em pé e para os que estão em preparação, está mais virada para a capacitação técnica dos africanos. Mostrar para a África como nós trabalhamos a nossa agricultura no Brasil, o que alcançamos e como podemos trazer isso para África.

Neste caso a vossa primeira barreira está no conhecimento. O Brasil tem muita pesquisa, tem várias universidades a contribuir, o que África não tem...

O nosso objectivo principal é capacitar os locais para que mais a frente, e espero que seja a curto prazo, com o nosso regresso ao Brasil, as pessoas possam ter capacidades de produção e para assegurar a segurança alimentar.

Estamos então a falar de uma espécie de conselheiros agrários brasileiros espalhados pelo continente?

Exactamente. Conselheiros agrários. Estamos em dezasseis países e queremos seguir adiante. É certo que com a nossa acção também atraímos a atenção do empresariado brasileiro, mas não necessariamente para vir comprar terras e, se vierem investir, preferimos que venham mas não trazendo a mão-de-obra do Brasil, para isso estamos a capacitar os locais. Temos um empresário brasileiro a produzir arroz no Ghana, tal como temos também empresários ghaneses a produzir mandioca com a nossa tecnologia.

Um deles começou com novecentos hectares de mandioca e já implantou uma pequena indústria de processamento para os diversos tipos de amidos, desde a farinha de mandioca até amidos mais sofisticados, de uso industrial. É isso o que pretendemos. Ele é ghanés, mas acho que nada impediria que fosse um brasileiro com capital e que fosse gerar divisas e empregos para o Ghana … a ideia é essa: capacitar africanos para que no futuro possam andar com as suas próprias pernas …

Isso levaria a que cada país tivesse, depois, a sua própria EMBRAPA…

Exactamente. Por isso estamos a apoiar a recuperação do instituto de investigação em Angola. Também estamos a fazer uma coisa parecida em Moçambique, mas aí estamos a contar com o apoio da USAID, porque Moçambique é um país com menos recursos que Angola. Os japoneses também apoiam. Trata-se de um projecto de exploração de savanas no norte de Moçambique que resultará na venda de milho e trigo ao Japão. Há, de facto, a questão da busca de alimentos pelos japoneses, mas nós faremos tudo isso funcionar com tecnologia brasileira e com o mercado a ditar os preços.

No fundo, repito, o objectivo é a segurança alimentar das pessoas. No Brasil a EMBRAPA teve de trabalhar com o meio rural e hoje são os empresários rurais que nos perguntam se vamos ensinar os empresários africanos a tornarem-se competidores com os brasileiros no mercado internacional de alimentos. Para já, o que pretendemos é ensinar para que sejam auto-suficientes na produção de alimentos para consumo interno mas, no futuro, se se inserirem no mercado internacional não há problema algum.

Se temos empresas ou grandes investidores como a Odebrecht a construir estradas e outras infra-estruturas, a EMBRAPA está a ajudar a criar condições para que estes países tenham como pagar no futuro. Isso é o mais importante. Não adianta contratar uma grande empreitada e mais a frente não ter como pagar porque os recursos se esgotam na importação de alimentos.

Crédito agrícola deve ser bem aplicado

Mas para conseguir a auto-suficiência alimentar interna é necessária uma aposta forte na agricultura familiar, o que, de seguida, pressupõe também uma presença forte do Estado no apoio, com créditos e nos mecanismos de absorção da produção … Há que criar demanda. Temos de produzir o alimento para depois ver-se as questões do escoamento e do mercado. O cooperativismo é fundamental, ninguém sobrevive sozinho, na agricultura familiar.

Quanto ao crédito, Angola não tem de começar do zero. O Brasil tem uma vasta experiência, os técnicos angolanos podem ser treinados para acompanhar a aplicação do crédito que deve ser empregue na aquisição de tecnologias e infra-estruturas produtivas. Não é para um indivíduo construir um galpão que ele na verdade não necessita … Primeiro ele deve aplicar o crédito no solo, na recuperação do solo, na compra de sementes adequadas e investir nos equipamentos necessários, apenas nos necessários nas suas condições.

