quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DIREITA x ESQUERDA – ASSUNTO ENCERRADO?

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RUDOLFO MOTTA LIMA * – DIRETO DA REDAÇÃO

No clima das eleições, escolho como assunto do nosso encontro aqui no DR um tema que acredito venha bem a propósito. Estará realmente extinta, como instrumento de orientação na política, a clássica divisão entre esquerda e direita?

As palavras “direita” e “esquerda” , sabemos, surgiram na ambiência da Revolução Francesa e continuam a fazer parte das crônicas políticas nos dias de hoje, mas há severos críticos que lhes negam validade, argumentando que a complexidade que as sociedades atuais revelam não permite mais essa redução , tida como maniqueísta e, hoje, sem razão de ser. Direita e esquerda não mais existiriam como tais porque estariam superadas as diferenças que justificariam os termos, tendo como marco simbólico dessa superação, entre outros, a queda do Muro de Berlin.

Não sou um especialista em política. Minhas opiniões aqui são a de um ser político, não de um especialista. Vivencio a política como um cidadão atento e é nessa condição que, sem excessivas preocupações teóricas e usando o senso comum e, por que não dizer, o sentimento, coloco-me ao lado dos que não acham que essa distinção esteja sepultada, porque ela talvez seja da própria essência da política, transcendendo o ocasional e tendo a ver com algo que persegue o homem desde os seus inícios.

Creio que a caracterização da “esquerda” e da “direita” reflete a oposição, tão velha quanto o mundo, entre os que se empenham primordialmente pela igualdade entre os homens – porque acreditam que ela tem a ver com um problema social – e os que consideram a desigualdade uma coisa natural, intrínseca à essência da comunidade humana e, portanto, algo pelo qual não adianta lutar.

É evidente que essa dicotomia não pode ser vista segundo radicalismos que excluam posições intermediárias, tendentes a obter um espaço entre esses duas posturas. Isso está demonstrado em diversos momentos em que se busca a carreira solo de uma “terceira via” política e explica, também, diversas alianças, tidas até como surpreendentes, que se fazem à esquerda ou à direita.

Contudo, correndo conscientemente o risco da simplificação do real, penso que será de esquerda aquele que, por ideias e ações, propugna pela redução das desigualdades sociais e defende políticas que pretendam dar mais igualdade aos desiguais, aos desprovidos, como forma de permitir aos seres humanos em geral o bem-estar e a elevação da autoestima. De direita será o que a isso não se propõe, por não acreditar na superação das desigualdades por meio de ações sociais de redistribuição e por considerar mais efetivo (ou confortável para seus interesses) acreditar na liberdade de iniciativa individual.

Em nosso país, ainda que se pretenda escamotear a presença desses segmentos na política, eles existem e dão sequência aos fortes embates em torno do poder que, ao longo dos anos, aqui vêm sendo travados. Creio que, hoje, as correntes de esquerda, no Brasil, são as que defendem uma maior participação do Estado na busca das soluções para a desigualdade, e políticas que levem à inclusão social. As da direita, confiando mais nas forças de mercado para que a correção de eventuais desníveis sociais venha a se fazer, acreditam na redistribuição dos ganhos derivados do esforço individual

Aqui, uma observação: é sempre bom evitar considerações de ordem moral sobre as duas posições. Dizer-se, por exemplo, que a direita é composta por pessoas de caráter duvidoso ou apenas interessadas na exploração do próximo é repetir , no sentido contrário, a postura dos que, no passado, diziam que os comunistas comiam criancinhas... Afirmar-se que a esquerda é reduto da virtude e da perfeição, pura e simplesmente, é esquecer a complexidade da teia dos indivíduos que a compõem, nem sempre executores modelares do bem.

De qualquer forma, a esquerda e a direita permanecerão existindo enquanto perdurarem, no mundo, as desiguldades entre os homens. Apregoar a sua extinção “por não ter razão de ser” é condenar a Humanidade à convivência passiva, omissa, indiferente, com iniquidades e perversidades sociais. E, me desculpem, isso acaba sendo uma posição da direita...

*Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
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