sexta-feira, 25 de março de 2011

MATA E ESFOLA

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ANDRÉ MACEDO – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

O País atravessa momentos esquizofrénicos. Temos um primeiro-ministro demissionário que decide tudo sozinho e só apresenta factos consumados. E temos um candidato a primeiro-ministro que, pelo contrário, mantém o País numa angústia delirante porque, sem qualquer necessidade, não controla a urgência de revelar prematuramente (e ao mundo inteiro) medidas de austeridade a conta-contas.

Resumindo: Sócrates esconde astutamente o jogo para ganhar vantagem política, tempo de vida e talvez alguns votos; enquanto Passos Coelho vive num permanente síndrome pré-eleitoral que o leva a apresentar medidas aos soluços - nenhuma delas positiva no imediato para as pessoas - e sem qualquer enquadramento estrutural e programático. Assim, dificilmente fará muitos amigos até às eleições. Ontem, por exemplo, o líder do PSD assumiu que pretende aumentar o IVA em mais dois pontos percentuais (até 25%). O IVA não é um imposto qualquer, atinge todas as pessoas que se atravessam no seu caminho, especialmente quem mais gasta. Neste sentido, é um imposto progressivo (o que é bom), porque penaliza quem mais consome (os mais ricos). Por outro lado, é um imposto violento para as pessoas com rendimentos mais baixos, já que estes não têm escapatória - alguns produtos têm mesmo de comprar -, o que o torna cruelmente regressivo (na prática, penaliza os mais pobres). Claro, se houver um cabaz de produtos essenciais blindado ao aumento do IVA e com uma taxa de imposto mais baixa (5%, 6%), esta dor é menor, mas fora deste perímetro muito limitado, os mais pobres ficam expostos ao pior.

Acresce que, com a economia mergulhada numa recessão em L (de longa), o efeito depressivo no consumo é mais um prego no caixão. É por isso que Passos tem de aprender depressa a gerir o calendário e o que diz, como diz e quando o diz. Não se trata de o omitir e mentir - disso o País está muito, demasiado cansado. Mas de apresentar um programa com compromissos globais em que nem tudo pode ser mau. Porque se for esse o caso, se forem só mais cortes sem fim à vista, então o PSD não é boa alternativa.

P. S. - O clima na Europa está de cortar à faca. As declarações de ontem de Angela Merkel sobre Portugal, no Bundestag, são claras: a tolerância germânica (justa mas também injusta) está a milímetros de se esgotar. Isto vai doer.
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