É que qualquer produtor, brasileiro ou angolano, tem a tendência de comprar aquilo de que não necessita. Daí a necessidade de uma boa formação ao pessoal que irá garantir a boa aplicação do crédito.

Quando falava da presença do Estado referia-me a situações recorrentes em África em que se um determinado país, ou região, sofre uma estiagem e perde as culturas, é mais fácil importar alimentos da Europa que da região vizinha …

A comercialização é uma questão muito importante e muito séria. Temos de resolver a questão do acesso do consumidor ao alimento da forma mais fácil e com o menor número possível de intermediários para, inclusive, aumentar a eficiência no pós-colheita. Tanto o inhame, como a mandioca, ao saírem do campo e até chegarem ao consumidor correm o risco de perdas de até quarenta por cento, isso é quase perder a colheita. Aí entra o governo. Se tivermos cooperativas organizadas e com um bom sistema de crédito que permita a compra de um camião médio, uma câmara fria (isso é papel do governo) aí teremos outra realidade … é necessário que os produtores apliquem o crédito apenas no que é necessário, nada de gastos supérfluos. O mesmo se pode dizer dos biocombustíveis.

A Etiópia já aplica cinco por cento de etanol na gasolina que importa.

Mas é etanol local. Isso já mexe na sua balança de pagamentos, com uma redução de cinco por cento na factura dos combustíveis. Como se vê, nos biocombustíveis o mercado já existe, naturalmente, não é preciso ir buscá-lo.

Mas no Brasil conseguiu-se um equilíbrio entre a produção para biocombustíveis e a produção alimentar, o que não acontece na Indonésia e ainda não se sabe se se conseguirá em África, até porque a tecnologia é estrangeira …

Há que encontrar caminhos para que a produção de alimentos continue ou evolua. Sobre a segurança alimentar, é claro que o mundo produz mais alimentos que a capacidade que tem para os consumir ...

Só há segurança alimentar com comida no prato

E então porque estamos sempre confrontados com notícias de escassez e de subida de preços?

E fome. Um bilião de pessoas passa fome. Estes mercados com altas flutuações dos preços das commodities, com muita especulação no meio … a questão é simples: só vemos bem a questão da segurança alimentar não com alimentos nos silos ou nos armazéns, mas sim com o alimento no prato das famílias. É para isso que temos de criar empregos e temos de criar rendimentos. Os biocombustíveis vêm fechar esta engrenagem, gerando empregos e rendimentos para pessoas que irão demandar comida, pessoas que irão exigir mais alimentos dos produtores agrícolas.

Com emprego e com rendimentos irão exigir mais qualidade alimentar também. Quem se alimentava apenas de mandioca, inhame e milho, passará a pensar em alimentar-se de frango, carne bovina e queijo. Isso é segurança alimentar. Neste aspecto os biocombustíveis completam o quadro que precisamos e não retira …

Já iremos falar dos queijos, mas voltando ao rendimento, há também a outra face que é que quanto mais se industrializa a agricultura, menos mão-de-obra ele necessita … isso resulta depois no fenómeno do êxodo rural que o Brasil também já viveu …

O Brasil viveu muitas décadas de êxodo rural, mas agora estamos a entrar na segunda década do regresso desse pessoal que foi viver em áreas marginais das grandes cidades.

Um dos grandes responsáveis dessa realidade é o emprego no meio rural.O Brasil é hoje o maior exportador mundial de frangos …

A ideia é a colocação da indústria de transformação no campo…

A indústria para ajudar o meio rural, não para eliminar postos de trabalho. Temos condições para fazer isso de uma forma muito equilibrada. É lógico que a indústria do etanol está cada vez mais mecanizada, inclusive a colheita, mas será muito difícil imaginar-se isso em África.

