quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Maputo e Matola: Manifestações acabam em vandalismo


NOTÍCIAS - Moçambique

AS cidades de Maputo e Matola viveram ontem um ambiente de perturbação da ordem quando grupos de pessoas, basicamente jovens e adolescentes, entre eles gente de conduta duvidosa e exércitos de desempregados, protagonizaram tumultos que degeneraram em mortes e violência, saque a estabelecimentos comerciais, destruição de viaturas de transporte pessoal e colectivo, para além de danos profundos no asfalto de inúmeras vias públicas com o queimar de pneus. Tudo isto era a pretexto de uma manifestação, convocada via sms por gente anónima, contra a subida do custo de vida em que de repente o país se viu mergulhado ditado pela conjectura económica mundial.

Os levantamentos que começaram às primeiras horas da manhã, incidindo nas zonas residenciais da periferia da capital do país e da Matola, caracterizaram-se ainda pelo erguer de barricadas, com recurso a troncos, anilhas, contentores de lixo, pneus em chamas e o estilhaçar de montras, seguido do saque de géneros alimentícios e bens de uso.

Como consequência imediata, segundo dados da Polícia, perderam a vida quatro pessoas, entre elas um menor que acabava de sair da escola, feridas outras 27, duas das quais membros da PRM.

Dada a alteração da ordem pública, a meio da manhã a maioria dos sectores de actividade viu-se obrigada a fechar as portas, dispensando os seus trabalhadores, o mesmo acontecendo com os estabelecimentos de ensino.

Os voos das companhias aéreas, como a SAA e a TAP que deviam deixar Maputo, acabaram cancelados para uma melhor oportunidade, enquanto os autocarros públicos, nomeadamente os dos TPM e os “chapas”, eram parqueados, deixando a capital literalmente paralisada.
A Polícia que estava já em estado de alerta entrou em acção logrando, em vários momentos, desencorajar a consumação de mais actos de vandalismo, pilhagem e saque de bens públicos e privados, designadamente dependências bancárias e armazéns de venda de produtos alimentares. Neste aspecto há a destacar, só para citar alguns casos, a vandalização dos armazéns da Delta Trading, na Praça dos Combatentes, 25 de Junho e Benfica, Sasseka na Machava e a dependência do Millennium bim na Avenida do Trabalho.

A intervenção da Polícia que ontem apareceu reforçada, nas suas diversas ramificações, para além das mensagens de apelo à calma e ao respeito pelo bem alheio, teve que recorrer ao uso de balas de borracha e emissões de gás lacrimogéneo, quando a violência assim o impôs, num conjunto de medidas que tiveram de ser tomadas ao longo de todo o dia. Mesmo assim, os diversos focos de instabilidade social que se repartiam pelo grande Maputo e Matola só viriam a ser controlados à medida que o tempo ia passando. Foi assim que as tentativas que chegaram a ser ensaiadas por alguns manifestantes de invadir o centro da cidade redundaram em fracasso ao serem repelidas pelas forças policiais.

Para lá das mortes e destruição de bens, um outro elemento de destaque está directamente ligado ao sofrimento de milhares de trabalhadores e estudantes, que tendo se deslocado de ”chapa” às primeiras horas da manhã aos seus postos de trabalho, no regresso à casa tiveram que palmilhar dezenas de quilómetros, dada a ausência de transporte que depois se verificou. É que cerca das oito horas os transportadores viram-se na contingência de retirar os autocarros da circulação, porque não só estavam expostos à destruição, como as vias estavam bloqueadas, inviabilizando a circulação. Apesar destas medidas, a Direcção dos TPM disse terem sido danificadas seis autocarros da sua já exígua frota.

Enquanto isso, os barcos da Transmarítima que ligam Maputo a Matola e vice-versa, regra geral, de pouca procura, viraram ontem a tábua de salvação para alguns matolenses, que neles voltaram à casa. A demanda foi tal que se chegou a formar uma fila que se prolongou até próximo da Escola Náutica.

Os manifestantes não escolhiam os seus alvos nem sequer pouparam aos meios de transporte da comunicação social, apedrejando as respectivas viaturas, numa altura em que os repórteres se encontravam em pleno exercício da sua actividade. Com efeito, uma viatura do “Notícias” e outra da TVM ficaram sem os vidros para-brisas depois de terem sido atingidas por pedras arremessadas pelos manifestantes.

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