quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Greve geral na Espanha: PUJANTE AVISO DE DESCONTENTAMENTO SOCIAL

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PRENSA LATINA – 30 setembro 2010

Madri, 30 set (Prensa Latina) A greve geral contra os planos de ajuste do governo espanhol pôs hoje sobre a mesa uma potente mensagem: o crescente descontentamento social daqueles que estão sendo sancionados por uma crise que não provocaram.

A Espanha estremeceu ontem pela primeira greve nacional que os dois principais sindicatos ibéricos, Comissões Operárias (CO) e a União Geral de Trabalhadores (UGT), realizam contra as políticas econômicas de José Luis Rodríguez Zapatero.

Motivos mais que suficientes para um protesto pelo duro corte da despesa pública, uma reforma trabalhista que facilita e barateia a demissão, redução de salários, congelamento de pensões e um projetado plano para estender a idade de aposentadoria a 67 anos.

Contra a maioria dos prognósticos, a sétima greve geral da democracia espanhola não terminou com a derrota do sindicalismo, pese que quase todos as manchetes da "grande imprensa" a julgam nesta quinta-feira como um fracasso.

Os desqualificativos dos meios de comunicação (de 10 jornais só um reconheceu o impacto da mobilização) não tomaram por assombro os máximos representantes das duas centrais operárias.

Em nada me surpreendem essas classificações, respondeu hoje de maneira contundente o secretário geral de CO, Ignacio Fernández, a uma pergunta da apresentadora do programa "Os Cafés da manhã", da Televisão Espanhola.

Imagino o que dirão amanhã as grandes manchetes dos meios, porém mais cedo ou tarde reconhecerão este clamor popular, antecipou ontem à noite Fernández ao fechamento de uma gigantesca marcha em Madri, como destaque da jornada de reivindicações.

Seu homólogo da UGT respaldou esse ponto de vista quando denunciou que "temos sofrido uma campanha de descrédito obscena".

"Pararam cerca de 10 milhões de pessoas", ratificou Méndez depois de assegurar que independentemente da visão quantitativa, há uma qualitativa, justo a excluída de quase todas as análises jornalísticas, mais inclinados à versão da patronal, que cifrou a participação em pouco confiável cinco por cento.

À margem das guerras de cifras e de quem foi ou não trabalhar, a mobilização dos trabalhadores ficou patente nas multitudinárias manifestações que sacudiram todas as grandes cidades deste país, opinou o jornal Público.

Centenas de milhares de pessoas se reuniram em uma centena de cidades como Madri, Barcelona, Valencia e Andaluzia, segundo cálculos sindicais.

Um importante aviso à administração de Rodríguez Zapatero que, na opinião de Público, terá agora que decidir se o considera justificativa suficiente para dar um passo atrás em uma controvertida reforma trabalhista que precariza o emprego.

O movimento sindical tem posto o dedo na ferida ao denunciar que tanto na Espanha como no resto da Europa, os governos de turno tentam desvirtuar o sucesso dos protestos para esconder o progressivo mal-estar frente aos planos de austeridade.

Medidas que só nesta nação submergem no desemprego mais de quatro milhões e meio de assalariados, o dobro da taxa da União Europeia (UE).

O mal-estar, portanto, tem calado nos últimos meses em muitos estados do bloco comunitário, com levantamentos em Atenas, Roma, Paris, Riga, Varsóvia, Praga, Nicosia e a de ontem em Bruxelas, o mesmíssimo coração das instituições da UE.

O sindicalismo espanhol convidou o governo a tomar nota do alcance da greve geral que paralisou grande parte do país e lhe exigiu uma retificação de sua política econômica de corte neoliberal.Após acusar o governo de Rodríguez Zapatero de converter em culpado as vítimas da crise financeira, criticou que seu partido, o Socialista Operário Espanhol, tenha aceitado de maneira submissa a chantagem dos mercados financeiros.

Mas a mensagem mais categórica das centrais operárias foi que unicamente negociarão com o poder central na condição da retificação de suas políticas antissociais, aprovadas sob pressão dos organismos multilaterais de crédito.

Tão de moda por estes tempos, os programas de austeridade, em lugar de acelerar a recuperação do emprego e da economia, como sustentam seus promotores, castigarão os setores mais desfavorecidos, adverte o movimento sindical europeu.

Ou o que é pior, alargarão a brecha entre ricos e pobres em um continente que se apreciava de seus altos índices de bem-estar e olhava esse fenômeno como algo privativo do chamado Terceiro Mundo.

asg/edu/es
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