O plantio e a colheita da cana-deaçúcar em África irá demandar por mão-de-obra por muitos e muitos anos ainda. É verdade que a qualidade do emprego não é lá grande coisa porque o cortador de cana é um sofredor, mas devemos entender o seguinte: temos famílias de cortadores de cana em S. Paulo cujo rendimento familiar, no total, é maior que a de um engenheiro … porque há casos de estarem o indivíduo, a esposa e os dois filhos a trabalhar na cana …

E isso impede os filhos de terem acesso à escola …

Não. Pelo contrário. As próprias fábricas já vêm a necessidade de garantirem a educação desses jovens. Porque sabem que num futuro muito próximo terão um tractor todo electrónico, com ar condicionado electrónico e eles sabem que se o trabalhador não for educado, instruído e formado, ele não servirá para manusear a máquina. Para haver progresso na área agrícola tem de se envolver todos esses aspectos.

E o mais importante destes aspectos é o que diz que desenvolvimento agrícola significa comida mais barata no futuro. Os nossos produtores j+a entenderam que há onze anos atrás, eles recebiam pelo litro do leite, já com os juros e correcções, exactamente o dobro do que recebem hoje, mas hoje eles ganham mais dinheiro. Porque reduziram os custos de produção e aumentaram a escala de produção. Isso é progresso.

Temos de entender que progresso na agricultura significa comida mais barata. Mas não podemos ter comida mais barata se não houver boa infra-estrutura de transporte para que o alimento chegue rápido ao consumidor, sem desperdícios no pôs-colheita. Quanto mais desperdício mais caro fica o alimento. Esses são aspectos que queremos partilhar, queremos acelerar o processo em Angola …

Mas há em Angola quem prefira mais calma…

Mais vale ir devagar, mas temos as estratégias prontas para acelerar um pouco. Devagar vamos fazer o planeamento, nada se pode fazer de forma atabalhoada. Agricultura é planeamento. Não queremos surpresas no futuro. Eu trabalho com pecuária, o planeamento é essencial. Quantas vacas posso ter? pode-se quantas se quiser desde que tenha planeado a plantação de alimentos para a próxima estação de seca, senão será um desastre. Iremos devagar, mas no ritmo adequado e necessário para Angola se desenvolver. Digamos que o devagar é o que se gasta no planeamento.

A Revolução agrícola brasileira

A pecuária no Brasil é um bom exemplo de uma revolução. Passou a exportar carne, leite, queijo … o Brasil tinha potencial próprio, ou seja raças leiteiras próprias e vacas para o corte, ou criou novos tipos?

Essa pergunta é importantíssima.Por muitos anos nós seguimos o que o hemisfério norte ditava. Não saíamos dos mesmo patamares, tanto na produção de carne, quanto na produção de leite. Nós temos condições tropicais que são muito más para a vaca leiteira holandesa.

A base da nossa alimentação são os capins tropicais, africanos, tanto para a vaca de corte como para a leiteira. Nós obtivemos esses capins emprestados de África e devemos devolve-los melhorados, é uma dívida maravilhosa. Mas com estas condições nós tínhamos de usar as raças que eles ditavam. E o bom para a alimentação de ruminantes seria a silagem de milho, alfalfa, concentrados… mas nós temos duzentos milhões de pessoas para alimentar no Brasil, não podemos imaginar ruminantes a consumir milho. Milho é para frangos, para os suínos, mas, primordialmente, para o consumidor humano, urbano, que é o que gera maior demanda. A partir do momento em que começamos a entender isso … grãos prioritariamente para o consumo doméstico humano, depois para os frangos, a seguir para os suíno e, por último, para alguma vaca holandesa que um ricaço queira criar, mas sabendo que terá um custo de produção muito acima do que o mercado remunera. E porquê que o mercado brasileiro de carne e de leite remunera pouco? Porque temos eficiência de produção, custos baixíssimos com as gramíneas africanas e com zebuinos indianos.

