domingo, 19 de setembro de 2010

20% dos reclusos em Portugal são estrangeiros, maioria é... lusófona

.

ORLANDO CASTRO - NOTÍCIAS LUSÓFONAS – 18 setembro 2010

Entre um branco e um negro e até prova em contrário o negro é (sempre) suspeito

Cerca de 20 por cento dos reclusos em Portugal são estrangeiros, a maioria oriundos de Cabo Verde, Brasil e Guiné-Bissau, segundo dados da Direção Geral dos Serviços Prisionais (DGSP). Ao que parece ser negro (ou não ser – pelo menos – branco) é factor de suspeição... até prova em contrário.

Segundo as estatísticas da DGSP, referentes ao segundo trimestre de 2010, estão detidos nos estabelecimentos prisionais portugueses 2351 cidadãos estrangeiros, representando 20,4 por cento da população prisional.

A maioria dos reclusos estrangeiros são oriundos de Cabo Verde (727), seguindo-se Brasil (298), Guiné-Bissau (229), Angola (192) e Roménia (118). A quase totalidade dos reclusos estrangeiros são homens (2168) com mais de 21 anos. Apenas 183 são mulheres a cumprir penas em Portugal.

As estatísticas da DGSP mostram também que a maioria dos presos estrangeiros está a cumprir uma pena de três a seis anos. Segundo o organismo, um terço dos reclusos estrangeiros está em prisão preventiva.

O número de cidadãos estrangeiros nas prisões portugueses não tem sofrido grandes alterações nos últimos anos, mostrando os dados que têm rondado os dois mil.

Segundo a Direção Geral dos Serviços Prisionais, o total de reclusos em Portugal é de 11 535, dos quais 10 923 são homens e 612 são mulheres.

Em relação aos últimos quatro anos, foi em 2006 que os estabelecimentos prisionais albergaram o maior número de presos, 12 636. A partir dessa data, tem-se mantido na casa dos 11 mil a população prisional.

Estes dados permitem várias ilações. Desde logo, embora isso não esteja visível nestas estatíticas, continua a ser verdade que em Portugal africano é sinónimo de negro e de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza.

Se calhar esta não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admitamos que seja uma simbiose das duas.

De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, confundir a vida nas esquinas com as esquinas da vida.

Estamos fartos de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estamos fartos dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.

Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.

Curiosamente, a dita Imprensa de referência em Portugal só há pouco tempo descobriu (mais vale tarde...) que, por exemplo, há africanos que são brancos. Levou tempo...

Por alguma razão Portugal está na cauda da Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que muitos dos países lusófonos de África (por exemplo) estejam (ainda estejam) no estado em que se encontram.

Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista. E se não é... às vezes parece.

Deixem-nos recordar o angolano Teta Lando: “Se você é branco isso não interessa a ninguém, se você é mulato isso não interessa a ninguém, se você é negro isso não interessa a ninguém. Mas o que interessa é sua vontade de fazer uma Angola melhor, uma Angola verdadeiramente livre,uma Angola independente”.
.

Sem comentários: