sábado, 18 de setembro de 2010

Sobre conversa com Merkel: Ministros alemão e francês desmentem Sarkozy

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Sarkozy, le président xénophobe et raciste

LUÍS NAVES – DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 18 setembro 2010

Westerwelle fala em mal-entendido e Kouchner diz que não ouviu chanceler dizer que ia desmantelar acampamentos de ciganos

O Presidente francês foi ontem desmentido pelo chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, mas também pelo ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner. O episódio constitui um novo embaraço para Nicolas Sarkozy e a sua política de expulsão de ciganos balcânicos, os Roma, assunto que envenenou o Conselho Europeu que se realizou na quinta-feira, em Bruxelas.

No final da cimeira, Sarkozy tentou defender a sua política, afirmando que a chanceler alemã, Angela Merkel, lhe tinha dito que iria desmantelar acampamentos ilegais nas próximas semanas. A afirmação foi desmentida de imediato pelo porta-voz da chanceler, mas ontem de forma ainda mais clara pelo ministro dos negócios estrangeiros alemão, Guido Westerwelle.

"Suponho que se trata de um mal-entendido", disse o ministro, ao negar que Merkel tivesse feito aquela afirmação. "Ela contou-me pessoalmente como a discussão ocorrera." Além disso, acrescentou Westerwelle, um eventual desmantelamento de acampamentos "seria contrário à Constituição alemã e não existe qualquer reflexão sobre o tema".

Entretanto, o chefe da diplomacia da França, Bernard Kouchner, confessou ontem numa entrevista à rádio Europe 1 que não ouviu nenhum comentário de Merkel sobre a "evacuação" de campos de ciganos, nem uma conversa sobre o tema entre Sarkozy e Merkel. "O Presidente da República não me disse nada especificamente sobre essas declarações", acrescentou o diplomata, que admitiu a possibilidade de ter existido uma conversa privada entre os dois estadistas.

A polémica não desaparece e o certo é que a questão dos ciganos estragou o clima no Conselho Europeu, que se deveria ter debruçado sobre questões económicas e acabou por ser marcado por uma discussão entre o presidente da França e o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso (ver mais informação na pág. 12).

A imprensa europeia comentava ontem este episódio, com críticas duras a Sarkozy. Os jornais alemães, em particular, temem o que classificam de "deriva populista" do chefe do Estado francês. Sobre a discussão entre Sarkozy e Barroso, o MNE francês desvalorizou, explicando que já houve no passado trocas de palavras azedas.

Apesar de tudo, as discussões foram sempre entre líderes e nunca entre dirigentes nacionais e comunitários. Esse facto não é muito comentado pela imprensa europeia que ontem se dividia na interpretação da cimeira, com alguns títulos (Financial Times) a aceitarem a interferência comunitária na questão das expulsões e outros (Süddeutsche Zeitung ou The Independent) a condenarem o facto da UE tocar em "susceptibilidades nacionais". O diário El Mundo tentou simplificar, lembrando em editorial que "Bruxelas terá de responder se a França violou a lei comunitária sobre livre circulação. E, se o fez, aplicar a sanção fora das pressões políticas".

Esta, no fundo, é a questão. E, num plano político, será importante analisar os estragos que este episódio pode ter criado no equilíbrio institucional da UE e na solidez do eixo Paris-Berlim, que já antes do "mal-entendido" de Sarkozy vivia dias conturbados.
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