Há mais de um século fomos a Índia, importamos animais, começamos um programa de melhoria genética, rigorosíssimo, com bases científicas avançadas e temos hoje animais que a Índia não sonha ter. na Índia a vaca é sagrada e são poucos os produtores que a procuram melhorar, nós não. Nós pegamos em todo o nosso contingente de nelores e fomos buscar como equilibrar velocidade de crescimento e qualidade de carne. Isso para um animal que vai ser abatido com dois anos de idade, não com seis como se fazia no passado. Na mesma área e tempo onde um pecuarista tirava uma carga de bois, hoje tira três cargas de bois.

Assim ele pode vender mais barato.

O preço da carne no Brasil caiu e vai continuar a cair. O preço do leite, nos últimos vinte anos, caiu para metade, só que o produtor é muito mais eficiente. Este anos deverão ser produzidos no Brasil cerva de trinta biliões e meio de litros de leite, oitenta por cento desta produção vem de animais zebu e Gil leiteiros com holandeses. E aos poucos fomos cruzando com jersey para diminuir um pouco o tamanho dessas vacas e torná-las ainda mais eficientes.

Nós temos todos os problemas: calor excessivo, humidade excessiva, carrapatos …não temos a mosca tsétsé, que é coisa vamos trabalhar com os africanos … vamos buscar o nosso programa de genómica animal, os factores de resistência…

Mas o Brasil ficou-se pelo gado bovino? Há os caprinos e os ovinos…

Aí nós fizemos o nosso trabalho também. Temos no Brasil as linhagens, nos suínos, híbridas, mas cuja base foi a raça americana-brasileira em que juntamos a prolixidade do suíno chinês. Hoje a EMBRAPA tem uma linhagem de “porco light” , de rápido crescimento, que produz uma carne com pouquíssima gordura e que, por isso mesmo, tem uma melhor conversão alimentar.

O mesmo se fez com o frango e com os caprinos. Estamos a fazer o nosso próprio caminho. A África, em questão de genética animal, eu ando pelo continente e vejo tanta riqueza… fotografei na Etiópia, há dois dias, na porta da embaixada brasileira, um rebanho de ovelhas, com cauda grossa, que é gordura acumulada, que é gordura mole e de fácil mobilização como estratégia de sobrevivência no período da seca, quando a fêmea precisa de amamentar os filhotes. Sei de uma raça de cabras anãs, no oeste africano, que não sei se existe outra mais prolífica. Até hoje só conseguir ver fêmeas prenhas, parece que lhes basta sonhar com o bode para emprenharem. O importante é pegar-se nessas vantagens de animais que aceitam viver nessas condições, dar-lhes mais comida e ver como respondem, em vez de irmos a correr buscar raças de outras paragens.

Portanto, o início é organizar e aproveitar o que se tem?

Exactamente. Não podemos culpar o que temos antes de lhes darmos condições para que nos digam quem são eles. Essa é a nossa filosofia de trabalho. E acho que esse é o ponto de partida para encontrarmos o nosso próprio caminho. Daí que o mais importante de tudo é a capacitação dos nossos técnicos. Por isso também é importante a cooperação universitária. Eu já escolhi a minha alma-matter, a universidade de Viçosa, no Brasil, para se juntar a Faculdade de Ciências Agrárias em Angola…

Como é que se passa esse conhecimento universitário a pessoas do campo, maioritariamente analfabetas?

Isso, teremos de trabalhar em conjunto. A estratégia tem de ser vossa. Temos um projecto no Senegal e há uns meses, reunidos com um grupo de produtores de carne, vendedores, trabalhadores do campo, e detentores de frigoríficos, acabamos por descobrir que quase setenta por cento deles não falava francês, a língua oficial, e oitenta por cento não sabia escrever. Aí entra o técnico local. Como ajudar esse indivíduo e que material didáctico lhe podemos fornecer, como preparar os dias de campo com demonstrações práticas para eles verem e acreditarem? Só os técnicos locais, devidamente treinados, é que podem desempenhar este trabalho.

