quarta-feira, 6 de abril de 2011

Portugal: PS numa "tenaz" entre possíveis acordos à direita e à esquerda

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Nuno Sá Lourenço – Público – 06 abril 2011

Correntes da esquerda elogiam possível entendimento

Um desafio ao PS. É assim que pode ser visto o diálogo que BE e PCP iniciaram a semana passada sobre a situação do país. Cientistas políticos assinalam a forma como o PS se viu cercado pelos partidos à sua direita e à sua esquerda. Uma iniciativa que já era discutida há algumas semanas nos fóruns electrónicos e que foi, por isso, elogiada.

Ainda assim, nas direcções dos dois partidos a prudência é a palavra de ordem. O secretário-geral do PCP voltou ontem a comentar a aproximação ao BE para a classificar como "um processo" em curso. Sem querer valorizar a reunião agendada para a próxima sexta-feira, Jerónimo de Sousa voltou a manifestar a disponibilidade para "dialogar com muitos portugueses que não se esgotam no PCP, na CDU e no Bloco".

Depois de separar as águas, Jerónimo admitiu o estreitar de estratégias no combate parlamentar após as próximas eleições legislativas antecipadas. "Cada qual correrá na sua própria bicicleta. Mas isto não invalida esse relacionamento e a procura de convergência na próxima Assembleia da República, como já aconteceu naturalmente em muitas situações."

Mas quem estuda ciência política, reconhece na iniciativa um desafio ao PS. O politólogo António Costa Pinto afirma que, com esta aproximação, se desenha um "efeito de tenaz ao PS": "O PS terá uma aliança à sua esquerda e uma coligação à sua direita." André Freire também identifica nestas movimentações "um passo para pressionar o PS para entendimentos no futuro".

Entre as motivações para esta aproximação, há uma que ressalta entre os politólogos contactados pelo PÚBLICO. André Freire lembrou que "a iniciativa partiu do BE". "O BE é um partido mais vulnerável do que o PCP se houver pressão para o voto útil", diz. Já António Costa Pinto identifica assim um "temor" que resulta do facto de o BE "ser constituído por faixas de um eleitorado que já votou PS". André Freire não descarta o peso que pode ter tido a consciencialização no eleitorado da esquerda de que "é preciso que haja entendimento". Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Fidalgo, da Associação Renovação Comunista, classifica as notícias como um "sinal muito interessante". Também acredita que estas movimentações resultam da "pressão que a sociedade está a fazer". Recentemente, uma das figuras deste movimento, o ex-dirigente do PCP Carlos de Brito, havia apelado ao diálogo.

O debate sobre um entendimento entre os dois partidos já se fazia na Internet alguns dias antes de se saber da proposta de Francisco Louçã, contida na moção à convenção do BE.

Antes disso, já circulava uma petição apelidada Por Uma Alternativa de Esquerda, onde se apelava ao PCP e ao BE "para que se encontrem com o objectivo único de debater alternativas de Governo à esquerda". Até ontem, já haviam subscrito a petição mais de 800 pessoas.

A petição foi promovida por um conjunto de pessoas ligadas ao BE. Gil Garcia, da direcção da corrente interna do BE Ruptura/FER, confirmou ao PÚBLICO estar "por detrás disso", juntamente com João Delgado e Isabel Faria.

A Ruptura/FER manifestou satisfação pela marcação da reunião e, num comunicado, sugeriu a realização de um congresso das esquerdas para "preparar uma plataforma unitária aberta a outros sectores" e capaz de preparar "um programa mínimo de Governo". João Delgado e Isabel Faria demitiram-se há meses dos seus cargos no partido em consequência da divergência assumida em relação a algumas decisões da direcção. A saber, o apoio a Manuel Alegre nas presidenciais e a moção de censura ao Governo sem que a mesa nacional tivesse sido consultada.

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