E a ida a Angola?

Será em Abril, estamos a preparar uma série de cursos com o apoio da Odebrecht…

Virados para a área agrária ou para a pecuária?

Para já, iremos começar pela pecuária. Mas já estivemos com a Odebrecht em Kapanda e vimos várias possibilidades, principalmente para os nossos feijões e para o nosso arroz de altíssima produtividade. Não é o arroz perfumado, mas primeiro temos de combater a fome e depois pensar no luxo. Temos arroz que chega às dez toneladas, de potencial, por hectare, ou doze.

Não o perfumado de três toneladas.

Agora queremos ver a questão da soja, o milho consorciado ao capim africano para melhorar as condições do solo para que no ano seguinte se obtenha uma boa colheita, apesar dos dias de seca e sol. O terreno deve ser preparado e bem coberto para essa agricultura tropical que precisamos descobrir. O solo tropical não pode ficar descoberto, temos de usar o sol como aliado. O sol é para fazer fotossíntese, criar condições para produzir mais biomassa, mas não o sol a incidir directamente sobre o solo porque vai queimar a nossa matéria orgânica e vai trabalhar contra a nossa agricultura. Hoje sabemos como fazê-lo.

A agricultura tem que dar lucro

Quem deve ser agricultor, o que tem dinheiro ou o que tem alma?

Essa questão é também muitíssimo importante. E depende da política do país. No Brasil tivemos, no passado, médicos, dentistas, profissionais liberais, de uma forma geral, que tinham um lucro na sua actividade na cidade (não questiono os lucros), mas para um médico ir compara hoje um terreno no campo, onde já não há a especulação do passado, ele tem de ser altamente eficiente. E ele não pode estar presente numa palestra sobre pecuária no momento em que tem de estar na clínica.

A sociedade investiu na sua formação como médico, o seu papel principal na sociedade é como médico, ele teria de estar a actualizarse na medicina e não na pecuária.

Hoje já é mais difícil, porque no passado ele conseguiria ter lucros pela especulação sobre o valor da terra, na compra de bezerro magro barato e a entrega de bezerro gordo caro … mas isso acabou, pela com petitividade. Não adianta fazer isso empregando um assalariado como capataz da fazenda, quando o seu vizinho é altamente profissional, um agricultor, e está eficiente no cultivo de capim e da biomassa para alimentar o seu rebanho de forma barata e aniquilar com o empresário que chegou lá na perspectiva de fim-de-semana.

Mas pode haver um empresário com recursos que contrate um técnico, mas mesmo assim terá de colocar na cabeça que tem de ser altamente eficiente se quiser ganhar dinheiro no meio rural.

A agricultura ainda pode dar lucro?

A agricultura tem que dar lucro.

Senão, não faz sentido. Só que o empresário vai ter de investir em mão-de-obra e capacitar o seu pessoal. Não adianta pagar o salário mínimo porque aí terá um retorno mínimo. Tem de capacitar o pessoal, fazê-los entender que são parte do processo e não deixá-los alienados do processo. O trabalhador deve ser formado, motivado e deve sentir-se parte do processo porque no fim do mês será bem remunerado.

A EMBRAPA é uma empresa do Estado, produz informação e guias para os agricultores brasileiros, ajudou na revolução agrária e pecuária no Brasil. Pode-se fazer uma relação do seu papel com a democracia, ou seja, agricultura e democracia?

Agricultura é democracia. Não há como considerar Nação (em que o povo participa no seu próprio destino) um país que não possa alimentar o seu próprio povo. Essa é a base da nossa luta. Acho que África tem condições naturais para que cada uma das nações possa alimentar os seus próprios povos. Um povo bem alimentado é um povo feliz, um povo feliz pode pensar no seu destino, pode pensar na educação dos seus filhos, pode orientá-los no futuro a tomar as decisões mais adequadas. Democracia com fome não existe

José Kaliengue - 11 de Fevereiro de 2011
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